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Com CSA, Vale vai lucrar como mineradora e como dona de siderúrgica

Planta erguida em parceria com a ThyssenKrupp é a primeira a sair do papel; mineradora tem planos de avançar no setor

CSA em obras, em 2008: primeira siderurgia da Vale com a ThyssenKrupp acaba de ser inaugurada

CSA em obras, em 2008: primeira siderurgia da Vale com a ThyssenKrupp acaba de ser inaugurada

Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 18 de maio de 2011 às 09h20.

São Paulo - Quatro anos depois de lançar a pedra fundamental, a Vale finalmente vê sair do papel a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA). A usina foi construída em parceria com a alemã ThyssenKrupp, 18º maior grupo siderúrgico do mundo, segundo a World Steel Association (os dados são de 2008, os mais recentes disponíveis no site da associação). Maior empreendimento siderúrgico erguido nos últimos anos, a CSA consumiu investimentos de 5,2 bilhões de euros, cerca de 8,2 bilhões de dólares, e será capaz de produzir cinco milhões de toneladas por ano de placas de aço.


A inauguração, marcada para hoje (18/6), assinala o movimento inverso do que se observou no mercado nos últimos tempos. Antes, pressionadas pelos reajustes de preços e desejosas de ter autonomia em relação à matéria-prima, algumas siderúrgicas apostaram na exploração de suas própria jazidas de minério de ferro. A CSN, com a Casa de Pedra, e a Usiminas são os exemplos mais lembrados. Agora, é a vez da Vale entrar no terreno de seus clientes, e operar sua própria usina. Mas até que ponto ser dona de uma siderúrgica é bom para a maior produtora de minério de ferro do mundo?

"A Vale e a Thyssen lucrarão nas duas pontas, tanto com redução de custos, quanto com reajustes de preços", afirma Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, "Sem contar que isso as protege do risco de um desequilíbrio de oferta entre mineradoras e siderúrgicas no futuro". Quando o projeto foi anunciado, em 2006, a Vale participaria com 10% dos investimentos. Em julho do ano passado, porém, foi assinado um acordo ampliando a fatia da mineradora para 26,87%, mediante um novo aporte de capital de 965 milhões de euros.

Em boa hora

A CSA chega em um momento de aquecimento econômico, o que permitirá que a Vale lucre tanto como fornecedora de minério, quanto como produtora de aço. Apesar do fim dos incentivos fiscais adotados pelo governo no ano passado para conter a crise, a demanda por veículos e aparelhos da linha branca continua forte. A exploração do pré-sal também reativou a indústria naval brasileira. A construção civil é impulsionada pelo crédito. E, no mercado externo, o apetite chinês por insumos não arrefeceu. "Com a usina, as companhias garantem uma margem maior de lucro e também estarão menos sujeitas à variação da taxa de câmbio", diz José Eduardo Balian, professor de economia da ESPM.

A demanda da China foi uma das responsáveis pelos fortes reajustes do minério de ferro nos últimos anos. O valor começou a ser revisado trimestralmente pelas mineradoras, entre elas a Vale, e ajustado a preço spot (à vista). A cotação no mercado spot subiu de 65 dólares a tonelada no primeiro trimestre deste ano para 100 dólares a tonelada atualmente, de acordo com relatório de Pedro Galdi, analista chefe da SLW Corretora. "A demanda no mercado de minério atualmente é tanta que não há problema de a Vale ser concorrente direta de seus clientes", diz Leite, da Trevisan. "Há demanda para todos que atuam no setor e isso deve durar um bom tempo." Para aproveitar a demanda externa, a CSA deve exportar 40% da produção.


Mais usinas

Instalada em Santa Cruz (RJ), próximo ao porto de Sepetiba, a CSA é apenas a primeira das quatro siderúrgicas nas quais a Vale participa. A mineradora também está construindo a Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), no Ceará, em parceria com a coreana Dongkuk. A usina terá capacidade para produzir 3 milhões de toneladas de aço por ano, podendo crescer para 6 milhões numa segunda etapa. A primeira fase tem um orçamento previsto de 4 bilhões de dólares. A fatia da Vale é estimada em 49%, mas o percentual final pode variar em função do investimento total feito pelas parceiras. Sua inauguração é prevista para 2013.

Em março, a Vale também recebeu a licença prévia para a construção da Aços Laminados do Pará (Alpa), em Marabá. Por considerar este projeto mais estratégico, a empresa decidiu assumir sozinha os investimentos. O projeto está orçado em 2,76 bilhões de dólares e terá capacidade para 2,5 milhões de toneladas de aço semiacabado por ano. Ela deve iniciar suas operações também em 2013. A Vale pretende integrá-la à americana California Steel Industries (CSI), da qual detém 50% - o restante pertence à japonesa JFE Steel. A CSI é a única produtora de aços laminados da Costa Oeste americana.

O projeto que está mais embrionário é o da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), no Espírito Santo. A Vale ainda procura um sócio majoritário para a empreitada, e espera obter a licença ambiental ainda neste ano. A planta teria capacidade de 5 milhões de toneladas de placas por ano. Sua inauguração é esperada para 2014.

Em comum, todos os projetos contariam com contratos exclusivos com a Vale para fornecimento de minério com prazos longos - entre 12 e 15 anos. Apesar do recente entusiasmo da mineradora com os projetos siderúrgicos, estas não são as suas primeiras incursões no setor. Nos anos anteriores, a Vale deteve participações acionárias em siderúrgicas já ativas, como a CSN, Usiminas e a argentina Siderar. A diferença é que, agora, a mineradora está investindo em projetos greenfield - e a CSA é o primeiro passo para saber se a Vale está no caminho certo.

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