Amazon: a aquisição ameaça empresas de supermercados tradicionais (Kim Kyung-Hoon/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2017 às 17h11.
Nova York - Desde sua fundação, há 23 anos, a Amazon.com mudou radicalmente o negócio de venda de livros, música e quase tudo o mais que consumimos -- exceto alimentos.
Até agora. Em uma única jogada, o fundador da Amazon, Jeff Bezos, entrou no negócio de supermercados com a aquisição da Whole Foods por US$ 13,7 bilhões.
O negócio surpresa agita o setor de supermercados, de US$ 800 bilhões -- e o de varejo, de forma mais ampla --, ao casar a vasta escala e a habilidade digital da Amazon com as 460 lojas e a rede de distribuição de alimentos frescos da Whole Foods.
A aquisição ameaça empresas de supermercados tradicionais como a Kroger, que já estavam sofrendo com a deflação dos alimentos nos EUA e com a invasão de novos concorrentes, como as redes alemãs de descontos Aldi e Lidl. As ações das rivais sentiram o golpe.
O acordo provavelmente estimulará outras empresas a se defenderem com suas próprias ondas de compras, consolidando o fragmentado setor de alimentação dos americanos.
“Isto é um divisor de águas”, disse Zachary Fadem, analista do Wells Fargo. “É um tiro de advertência para o setor varejista de alimentos de que a concorrência provavelmente aumentará frente a um cenário já desafiador.”
O acordo ocorre depois que a Amazon, que tem sede em Seattle, EUA, passou quase uma década tentando encontrar um caminho para o negócio de entrega de alimentos frescos por meio de vários empreendimentos, sem muito sucesso.
Ninguém menos que John Mackey, CEO da Whole Foods, certa vez previu que a busca da Amazon por entregas de compras de supermercado seria o “Waterloo da Amazon”.
Agora, Bezos será o chefe de Mackey e a união desses dois pioneiros pode mudar radicalmente o acomodado negócio de supermercados.
As várias incursões da Amazon no ramo de venda de itens de supermercado -- Amazon Fresh, Amazon Pantry, Prime Now -- receberão um impulso da rede de lojas da Whole Foods e de sua base de clientes fiel e endinheirada.
Apenas em torno de 1 por cento a 2 por cento do setor foi transferido para a internet, mas a expectativa é que esse número suba para 6 por cento nos próximos cinco anos porque os consumidores da geração Y têm uma propensão duas vezes maior de comprar itens de supermercado pela web, segundo o analista Marc Astrachan, da Stifel Nicolaus & Co.
O controle da Amazon provavelmente também resultará em preços mais baixos na Whole Foods, cujos produtos caros, como ovos de emu vendidos a US$ 30, ganharam o apelido de “Whole Paycheck” (“Salário inteiro”). Isso poderia forçar outros supermercados a seguirem o exemplo para não perderem clientes, disse Astrachan.
“A Amazon está no negócio de alimentos há mais de 10 anos e o fato de agora chegar à conclusão de que precisa de lojas físicas de tijolos e cimento é importante”, disse o analista Dan Binder, da Jefferies, em nota. “A Amazon ganha experiência em itens de supermercados e orgânicos em particular.”