Banco Pan: em abril, a demanda por novos financiamentos com garantia de automóveis e motos caiu 50% em relação a março, enquanto a queda de emplacamentos de carros novos recuou 78% no mesmo período (Banco Pan/Divulgação)
Natália Flach
Publicado em 8 de maio de 2020 às 14h02.
Última atualização em 8 de maio de 2020 às 19h22.
Os maiores bancos do país - com exceção do Santander - aumentaram seu colchão de segurança contra calotes antevendo o avanço da inadimplência nos próximos meses pela extensão da crise do novo coronavírus. Apesar de o prognóstico econômico ser o mesmo, o Banco Pan não reforçou seu provisionamento para devedores duvidosos. Não o fez por dois motivos: já havia feito uma provisão adicional de 338 milhões de reais devido à majoração da alíquota de contribuição social sobre lucro líquido (CSLL) no quarto trimestre do ano passado. Além disso, metade da carteira de crédito do banco é composta por empréstimos consignados - muitos dos quais contam com estabilidade de emprego por serem servidores públicos federais - e 37% são de créditos com garantias de veículos.
"O momento atual exige conservadorismo, ou seja, é uma combinação de aumento de juros ou das parcelas de entrada e até uma análise mais rigorosa dos clientes para saber se têm condições de tomar a divida", explica Carlos Eduardo Guimarães, presidente do Banco Pan, à EXAME. O único crescimento que o banco pode experimentar nos próximos trimestres é na carteira de empréstimo consignado, que cresceu 13% de janeiro a março ante o mesmo período do ano passado, para 13,3 bilhões de reais.
Segundo o executivo, isso pode se dar tanto pelas contratações nos correspondentes bancários, quanto nas lojas próprias (físicas e online) ou até diretamente no site - uma novidade promovida pelo banco. "Além disso, vira e mexe aparece uma discussão no governo sobre a possibilidade de aumentar o total do comprometimento [da renda dos servidores públicos] dos atuais 35% para 40%", acrescenta.
Por outro lado, a carteira de veículos deve sofrer mais com os percalços econômicos daqui para frente. Em abril, a demanda por novos financiamentos com garantia de automóveis e motos no banco caiu 50% em relação a março, enquanto a queda de emplacamentos de carros novos recuou 78% no mesmo período.
Sobre renegociação de dívidas, Guimarães diz que podem ser postergadas duas parcelas desde que o cliente solicite ao banco. "Estamos fazendo de uma forma diferente dos outros bancos, pois até o momento é pequena a quantidade de solicitações. Mas estamos sensíveis, sim, ao momento enfrentado pelos nossos clientes."
Os correntistas do Banco Pan, em sua maioria, pertencem às classes C, D e E, e portanto são público-alvo dos programas de auxílio emergencial do governo. Apesar dessa casualidade, Guimarães diz que não é possível fazer uma correlação entre o aumento do número de contas digitais do banco - que foram lançadas em fevereiro deste ano - com o pagamento do benefício de 600 reais. "De qualquer forma, a demanda está alta", afirma, sem dar detalhes do número.
Até segunda-feira, 4, cerca de 3,5 milhões de beneficiários que indicaram contas de outros bancos para o recebimento do auxílio emergencial receberam aproximadamente 2,3 bilhões de reais. Entre as instituições que mais receberam transferências, estão Banco do Brasil, Bradesco, Santander, Itaú e Nu Pagamentos (Nubank).
O lucro líquido do banco alcançou 170,6 milhões de reais, aumento de 77% em relação ao mesmo período do ano passado. A carteira de crédito expandida encerrou o trimestre com saldo de 25 bilhões de reais, avanço 15% frente aos saldos do primeiro trimestre de 2019. Na carteira de varejo, a inadimplência de créditos acima de 90 dias é de 5,7%.
O retorno ajustado (e não auditado) ROE é de 23,5% ao ano ante 21% a.a. no mesmo trimestre do ano. O patrimônio líquido encerrou o trimestre em 5 bilhões de reais e o índice de Basileia em 15,7%.