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De batina e gravata: os negócios da Igreja Católica no país

Religião movimenta milhões de reais no mercado de mídia e através de instituições de ensino e saúde

EXAME.com (EXAME.com)

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João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de julho de 2013 às 16h39.

São Paulo - A doutrina da Igreja Católica permite a livre-iniciativa e o lucro, desde que ele não se torne um fim em si mesmo. Um estudo da revista britânica The Economist apurou que, nos Estados Unidos, o Vaticano e entidades ligadas e ele movimentaram 170 bilhões de dólares só em 2010, o que o torna uma das maiores “empresas” do país. No Brasil, que tem a maior população católica do mundo, não poderia ser muito diferente.

É difícil estimar o tamanho total do negócio católico por aqui. Empresas não-religiosas costumam exibir seus balanços e taxas de crescimento com orgulho, e algumas igrejas evangélicas transformam sua prosperidade material em símbolo da bênção divina. Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, entrou recentemente para a lista de bilionários da Forbes, embora o pastor tenha questionado os números da publicação e ameace processá-la.

No caso da Igreja Católica, os cálculos são escorregadios, porque os negócios estão espalhados por uma rede descentralizada gerida por pequenas fundações e entidades filantrópicas sem fins lucrativos. A estrutura complexa, aliada ao desconforto em exibir qualquer traço de riqueza, torna a Igreja Católica bem pouco transparente quanto às suas finanças. Mesmo assim, é possível mapear algumas das áreas em que o Vaticano mantém bons negócios.

Editoras

Uma das facetas mais visíveis do negócio católico no Brasil é a de comunicação. Fundada em Petrópolis em 1901, a Editora Vozes uma dos gigantes do ramo, com vendas anuais de 2 milhões de livros por ano.

Outro participante centenário do setor são os paulinos. Fundada por Tiago Alberione na Itália, a congregação posteriormente se dividiria em duas, com seus respectivos braços de comunicação. A Editora Paulinas, que ficou com as freiras, existe há 97 anos e atua em 52 países, mas a operação brasileira é a mais importante fora da Itália.

Já a Paulus, dos padres, tem programas de rádio em mais de 450 emissoras e 29 livrarias em capitais do país. A empresa divulgou um crescimento anual de 10% de 2011 para 2012, quando chegou aos 108 milhões de reais em receita bruta e 8 milhões de lucro.


Televisão e música

De meados dos anos 90 para cá, os padres católicos viram a ascensão das concorrentes e saíram do rádio para competir também nas telinhas. A Rede Vida é o principal exemplo deste fenômeno. Formada em São José do Rio Preto há 18 anos, ela é hoje a maior rede de TV católica do mundo.

Já a TV Século 21, financiada por meio de doações, ocupa um complexo em Valinhos, interior de São Paulo, e investiu recentemente 4 milhões de reais para digitalizar sua produção. Fundada pelo jesuíta americano Eduardo Dougherty, ela chega a 25 milhões de casas e tem até um núcleo de dramaturgia que, no momento, se dedica ao projeto de gravar o Evangelho na íntegra.

Padres católicos também se aproveitam da exposição para conquistar o status de superstars. Em 2008, o disco mais vendido no país foi “Vida”, do padre Fábio de Melo, que gravou este ano uma música de boas vindas para o Papa Francisco. Em 2011, o topo das paradas ficou com “Ágape”, do Padre Marcelo Rossi, distribuído pela Som Livre.

Educação

De acordo com a ANEC (Associação Nacional de Escolas Católicas), ligada a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o ensino católico no Brasil emprega hoje 100 mil professores e alcança 1,5 milhão de alunos. São cerca de 400 instituições que mantêm 2 mil escolas e 180 obras sociais.


Só de ensino superior, são mais de 100 instituições católicas – entre elas, algumas das universidades mais prestigiadas do país, como as PUCs (Pontifícia Universidade Católica), mantidas por fundações e com finanças em situação difícil. A PUC de São Paulo, por exemplo, está começando a colocar seu endividamento sob controle após cortes drásticos e demissões em massa nos últimos anos.

Saúde

No setor de saúde, a situação também é complicada: as Santas Casas vêm tentado negociar alternativas com o governo para amenizar uma dívida que já bate nos 15 bilhões de reais. Somados repasses do SUS (Sistema Único de Saúde) e de convênios, a rede teve cerca de 2 bilhões de reais de receita bruta em 2012.

De acordo com a CMB (Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas), 41,2% das internações do SUS passam pelos seus 3.067 estabelecimentos, que concentram 35% dos leitos do país. Nem todos, porém, estão associados à Igreja Católica.

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