Petrobras: baixa provocada pela corrupção representa menos de um oitavo dos prejuízos de R$ 51 bilhões da Petrobras (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 24 de abril de 2015 às 17h46.
As enormes baixas contábeis realizadas pela Petrobras nesta semana respondem à pergunta sobre o custo da corrupção na empresa e geram outra ainda maior: a produtora de petróleo controlada pelo Estado será capaz de recuperar seu papel de esteio econômico do Brasil e motivo de orgulho nacional?
O problema não é só a corrupção. A baixa contábil provocada pelas transgressões dos executivos da empresa representa menos de um oitavo dos prejuízos de R$ 51 bilhões reportados pela Petrobras referentes a 2014.
O grosso da desvalorização de ativos se deveu à má gestão de dois projetos de construção de refinarias. Isso foi suficiente para infligir à Petrobras seu primeiro prejuízo operacional anual desde 1991.
Os ex-dirigentes de um banco estatal que atualmente administram a petroleira mais endividada do mundo evitaram um desastre ao conseguirem auditar os resultados de 2014, após longo atraso, eliminando assim os motivos para que os credores acelerassem os pagamentos de parte da dívida de US$ 135 bilhões da Petrobras.
O que ainda não se sabe é como protegerão a gigante do petróleo de decisões políticas que acabam sendo calamitosas do ponto de vista empresarial e, ao mesmo tempo, reduzir dívidas e entregar projetos no prazo e sem estourar o orçamento.
“A maior lição a ser entendida é que a estrutura de gestão da Petrobras, baseada em nomeações políticas, não funciona”, disse Álvaro Marangoni, que ajuda a gerenciar US$ 500 milhões como sócio da Quadrante Investimentos, em São Paulo.
O primeiro sinal de um novo direcionamento na Petrobras é a ausência de ministros no novo conselho de diretores, disse João Augusto de Castro Neves, diretor para a América Latina da consultoria Eurasia Group, com sede em Washington.
O conselho anterior era presidido pelo então-ministro da Fazenda, Guido Mantega, e antes dele pela atual presidente da República, Dilma Rousseff, à época ministra-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Prejuízos com combustível
Foi a preocupação de Mantega com a inflação que levou a Petrobras a comprar combustível no exterior para vendê-lo aos brasileiros com prejuízo, mantendo os preços baixos para os consumidores, mas aumentando a dívida da Petrobras.
Outros casos de intervenção do governo, de permitir que aliados políticos nomeassem diretores a investir em refinarias em lugares remotos que nunca foram terminadas, são igualmente onerosos.
Apesar de a empresa estar evitando potenciais problemas políticos, o sentimento entre os analistas ainda é negativo, pelo menos no curto prazo, por causa do tamanho da dívida e da perspectiva de produção pouco inspiradora.
O know-how financeiro do presidente Aldemir Bendine e de seu diretor financeiro Ivan Monteiro, ambos provenientes do Banco do Brasil SA, que é estatal, precisa ser unido ao conhecimento sobre a indústria petrolífera de outros diretores para que a empresa prospere, disse Castro Neves, da Eurasia Group.
Boa notícia
Mesmo assim, há sinais positivos. “A boa notícia para o Brasil é que o petróleo está lá”, disse Castro Neves.
A aquisição da BG Group Plc pela Royal Dutch Shell Plc por US$ 70 bilhões, anunciada no dia 8 de abril, expande a participação da Shell nos vastos campos de petróleo da camada pré-sal do Brasil e foi vista pelos analistas como um voto de confiança na Petrobras.
O CEO da Shell, Ben van Beurden, disse que o Brasil responderia por pelo menos 20 por cento da produção petrolífera da empresa até o fim da década.
A Petrobras é “uma companhia muito forte e muito competente, muito forte no desenvolvimento de projetos em águas profundas”, disse van Beurden, em Brasília na quinta-feira, após uma reunião com Dilma.
“Eu tenho 100 por cento de confiança de que a Petrobras irá superar isso e provavelmente se tornará mais forte do que antes”.