Volkswagen: fraude das emissões de poluentes descoberta em 2015 levou indiretamente à morte de milhares de pessoas (Krisztian Bocsi/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2019 às 06h54.
Última atualização em 30 de setembro de 2019 às 07h13.
São Paulo — O escândalo das emissões de diesel da Volkswagen foi revelado há quatro anos, mas ainda está longe de acabar. Desde as primeiras horas desta segunda-feira (30), a montadora é julgada por uma corte alemã — no que se tornou o maior processo coletivo da história do país — em virtude dos mais de 11 milhões de veículos a diesel que emitiram poluentes acima do permitido em todo o mundo.
Mais de 450.000 alemães que possuíam carros envolvidos moveram a ação coletiva. Esse tipo de processo é um dispositivo novo na Justiça alemã, e tomou tais dimensões após milhares de pessoas moverem processos individuais contra a Volkswagen em tribunais regionais desde 2015.
Apesar disso, segundo o jornal britânico Financial Times, os advogados da montadora estão confiantes de que o processo será arquivado. O processo pode durar até quatro anos e terminar na Suprema Corte do país. Além da ação coletiva, mais de 60.000 ações individuais também foram abertas na Alemanha nos últimos anos.
O caso, apelidado como “Dieselgate”, diz respeito a veículos fabricados entre 2009 e 2015, quando a fraude foi denunciada pelo governo dos Estados Unidos e admitida pela Volkswagen. Os carros saíam de fábrica emitindo mais poluentes do que o permitido por lei, mas um software da Volkswagen fazia os números serem maquiados e parecerem menores do que o real.
O grupo alemão é ainda dono das marcas Audi e Porsche, que também estiveram envolvidas. Os poluentes no diesel dos carros da Volks, liberados em alta quantidade devido à fraude, levaram indiretamente à morte de dezenas de milhares de pessoas, segundo diversos estudos publicados desde então.
Desde 2015, a fraude custou à Volkswagen 30 bilhões de euros em multas, compensações e custos legais. A maior parte desse valor, mais de 20 bilhões de euros, foi para os Estados Unidos. Além de donos de carros, investidores também afirmam que sofreram perdas depois que o preço da ação caiu mais de 50% desde o escândalo — a ação da montadora era negociada acima de 240 euros no começo de 2015 e nunca mais se recuperou, estando atualmente na casa dos 150 euros.
O julgamento traz o caso de volta às manchetes semanas depois de a Volkswagen apresentar no salão de Frankfurt, o mais importante da Europa, uma estratégia agressiva para carros elétricos — seu ID.3, que será vendido a preço popular na Alemanha, foi considerado o grande destaque dentre os elétricos do salão. Ralf Brandstaetter, diretor de operações mundial da montadora, disse à imprensa que o Dieselgate “é parte da história do grupo”, mas que a Volks “mudou profundamente” desde então. O diretor disse ainda que os 30 bilhões de euros investidos em carros elétricos são uma forma de “reconquistar o respeito da sociedade”. A ver se a empresa aprendeu a lição e não deixará a história se repetir.