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Disputa pela herança multibilionária da Fiat envolve briga de herdeiros e obras de Picasso

Na disputa estão bilhões de euros em ativos, incluindo obras de arte de Monet e Picasso, e uma participação na controladora do conglomerado Exor

Gianni Agnelli durante assinatura de acordo nos EUA em 1985: clã bilionário passa por briga ferrenha. (Santi Visalli/Getty Images/Divulgação)
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 4 de março de 2024 às 10h44.

Última atualização em 4 de março de 2024 às 15h40.

Há cinco anos, membros da dinastia empresarial mais famosa da Itália se reuniram nos arredores de Turim, após o funeral de Marella Agnelli, viúva do grande industrial do século XX, Gianni Agnelli, empresário que reinventou a Fiat.

O momento de tristeza e lamentações apenas escancarou a briga ferrenha pela qual passa o clã bilionário.

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Margherita, a única filha ainda viva do casal Agnelli, entrou em conflito com seu filho John Elkann pela propriedade multibilionária de seu pai.

Segundo informações do Financial Times, a rixa voltou aos holofotes no mês passado, quando autoridades invadiram a casa e os escritórios de Elkann, chefe dos negócios da família e presidente da montadora Stellantis, após uma queixa de sua mãe de que ele havia ajudado Marella Agnelli a fugir do fisco italiano.

"Margherita Agnelli vem perseguindo seus três filhos mais velhos e seus pais nos tribunais há mais de 20 anos", disseram os advogados de Elkann após as operações.

A disputa de 20 anos colocou Margherita contra seus três filhos mais velhos em uma briga que ela s diz estar travando pelo bem dos cinco filhos que teve com seu segundo marido.

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Na disputa estão bilhões de euros em ativos, incluindo obras de arte de Monet e Picasso, e uma participação na Dicembre, controladora do conglomerado Exor, cujo valor das participações cresceu 2.700%, chegando a 33 bilhões de euros (US$ 55 bilhões) sob o comando de Elkann, desde a morte de seu avô, há mais de duas décadas.

Além da Fiat, a Exor detém participações importantes em empresas que vão desde a fabricante de carros de luxo Ferrari, o time Juventus, a fabricante holandesa de equipamentos médicos Philips e a The Economist.

Quando Gianni Agnelli morreu em 2003, sua viúva e sua filha herdaram, cada uma, uma participação de 37,5% na Dicembre, além de ativos de centenas de milhões de euros, desde arte até propriedades na Itália e no exterior. Elkann, o sucessor ungido por seu avô, já havia recebido 25% da empresa.

No ano seguinte, quando a sobrevivência da Fiat, que estava endividada, estava em dúvida, Margherita decidiu que queria sair dos negócios da família e concordou com um pagamento de 1,2 bilhão de euros em troca da transferência de sua participação na Dicembre para sua mãe e da renúncia a quaisquer direitos sobre seu patrimônio.

Segundo o FT, após esse acordo, feito de acordo com a legislação suíça, já que Marella e Margherita moravam na Suíça na época, a avó vendeu parte da Dicembre para os irmãos mais novos de Elkann, Lapo e Ginevra, que agora possuem 20% cada um, e vendeu o restante de sua participação para John ao longo dos anos.

Porém, logo após o acordo, Margherita mudou de ideia - motivada, segundo ela, pela descoberta de que o patrimônio de seu pai incluía centenas de milhões de euros que haviam sido escondidos no exterior, uma parte da qual ela alegava ter direito. Em 2010, ela perdeu uma ação judicial contra o acordo de 2004, mas isso não impediu que a briga familiar continuasse.

John Elkann agora possui 60% da Dicembre, que, em última instância, controla a Exor. Maior acionista da Stellantis, a Exor deverá distribuir cerca de 700 milhões de euros em dividendos depois que o grupo de automóveis divulgou no mês passado lucros anuais recordes de 18,6 bilhões de euros.

Um dos principais pontos de discórdia agora é onde Marella Agnelli viveu seus últimos anos. A equipe jurídica de Margherita argumentou que ela residia na Itália e, portanto, seu testamento deveria ter sido regulado pela lei italiana, segundo a qual os filhos sempre têm direito a uma parte do patrimônio dos pais.

De acordo especialistas jurídicos independentes consultados pelo FT, se a denúncia de fraude fiscal que desencadeou as batidas policias deste mês forem bem sucedidas, e os promotores concluírem que Marella estava morando na Itália antes de morrer, e não na Suíça, como ela alegou, isso poderá ajudar a equipe jurídica de Margherita a argumentar que a lei italiana deve reger a disputa sobre o testamento de sua mãe.

Os membros da família esperavam que as diferenças pudessem ser resolvidas, com Ginevra Elkann atuando como interlocutora entre sua avó, sua mãe e seus irmãos. Mas essas esperanças desapareceram na recepção do funeral de Marella, onde Margherita e John tiveram mais uma briga, de acordo com várias pessoas que ali estavam.

Com sete processos judiciais em andamento que levarão anos para serem concluídos, amigos e parentes dizem que as chances de um acordo são mínimas e que é "improvável que a família encontre a paz" em breve.

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