Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.
Vender excedentes de energia elétrica produzidos por co-geração está virando um negócio cada vez mais atraente. Atualmente, 40 usinas do estado de São Paulo fornecem 158 megawatts gerados pela queima do bagaço para a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL). Em todo o país o setor poderia gerar até 12 000 megawatts, o equivalente a uma Itaipu.
Em abril deste ano, o governo criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, que obriga as distribuidoras a comprar 3 300 megawatts de energias alternativas. Um terço desse total deve ser de biomassa. Também foi definido um preço mínimo, equivalente a 80% do preço médio nacional, tido como satisfatório para o setor. Caso nenhuma distribuidora se interesse, a Eletrobrás compra a energia. "A venda de energia permite aumentar o faturamento das usinas em até 10%", diz Jairo Balbo, diretor da Usina Santo Antônio, de Sertãozinho, no interior paulista.
Balbo investiu 23 milhões de reais -- com financiamento do BNDES -- para gerar 16 megawatts para a CPFL. Fez um contrato que renderá 9 milhões de reais por ano até 2014. Nos últimos 12 meses, o BNDES aprovou financiamento para 15 projetos de co-geração. "A abertura do negócio da energia induz à modernização das caldeiras", diz Maurílio Biaggi Filho,da Usina Santa Elisa. Segundo ele, a maior parte das máquinas é dos anos 80, da época do Proálcool. Tem mais de 20 anos, em média, e baixa eficiência. Com caldeiras de alta eficiência, o rendimento na geração de energia aumenta. Além disso, quase todas as usinas aproveitam só o bagaço e desperdiçam a palha da cana, queimada na lavoura para facilitar a colheita. As leis ambientais interditarão as queimadas -- que geram poluição com a fuligem -- a partir de 2008. "A queima da palha é o nosso calcanhar-de-aquiles", diz Biaggi. "Já estamos usando palha nas caldeiras para gerar energia. Daqui a pouco as queimadas ficarão antieconômicas."
Há um mar renovável de cana disponível no interior do Brasil. "Se o país não conseguir aumentar a participação da biomassa na sua matriz energética, pode dar um tiro na cabeça", afirma Jaime Buarque de Holanda, diretor da ONG Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE). Descontando-se o custo de manuseio, o bagaço e a palha da cana oferecem energia nobre a custo zero. "A safra da cana, de maio a novembro no centro-sul, é um rio fluindo no período de seca das hidrelétricas", diz Buarque de Holanda. O negócio, segundo ele, mereceria o Prêmio Nobel de Economia. "É a conversão do lixo em ouro."