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Contratos da Rolls-Royce e GE são ameaçados por escândalos

A Rolls-Royce e a General Electric estão entre fornecedoras cujos contratos estão ameaçados pelo escândalo de corrupção que envolve a Petrobras

Petrobras: empresas haviam sido contratadas para fabricar peças de navios-sonda da Petrobras, mas o contrato foi cancelado (Paulo Whitaker/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2015 às 21h35.

São Paulo/Rio de Janeiro - A Rolls-Royce Plc e a General Electric Co. estão entre as fornecedoras da indústria petroleira cujos contratos no Brasil podem ser vítimas do crescente escândalo de corrupção que envolve a Petrobras .

As duas empresas haviam sido escolhidas para a fabricação de peças para sete navios-sonda encomendados pela fornecedora de plataformas da Petrobras, a Sete Brasil Participações SA.

A Sete disse nesta semana que o EAS, estaleiro que contratou para construir esses navios, está cancelando contrato.

O cancelamento da encomenda mostra que os efeitos do escândalo de corrupção na empresa petrolífera controlada pelo Estado, a Petrobras, chegaram longe.

A Sete está tendo dificuldades para continuar operando depois que uma acusação de suborno feita por um ex-executivo neste mês atrasou a liberação de um empréstimo do BNDES, disseram quatro fontes com conhecimento direto da situação em fevereiro. Elas pediram anonimato porque o assunto não é público.

“Isto é uma grande bagunça”, disse Kristian Diesen, analista da Pareto Securities AS, por telefone, de Oslo. “As empresas com ativos ou contratos em jogo estão vendo um risco cada vez maior para sua carteira atual”.

Além dos propulsores da Rolls-Royce e do contrato da GE para integrar os sistemas de controle elétrico, a EAS havia planejado comprar aço da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais SA, a Usiminas, e usar um pacote de equipamentos de perfuração da National Oilwell Varco Inc.

A EAS ganhou o contrato para construir sete dos 29 navios-sonda que a Sete Brasil planejava ceder em forma de leasing à Petrobras para o desenvolvimento dos grandes depósitos submarinos de petróleo da camada pré-sal, ao largo da costa do Brasil.

Por e-mail, a Usiminas preferiu não comentar a respeito de seu contrato com a EAS. A National Oilwell não respondeu a um pedido de comentário.

US$ 600 milhões

A GE disse em um comunicado, em 2013, que forneceria US$ 600 milhões em peças para 22 dos 29 navios para a EAS e para três outros estaleiros. Uma assessoria de imprensa externa brasileira da GE disse ontem, em um e-mail, que os contratos já assinados estão sendo “honrados e executados”.

“A situação no Brasil cria alguma incerteza e no momento é uma questão de esperar e ver”, disse Anette Bonnevie Wollebaek, porta-voz da Rolls-Royce, que tem sede em Londres.

“Não recebemos cancelamento ou adiamento formal de nenhum contrato por enquanto”, disse ela, por telefone, de Alesund, Noruega. “Ainda estamos comprometidos a cumprir o acordo que temos com os nossos clientes”.

Medidas legais

Em um e-mail enviado nesta semana, a Sete, que tem sede no Rio de Janeiro, disse que está estudando medidas legais contra a EAS, sem revelar o motivo por trás do cancelamento da EAS.

O Sinaval, sindicato da indústria de construção naval, disse em janeiro que a Sete não havia efetuado pagamentos a vários estaleiros e preferiu não comentar o assunto quando procurado nesta semana para comentar a decisão da EAS. Os diversos telefonemas feitos à EAS não foram respondidos.

Se o contrato da Rolls-Royce com a EAS for cancelado, poderia representar um prejuízo estimado de 5 milhões de libras a 25 milhões de libras (US$ 7,75 milhões a US$ 39 milhões), disse Thomas Picherit, analista da AlphaValue SAS em Paris.

Embora a situação também possa forçar a Rolls-Royce a realizar a baixa contábil do valor de uma instalação de 22 milhões de libras que a empresa construiu no estado do Rio de Janeiro, nem o cancelamento do contrato, nem as provisões representariam um prejuízo “material” para a empresa, disse Edward Stacey, analista do Espirito Santo Investment Bank.

“Esta é uma empresa que tem 2 bilhões de libras por ano de lucro operacional”, disse Stacey em entrevista por telefone, de Londres.

Impacto no PIB

Se os problemas da Sete piorarem, existe um risco de que outros estaleiros com contratos também possam também pedir cancelamento, disse Adriano Pires, chefe da CBIE, uma consultoria dos setores de energia e infraestrutura com sede no Rio de Janeiro.

Fundada depois que a Petrobras fez a maior descoberta de petróleo do Hemisfério Ocidental em 30 anos, a Sete era a pedra angular da campanha do governo para pressionar as empresas a usarem peças e equipamentos fabricados localmente.

A Sete disse em seu site que planejava investir cerca de US$ 25,7 bilhões até 2020 para produzir plataformas de perfuração submarina, criando cerca de 150.000 empregos.

“Este pode ser o início de um processo em que outros estaleiros tomam a mesma decisão da EAS”, disse Pires em entrevista por telefone. “O impacto será visto no PIB. A Petrobras é uma das maiores empresas do Brasil”.

São Paulo - O primeiro trimestre ainda nem acabou, mas a Petrobras já acumulou problemas neste período que podem valer para o ano inteiro. Entre processo de investigação de propina, preço das ações despencando e produção de petróleo menor, a petroleira dá indícios que não vive um bom momento. Veja, a seguir, 10 enroscos em que a Petrobras já se meteu neste ano:
  • 2. Investigação sobre propina

    2 /11(Sérgio Moraes/Reuters)

  • Veja também

    Em fevereiro, ex-funcionários da holandesa SBM, que aluga navios-plataformas, fizeram denúncias que apontam que empregados da Petrobras receberam propina para fechar negócios. O processo indica que funcionários e intermediários da petroleira receberam cerca de 140 milhões de dólares. A Petrobras abriu uma auditoria interna para apurar as denúncias. Segundo Graça, os primeiros resultados da auditoria levaram 30 dias para sair. A Comissão de Fiscalização da Câmara dos Deputados aprovou hoje requerimento para que a empresa esclareça tais irregularidades.



  • 3. Endividamento bilionário

    3 /11(REUTERS/Nacho Doce)

  • A captação de  8,5 bilhões de dólares anunciada pela Petrobras nesta semana deve impactar ainda mais o endividamento da estatal. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, a dívida líquida da petroleira deverá passar de 100 bilhões de dólares até 2018. De acordo com o novo plano de negócios quinquenal da Petrobras (2014-2018), 60,5 bilhões de dólares serão levantados em dívida bruta nos próximos cinco anos.

  • 4. Queda da produção

    4 /11(Pedro Lobo/Bloomberg News)

    Em 2013, a produção de petróleo da Petrobras caiu 2,5% no Brasil. Neste ano, em janeiro, a produção também recuou.  No primeiro mês do ano, a produção total de petróleo e gás natural ficou 2,2% abaixo do total produzido em dezembro de 2013, quando atingiu 2,36 milhões de barris de óleo equivalente por dia. Segundo a empresa, a interrupção da produção em duas unidades instaladas na Bacia de Campos e a venda de participação no Parque das Conchas impactaram a produção do período.


  • 5. Multa bilionária

    5 /11(REUTERS/Sergio Moraes)

    Entre outubro de 2013 e janeiro deste ano, a Petrobras recebeu cinco autuações da Receita Federal que somam 8,7 bilhões de reais. As informações estão no prospecto preliminar publicado na Securities and Exchange Comission (SEC), regulador do mercado de capitais da América do Norte. A Petroleira informou que já apresentou recursos em todos os casos. O processo ainda está em fase de julgamento.

  • 6. Ações despencaram

    6 /11(Alexandre Battibugli/EXAME)

    No final do mês passado, as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras caíram  para o menor nível desde 2005 após a divulgação de que a dívida líquida da empresa havia crescido 50% no último ano. Os papéis preferenciais da empresa tiveram a maior queda da bolsa de São Paulo no dia 26 de fevereiro. As ações fecharam o dia cotadas a 13,70 reais, seu menor valor desde 27 de dezembro de 2005.

  • 7. Valor de mercado menor

    7 /11(Dado Galdieri/Bloomberg)

    A Petrobras foi a empresa que mais encolheu em valor de mercado no mês de fevereiro deste ano.
    Segundo dados da consultoria Economática, a estatal perdeu 12 bilhões de reais no mês passado na bolsa brasileira, período no qual o Ibovespa recuou 1,14%. Boa parte da queda é atribuída aos maus resultados de 2013 apresentados pela empresa.

    No final de fevereiro, o valor de mercado da estatal era de 172,8 bilhões de reais.

  • 8. Preço do dólar divergente

    8 /11(Bruno Domingos/Reuters)

    Durante evento para divulgar seu plano de investimentos para os próximos cinco anos, a Petrobras afirmou que vai trabalhar com um dólar de 2,23 reais neste ano.

    A cotação média do mercado, no entanto, ultrapassa a cifra de 2,40 reais e a diferença está preocupando o mercado, que não consegue entender como a estatal chegou a esse valor.
  • 9. Preço do combustível

    9 /11(Divulgação/Petrobras)

    A interferência do governo nos negócios da Petrobras também tem preocupado investidores, principalmente quando o assunto é o polêmico  reajuste no preço do combustível.

    A fim de não aumentar a inflação, o governo tem segurado os preços e a estratégia tem impactado negativamente a petroleira. A estimativa do mercado é que a empresa tenha deixado de ganhar 1,1 bilhão por não repassar alta do petróleo.

  • 10. Independência do governo

    10 /11(Francois Lenoir/Reuters)

    No mês passado, Silvio Sinedino, funcionário da Petrobras há 26 anos e presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), ganhou o direito de ocupar uma cadeira no conselho de administração da estatal. Ao que tudo indica, Sinedino quer deixar claro que os funcionários da companhia não compactuam com a ideia de que as decisões da empresa teriam de estar totalmente alinhadas às decisões do Governo Federal. Hoje o conselho da Petrobrás é formado por dez membros, sete indicados pelo governo, um pelos acionistas minoritários de ações minoritárias, um pelos acionistas de ações preferenciais e um pelos empregados.





  • 11. Agora, veja 20 empresas que dominam o país

    11 /11(AGÊNCIA BRASIL)

  • Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCorrupçãoEmpresasEmpresas abertasEmpresas americanasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEscândalosEstatais brasileirasFraudesGás e combustíveisGE - General ElectricIndústria do petróleoPetrobrasPetróleoRolls-Royce

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