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Disciplina para não ser escravo do mercado

André Jakurski, fundador da gestora de recursos carioca JGP, fala sobre as mudanças que ocorreram na economia brasileira nas últimas décadas.

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h27.

Em entrevista a EXAME, André Jakurski, fundador da gestora de recursos carioca JGP e referência no mercado financeiro nacional, fala sobre as mudanças que ocorreram na economia brasileira nas últimas décadas. Pai de cinco filhos, casado pela segunda vez, Jakurski diz que operadores globais como ele precisam estar atentos aos mercados de diferentes países, mas sem ficar escravo deles.

EXAME - O que mudou da época em que você era sócio do Pactual, nos anos 80 e início dos 90, para cá?

JAKURSKI - A economia se tornou cada vez mais global. Agora, são as forças extra-país que movem boa parte dos investimentos. A influência de outros países sobre o Brasil nunca foi tão relevante - e isso é verdade na macroeconomia e também no mundo empresarial. É impossível avaliar os resultados de siderúrgica brasileira sem considerar o comportamento da demanda chinesa por aço. Há dez ou 20 anos, o que fazia a grande diferença aqui era a política local. Sob esse aspecto, tínhamos uma vantagem em relação a nossos concorrentes estrangeiros, que era conhecer muito melhor a política nacional - e, portanto, ganhar dinheiro com isso. A desvantagem era que os mercados eram desconectados do que ocorria lá fora. As notícias não vinham, nem os recursos.

EXAME - Quando esse cenário começou a mudar?

JAKURSKI - Em torno de 1995. O estopim foi o surgimento da internet, que provocou uma revolução nas finanças. A transformação começou com o avanço das telecomunicações - primeiro, ampliou-se o acesso; depois, ele foi barateado. Mas a internet mudou tudo. Foi a partir daí que surgiram as plataformas eletrônicas de negociação, os operadores passaram a receber informações em tempo real sobre qualquer mercado e, claro, os horários de trabalho tornaram-se mais longos. É preciso ter disciplina no dia-a-dia para não virar escravo do mercado. Às vezes, é irresistível ficar em frente ao computador por horas, todos os dias, mas é preciso se controlar.

EXAME - Qual é a sua disciplina?

JAKURSKI - Mantenho meus compromissos familiares e com os amigos e procuro sair sempre às 20 horas da JGP. Além disso, só opero quando é necessário. A pior coisa que existe é fazer alguma operação sem precisar. Na JGP, passo a maior parte do tempo lendo e acompanhando o mercado. Leio, todos os dias, de 300 a 400 páginas de relatórios sobre economia e empresas enviados por bancos e corretoras. Preciso saber o que está ocorrendo para tomar decisões - e as notícias, hoje, tornam-se obsoletas muito rapidamente. Das informações que leio, muitas vezes, 95% delas são inúteis. Mas preciso ler tudo para saber o que faz diferença.

EXAME - Você lê algo por hobby?

JAKURSKI - Claro. Geralmente, leio de dois a três livros por vez. Atualmente, estou com A Era da Turbulência, de Alan Greenspan, The Tipping Point, de Malcolm Gladwell, sobre epidemias, e A Demon of Our Own Design, de Richard Bookstaber, sobre os grandes riscos do mercado financeiro. Mas não costumo ler ficção, apenas obras sobre história, economia ou finanças.

EXAME - Ou seja, temas ligados à sua profissão...

JAKURSKI - Sim. É o que gosto de fazer. É preciso paixão para trabalhar no mercado financeiro, porque é a rotina é repetitiva, tensa e longa. Ter dinheiro em risco não é uma situação relaxante. Além disso, as alegrias e as frustrações se alternam de forma muito rápida, porque ganha-se e perde-se dinheiro muitas vezes ao longo do dia. É preciso ter o espírito adequado para não cair em depressão. Comparo o trabalho ao de Sísifo (personagem do clássico grego Odisséia, de Homero, que foi condenado a levar uma pedra enorme até o topo de uma montanha para, depois, vê-la rolar morro abaixo e ter de começar tudo de novo). Torna-se interessante quando você compreende a dinâmica e sabe que participa de uma etapa nova e estimulante da economia global.

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