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Como formar líderes orientados ao propósito

Em artigo, Eduardo Albuquerque, professor associado da Fundação Dom Cabral, explica o que está por trás do conceito, já batido, e como fomentar a ideia de propósito numa empresa em tempos de profissionais com expectativas elevadas sobre o papel deles no mundo

Eduardo Albuquerque, professor associado da Fundação Dom Cabral: O propósito deveria responder à pergunta de cada indivíduo de “Por que eu estou aqui?” (Klaus Vedfelt/Getty Images)

Eduardo Albuquerque, professor associado da Fundação Dom Cabral: O propósito deveria responder à pergunta de cada indivíduo de “Por que eu estou aqui?” (Klaus Vedfelt/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 20 de julho de 2024 às 08h32.

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Eduardo Albuquerque, professor associado da Fundação Dom Cabral

O propósito está batido. Uma afirmação no mínimo leviana que estou escutando nos últimos anos. Para falar sobre líderes orientados a propósito, faz-se necessário refletir as razões pelas quais esse tema é tão importante e quais são os casos em que podemos aprender sobre isso.

Nesse artigo irei descrever sobre a importância do tema e como líderes podem se desenvolver para potencializar seus resultados criando organizações orientadas a propósito. Acima de tudo reforço que essas afirmações são resultados de minhas pesquisas realizadas nos últimos anos em algumas empresas que escolheram esse caminho estratégico.

Por que o propósito é tão importante?

Primeiramente chamo a atenção do fato de que esse tema é extremamente estudado na Europa, nos Estados Unidos e em países da Oceania. O tema propósito está inserido no meio acadêmico dentro de um grupo de estudos chamado significado do trabalho. Sendo assim, o propósito é um dos temas centrais dessa disciplina multifacetada.

O propósito é extremamente importante graças a uma mudança profunda relacionada a maneira pela qual as pessoas se relacionam com o trabalho. Somado a isso, a questão fica mais interessante quando damos luz ao fato de que temos no mundo do trabalho diferentes gerações trabalhando e convivendo juntas.

Em um texto anterior que escrevi cito a questão das gerações da seguinte maneira: "Os valores de uma pessoa que nasceu na década de 60, uma que nasceu na década de 80 e uma que nasceu na primeira década do século XXI tem um alto potencial de serem diferentes. Com toda a certeza chamo a atenção que o momento em que cada indivíduo nasceu não reflete o mesmo em sua totalidade. Outros fatores também causam extrema influência na construção de valores e propósitos individuais."

Importante fortalecer como citado acima que não estamos falando de idade, mas de um padrão comportamental. Além disso, é importante reforçar que dentro da mesma geração podemos encontrar comportamentos totalmente distintos.

Portanto, podemos afirmar com segurança que a geração que está chegando ao mercado de trabalho nos dias de hoje é a geração que mais demanda elementos de significado do trabalho, dentre eles o propósito, para tomar suas decisões profissionais.

O que é de fato propósito?

A melhor definição que conheço de propósito é a de Pratt & Ashforth (2003). O propósito deveria responder à pergunta de cada indivíduo de “Por que eu estou aqui?”. É aqui que reforço a questão de que a grande maioria das pessoas de gerações mais experientes diria que está em um trabalho porque precisa, pelos ganhos financeiros ou por status. Para as gerações mais novas, esses elementos não são suficientes, fazendo com que novas respostas apareçam.

Tenho pesquisado empresas com forte senso de propósito em sua estratégia e em sua razão de existir, e ao entrevistar líderes e colaboradores sobre os motivos pelos quais essas eles trabalham lá, temos respostas como:

"Eu estou aqui pelo propósito, e quero causar um impacto positivo no mundo".

"O trabalho que fazemos aqui está impactando a vida de pessoas que precisam desse trabalho"

"Vim pra cá para ganhar menos. Mas me realizo ao ver as transformações que causamos"

Em uma dessas empresas, 100% dos líderes responderam estar lá por conta do propósito, mesmo ganhando menos do que no trabalho anterior.

Inegavelmente, essas referências reforçam o contexto de que as gerações mais novas não irão tolerar comportamentos que outras gerações aceitaram, e além disso, se dedicarão a líderes e organizações que verdadeiramente se dedicam ao seu propósito.

Em um artigo meu escrito para a Exame chamado Criatividade e inovação no trabalho, trago alguns elementos de como praticar a inovação no ambiente de trabalho. Em adicional, nesse artigo, trago o propósito como um dos elementos centrais para potencializar a inovação organizacional. Já temos algumas referências relevantes do propósito como pilar estratégico em empresas que atuam e são renomadas no mercado. Adoção de remuneração mais adequada ao ator mais fraco da sua cadeia produtiva, a chamada remuneração justa de fornecedores, é um exemplo que acarreta capacidade e atração de lideranças de grande experiência; alto engajamento de colaboradores; e paixão de clientes e consumidores.

No meu ponto de vista, o método central para desenvolver líderes orientados a propósito pode ser descrito da seguinte maneira:

  • Inicialmente a organização deve criar um propósito orientado a criação de valor para a sociedade além de seu lucro próprio;
  • Criar evidências de que o propósito está sendo executado e não é meramente um discurso;
  • Criar um plano estratégico de longo prazo para a evolução do propósito;
  • Criar indicadores que possam medir o resultado do impacto o propósito;
  • Treinar frequentemente líderes e colaboradores para fortalecer o propósito;
  • Premiar líderes e colaboradores por seu engajamento com o propósito.

Assim sendo, essa parece ser uma receita de uma boa limonada para desenvolver líderes orientados ao propósito. Todavia, não se enganem. Assim como uma boa limonada, é necessário espremer alguns limões para chegar lá e isso demanda tempo e muito trabalho.

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