Vilena Silva fundadora da Compensei Sustentabilidade: “A economia do clima já chegou, e queremos garantir que as PMEs tenham lugar nela.”
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 14h00.
Até o final de 2025, as emissões de carbono vindas de combustíveis fósseis devem subir 1,1%, chegando a 38,1 bilhões de toneladas – crescimento superior à média anual da última década, que foi de 0,8%. Nesse ritmo, manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C fica impossível. Os números, divulgados pelo Global Carbon Project, reforçam a urgência da descarbonização. No entanto, no modelo tradicional, um inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE) pode custar até R$ 30 mil, valor inviável para grande parte das empresas.
Para ajudar a mudar esse cenário, a maranhense Vilena Silva criou a Compensei Sustentabilidade. A startup oferece uma metodologia digital que reduz o custo em até dez vezes, mantendo precisão e validação externa. A plataforma é a primeira do Brasil com inventário de emissões validado pela Bureau Veritas, referência mundial em certificação ambiental. A proposta é reduzir barreiras, ampliar o acesso e acelerar a adoção de práticas ambientais. “Queremos que qualquer companhia, mesmo sem conhecimento técnico prévio, consiga compreender, calcular e agir sobre sua pegada de carbono”, explica.
Em três anos de atuação, o negócio quadruplicou o faturamento e expandiu a atuação para diversos estados. Agora, mira se tornar referência brasileira em descarbonização acessível e levar a abordagem a destinos turísticos, eventos e cadeias produtivas em todo o país.
Como reflexo desse trabalho, a empreendedora venceu o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2025, na categoria Ciência e Tecnologia. “O Nordeste precisa ser visto com a lente da potência, e não da carência, pois a região é um polo de inteligência, coragem e soluções que podem transformar o país.”
Criada em Pinheiro, no interior do Maranhão, Vilena cresceu no pequeno comércio dos pais. “Com dez anos, eu já era responsável pelo caixa; recebia pagamentos, conferia valores, fazia contas e ia ao banco fazer depósitos”, lembra. Essa vivência moldou seu senso de disciplina, resiliência e liderança, atributos que mais tarde seriam decisivos para fundar a Compensei.
Bióloga com doutorado em Biodiversidade e Conservação, mestrado em Energia e Ambiente e especialização em Auditoria e Perícia Ambiental, iniciou a trajetória profissional no setor elétrico em organizações como a Eletrobras, atuando com gestão ambiental corporativa. Paralelamente, foi consultora do Sebrae, ajudando PMEs a se tornarem fornecedoras da Petrobras no programa da cadeia de petróleo e gás. Foi ali que identificou a lacuna que direcionou o seu futuro: a sustentabilidade era um universo inacessível para esse grupo. “Tudo era pensado a partir da lógica das grandes corporações”, explica.
A inquietação ganhou nova forma quando a maranhense ingressou como professora no Instituto Federal do Maranhão (IFMA) em 2013. No mestrado, criou uma metodologia simplificada para implementação de gestão ambiental; no doutorado, estudou a perda de biodiversidade na Baixada Maranhense.
A pandemia e as crises social, econômica e política escancararam a urgência por ações práticas. “Percebi que era hora de transformar conhecimento em impacto”, afirma. De acordo com ela, o apoio do Sebrae foi fundamental para estruturar a operação – desde a participação no programa Startup Nordeste até a conexão com uma rede de empreendedoras. Outro passo importante foi a entrada de Eduardo Filgueira, que assumiu a diretoria comercial e de marketing, e de Adriana Santos, responsável pela diretoria de produto. O trio começou a validação conversando com clientes em potencial e desenhando uma plataforma que tornasse a ação climática viável e mensurável.
Com o tempo, a empresa firmou parcerias com instituições como o Sebrae Nacional e regionais, a Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul – responsável pelo Festival de Inverno de Bonito – e, recentemente, com a Embratur, no programa Destino Futuro. Também realizou inventários e descarbonização de iniciativas esportivas e de inovação, como a corrida Bonito 21k e o NEON.
O começo, porém, foi marcado por desafios. Havia pouco recurso para investir e encontrar desenvolvedores que entendessem a complexidade da proposta exigiu paciência. Durante muito tempo a operação foi tocada apenas pelos sócios. Foram dois anos de muito trabalho, longas jornadas e aprendizados diários. “Houve momentos de exaustão. Às vezes, vinha aquele pensamento de “será que vale a pena continuar?”, mas passava. Acredito no impacto positivo que a Compensei está gerando, não apenas para as companhias, mas para o planeta e para as pessoas”.
A tecnologia é o motor da expansão da startup, que está embarcando IA na plataforma, criando um assistente virtual que orienta o usuário passo a passo no preenchimento de dados e na elaboração dos inventários. O futuro é ambicioso. Para 2026, pretende expandir o programa de descarbonização para destinos turísticos em todo o país, ampliar o método para grandes eventos, lançar o módulo de IA totalmente integrado ao Carbonômetro e consolidar a Compensei Academy, um programa de formação de consultores em descarbonização. “É um caminho sem volta”, afirma. “A economia do clima já chegou, e queremos garantir que as PMEs tenham lugar nela.”
A trajetória de Vilena é a prova de que propósito e ciência podem se traduzir em modelo de negócio. E seu conselho para outras mulheres aponta justamente nessa direção: “Empreender com propósito é um ato de coragem e amor. É olhar para o futuro e decidir fazer parte da mudança.”