Bruno Leite, CEO da Lave & Pegue Lavanderia: "O cliente compra tempo" (divulgação/Divulgação)
Freelancer
Publicado em 22 de dezembro de 2025 às 12h27.
O setor de serviços recorrentes ganhou força no Brasil nos últimos anos, puxado por cidades mais densas, apartamentos menores e pela busca por conveniência. Dentro desse movimento, as lavanderias deixaram de ser um serviço pontual e passaram a disputar espaço no dia a dia do consumidor urbano.
É nesse cenário que cresce a Lave & Pegue Lavanderia, rede fundada no Rio de Janeiro que apostou em um caminho oposto ao da automação total. A empresa criou o primeiro modelo de lavanderia express do Brasil com atendente, combinando self-service e serviço assistido. Hoje, soma 310 unidades comercializadas, está presente em todos os estados e projeta faturamento de 22 milhões de reais em 2025.
A história importa agora porque o negócio virou um termômetro de mudança cultural. Em um país onde apenas 4% da população usou lavanderia ao menos uma vez na vida, segundo dados da Associação Nacional das Empresas de Lavanderia (Anel), a rede cresce em um dos segmentos que mais avançaram no franchising: Limpeza e Conservação, que teve alta de 14,5% no terceiro trimestre de 2025.
“O brasileiro valoriza o contato humano e gosta de conveniência. Por isso criamos um modelo que entrega tempo para o cliente”, diz Bruno Leite, fundador e CEO da Lave & Pegue Lavanderia.
O plano agora é acelerar no Brasil e validar a expansão internacional a partir de 2026.
Formado em engenharia de produção, Bruno Leite passou mais de 15 anos no setor de petróleo e gás, atuando em planejamento e construção de plataformas e navios. O empreendedorismo veio em paralelo.
Em 2014, abriu sua primeira lavanderia industrial para atender a rede de motéis de um amigo, na Baixada Fluminense. O negócio funcionava, mas foi encerrado após um episódio de violência.
“Coloquei tudo na balança e vi que qualidade de vida e segurança eram prioridades”, afirma.
Ele vendeu a operação ao principal cliente e voltou ao setor naval. Um ano depois, abriu uma lavanderia convencional em Copacabana, onde morava. O passo seguinte seria o mais arriscado.
Em 2019, Bruno decidiu diversificar e entrou no varejo alimentar com um pequeno supermercado. A operação durou menos de um ano e deixou uma dívida superior a 200 mil reais.
“Foi o pior e o melhor ano da minha vida como empreendedor. A gente não se preparou, não estudou fluxo de caixa e pagou o preço”, diz.
O aprendizado ficou. A lavanderia convencional seguiu aberta e, com a chegada da pandemia em 2020, a demanda mudou de patamar.
Com mais gente em casa e menos apoio doméstico, o volume de clientes cresceu rapidamente. Foi ali que Bruno decidiu tirar do papel um projeto antigo: uma lavanderia express desenhada desde o início para virar franquia.
Ele chamou Alexandre Figueiredo, ex-empreendedor do setor de alimentação, para ser sócio da primeira unidade, instalada em Copacabana.
“No primeiro mês já entramos no azul. Em três meses abrimos a segunda unidade”, afirma.
Em dois anos, o grupo chegou a cinco lojas próprias, todas operando com processos padronizados, layout pensado para escala e foco em recorrência. Em 2022, a rede entrou oficialmente no franchising.
Em três anos de franchising, a Lave & Pegue acelerou:
2024: faturamento de 10 milhões de reais
2025: projeção de 22 milhões de reais
2026: estimativa entre 35 milhões e 50 milhões de reais, dependendo do ritmo de expansão
Hoje, são 310 unidades comercializadas, sendo 210 em operação, com inaugurações a cada 72 horas. Em 2024, a rede realizou 640 mil ciclos de lavagem, atendendo mais de 315 mil clientes.
A rede opera hoje com três formatos:
Loja física: investimento de 153.400 reais, com faturamento médio mensal de 35 mil reais e lucro líquido em torno de 15 mil reais. O retorno estimado varia de 18 a 24 meses.
Modelo contêiner: investimento de 176.900 reais, operação automatizada e funcionamento vinte e quatro horas.
Modelo para condomínios: investimento inicial a partir de 73 mil reais, com estrutura compacta e foco em prédios residenciais.
A estratégia permitiu ocupar desde grandes centros até cidades com 5 mil habitantes.
Só o crescimento de apartamentos compactos abriu uma nova frente. A empresa já opera lavanderias em condomínios e desenvolveu um sistema híbrido, com armários inteligentes integrados às lojas de rua.
“As construtoras já entenderam que não faz sentido colocar máquina em todo apartamento. O consumo coletivo reduz custo e água”, diz Bruno.
Enquanto o mercado apostava em operações cem por cento automáticas, a Lave & Pegue seguiu o caminho oposto. O atendimento assistido virou o principal motor de crescimento.
“Hoje, 90% da minha rede usa atendente. O faturamento é em média 80% maior por causa disso”, diz Bruno.
Segundo ele, o serviço resolve dois problemas: educação do consumidor e entrega de tempo.
“O cliente paga 10 reais e não precisa ficar uma ou duas horas lavando roupa. Ele compra tempo”, afirma.
A lógica se reflete nos números. O custo operacional médio para lavar e secar 10 quilos fica em cerca de 8 reais, enquanto o ticket médio varia entre 30 e 40 reais.
Além da conveniência, a rede usa eficiência como discurso central. As máquinas consomem 56 litros de água por ciclo, contra 135 litros de uma lava e seca doméstica.
“Até abril deste ano, nossa rede deixou de consumir cerca de 57 milhões de litros de água”, afirma Bruno.
O uso de sabões biodegradáveis e a dosagem reduzida — 30 mililitros por lavagem — também entram na conta de custo e margem.
Após estruturar time, operação e tecnologia em 2025, o foco agora é acelerar. A empresa dobrou a equipe comercial, ampliou o suporte aos franqueados e prepara investimentos em tecnologia e inteligência artificial para fidelização e planos recorrentes.
No exterior, o plano é cauteloso. A primeira unidade internacional deve abrir em Portugal, com testes antes da expansão em escala. Há também interesse na Espanha.
“A cultura de lavanderia na América Latina ainda está começando. A gente está só no início dessa mudança”, afirma.
Depois de quebrar, voltar ao mercado e construir uma rede nacional, Bruno resume a estratégia com pragmatismo: serviço recorrente, ticket acessível e foco total na experiência do cliente.