Odebrecht: "De 50 bilhões de sóis (US$ 15,5 bilhões) em investimento, pelo menos 10 bilhões foram pagos com superfaturamento", disse Rosa Bartra (Yasuyoshi Chiba/AFP)
EFE
Publicado em 4 de abril de 2018 às 19h40.
Pelo menos 10 bilhões de sóis (mais de US$ 3 bilhões) foram pagos pelos cofres públicos do Peru em superfaturamento à Odebrecht em 41 megaprojetos que ficaram a cargo da companhia brasileira nos últimos 15 anos, revelou nesta quarta-feira a presidente da comissão parlamentar de inquérito criada para investigar os casos de corrupção denunciados pela operação Lava Jato no país, Rosa Bartra.
Em entrevista a correspondentes estrangeiros em Lima, Bartra disse que, a dois meses do fim da investigação, foram encontradas evidências de que, "de um total de 50 bilhões de sóis (US$ 15,5 bilhões) em investimento (estatal)", pelo menos 10 bilhões foram pagos com superfaturamento".
Estes números foram encontrados, de acordo com ela, graças a uma seleção dos megaprojetos que mostravam "um alto crescimento desde o montante com o qual foram iniciados e o montante com o qual terminaram".
"Um deles foi o megaprojeto do Gasoduto Sul peruano, que teve custo inicial de US$ 800 milhões e hoje está em US$ 7 bilhões", declarou a legisladora sobre a obra concedida durante o governo de Ollanta Humala (2011-2016) a um consórcio do qual a Odebrecht fazia parte.
Humala cumpre prisão preventiva, da mesma forma que sua esposa, Nadine Heredia, por causa da denúncia de que recebeu US$ 3 milhões em propinas da Odebrecht para sua campanha eleitoral.
Além disso, Bartra afirmou que o maior impacto do escândalo de corrupção foi "ter penetrado em toda a estrutura do aparelho de governo peruano, com uma cultura de corrupção em todos os níveis".
Ainda segundo a parlamentar, os resultados "mais destacados" da comissão liderada por ela foram os relacionados aos megaprojetos dos trechos 2, 3 e 4 do projeto Corredor Vial Interoceânico Peru-Brasil (IIRSA Sul) e o da Concessionária Transposição Olmos, que "desencadearam na renúncia do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski e em uma sucessão democrática".
Kuczynski renunciou à presidência do Peru depois que foram revelados vídeos sobre uma suposta compra de votos para evitar sua cassação no Congresso - que decidiria a respeito em votação que avaliaria seus supostos vínculos com a Odebrecht quando foi ministro do governo Alejandro Toledo (2001-2006).
Bartra afirmou ainda que a investigação sobre Kuczynski, que está proibido de sair do país, está em andamento.