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Da sidra ao vinagre

Desde que assumiu os negócios da família, em 1995, Marcelo Cereser ajudou a ampliar o portfólio da Castelo Alimentos, que só no ano passado cresceu 10%

Marcelo Cereser, CEO da Castelo Alimentos: “Era preciso nos diferenciar da concorrência.” (Leandro Fonseca/Divulgação)

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Publicado em 24 de julho de 2024 às 18h00.

Última atualização em 25 de julho de 2024 às 11h26.

Uma das perguntas que Marcelo Cereser mais ouve é: “Você tem alguma ligação com a Sidra Cereser?”. Deve-se, em última instância, à decisão de um antepassado dele, Santo Cereser, de trocar a região do Vêneto, em 1886, pelo Brasil. Na Itália, a família produzia o chamado vinho de mesa com uvas niágara, hábito replicado no novo país — mudas da espécie foram incluídas na bagagem.

Quem fundou a Indústria de Vinhos Santa Isabel, em 1926, foi um neto desse antepassado, João Cereser. O produto número 1? O vinho de mesa Dom Bosco, hoje amplamente conhecido. A célebre Sidra Cereser foi lançada, em 1967, por dois filhos de João. Um deles, Xisto Cereser, é o pai de Marcelo.

Com sede em Jundiaí, no interior de São Paulo, onde a família se estabeleceu, a Indústria de Vinhos Santa Isabel não demorou para se converter em uma grande empresa. Chamada de CRS Brands desde 2014, produz uma porção de bebidas que quase todo mundo conhece ou pelo menos já ouviu falar, a exemplo da vodca Roskoff e do espumante Chuva de Prata, além dos produtos já citados.

Marcelo é um dos sócios da CRS Brands, cujo conselho de administração chegou a presidir. Sua trajetória no mundo dos negócios, porém, foi construída em outra companhia da família, a Castelo Alimentos. Quando foi adquirida pelos Cereser, em 1967, ela funcionava na Rua do Gasômetro, no Brás, em São Paulo, e se limitava à produção de vinagre. Transferida para Jundiaí, onde Marcelo nasceu, há 54 anos, a empresa se transformou em uma das maiores do segmento.

Formado em administração de empresas e direito, Marcelo se aproximou da Castelo em razão de um trágico acidente de carro, em 1994. Com duas vértebras quebradas, ele passou meses acamado em Jundiaí, sob os cuidados da família. Quando já estava parcialmente recuperado — mas não a ponto de voltar para a capital, onde morava e já ganhava a vida por conta própria —, passou a acompanhar a rotina do pai na Castelo. Na época, Xisto presidia tanto a fabricante de vinagre quanto a futura CRS Brands.

“Como eu não tinha cargo nenhum na Castelo, usava meu tempo para acompanhar a rotina de outros funcionários, um a cada dia, das mais diversas áreas”, recorda ele, que hoje exerce o cargo de CEO.

Daí para começar a propor melhorias foi um pulo. Sua primeira sugestão, logo acatada por Xisto: a venda das três empilhadeiras que a empresa tinha na época, sendo que uma delas estava quebrada. Com o dinheiro amealhado, a companhia comprou uma nova — para, em seguida, financiar uma segunda. “Com essa simples mudança, ganhamos muito mais eficiência”, recorda o atual mandachuva.

Formalmente, ele trabalha na Castelo desde 1995 — mas na prática já são 30 anos na companhia. Começou como gerente industrial. Com a morte de Xisto, em 2000, em decorrência de um câncer, o comando passou, naturalmente, para suas mãos.

Nos primeiros anos, ele concentrou esforços para aumentar a eficiência do negócio. “Com a casa arrumada, voltei minha atenção para os produtos”, resume ele, que passou a exigir melhorias, por exemplo, nas embalagens. “Era preciso nos diferenciarmos da concorrência.”

Marcelo é tido como o grande responsável pela surpreendente ampliação do portfólio. Quando ele ingressou na companhia, eram cerca de dez SKUs — hoje são quase 180. Os vinagres, que ainda são o carro-chefe, passaram a dividir espaço com conservas, azeites, patês, temperos e molhos diversos. “Decidimos apostar em tudo que tem a ver com saladas”, lembra o CEO.

Ele não revela quanto a Castelo fatura, mas diz que as receitas cresceram 10% no ano passado. “Nossa meta é sempre crescer a um percentual com mais de um dígito”, resume. Atualmente, os produtos da empresa estão disponíveis em mais de 5.500 pontos de venda Brasil afora.

Um novo capítulo na história da Castelo começou a ser escrito neste ano. Em maio, durante a Apas Show, a companhia lançou a VinaBio. Trata-se de uma marca de produtos de limpeza à base de vinagre — de limpador multiuso a amaciante de roupas. As vendas começam em agosto, inicialmente só no estado de São Paulo. “São produtos biodegradáveis e não nocivos à saúde como os que são à base de cloro, por exemplo”, gaba- -se o CEO. “Estamos ingressando em um mercado 70 vezes maior do que o de vinagre.”

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