Exame Logo

Como conduzir uma equipe vencedora, segundo expert da Fundação Dom Cabral

Em artigo, Renata Barcelos Moreira dos Santos, professora associada da Fundação Dom Cabral, elenca cinco elementos essenciais para a formação de times engajados e produtivos

Equipes vencedoras são aquelas que entregam ótimos resultados, mesmo diante de grandes desafios, tais como ambientes turbulentos e incerteza, que exigem adaptabilidade, velocidade e resiliência (Luis Alvarez/Getty Images)
LB

Leo Branco

Publicado em 3 de outubro de 2022 às 16h17.

Última atualização em 3 de outubro de 2022 às 17h11.

Equipes vencedoras são aquelas que entregam ótimos resultados, mesmo diante de grandes desafios, tais como ambientes turbulentos e incerteza, que exigem adaptabilidade, velocidade e resiliência. Além disso, em uma visão de longo prazo, são aquelas que contribuem para o potencial de inovação e de geração de riqueza no futuro.

Em uma perspectiva de stakeholders ou mais humanista, equipes vencedoras fazem tudo isto ao mesmo tempo que produzem valor para seus próprios membros e para a sociedade em geral.

Veja também

Os grandes desafios que vivenciamos na atualidade aumentam a relevância do trabalho em equipe. Uma pesquisa da Kellogg School of Management, ao longo de cinco décadas, demonstra que a organização em times cada vez maiores é fundamental para a produção de resultados: à medida que a tecnologia avança, a quantidade de conhecimento no mundo aumenta e exige envolvimento de pessoas de diversas áreas e especialidades.

Assine a EMPREENDA, a nova newsletter semanal da EXAME para quem faz acontecer nas empresas brasileiras

Quais são os elementos essenciais para formação de times

Assim, é indispensável que as lideranças reflitam sobre a formação e desenvolvimento de suas equipes. Estudo recente conduzido na Google com 180 times de trabalho concluiu sobre cinco elementos que se relacionam fortemente com a efetividade das mesmas:

● Segurança psicológica: em times com alta segurança psicológica, colegas sentem-se seguros ao tomarem riscos e confiantes de que não haverá punições em caso de alguém admitir um erro, uma dúvida ou oferecer uma nova ideia;

● Confiabilidade: capacidade de entregar um trabalho de qualidade no prazo combinado. Afinal, a competência técnica deve, naturalmente, ser valorizada e desenvolvida continuamente;

● Estrutura e clareza: compreensão individual da expectativa do trabalho, do processo para atingir essas expectativas e das consequências do trabalho individual para o resultado do grupo. Os objetivos devem ser definidos com clareza, ser específicos, desafiadores e atingíveis;

● Significado: encontrar senso de propósito no próprio trabalho ou no resultado entregue por ele é importante para a efetividade dos times;

● Impacto: o julgamento subjetivo de que seu trabalho faz diferença. Perceber que o trabalho individual impacta o resultado da organização ajuda a revelar sua relevância.

Scott Keller e Mary Meaney relacionam a efetividade dos times à capacidade de contratar e reter talentos. Segundo eles, apenas 18% dos executivos afirmam que suas empresas sabem contratar grandes talentos e apenas 7% dizem que elas sabem retê-los.

Como aplicar as boas práticas nas PMEs?

Minha prática como professora e consultora de empresas demonstra que esta realidade pode ser ainda pior em empresas de pequeno e médio portes, em especial as familiares: com recursos e práticas de profissionalização limitadas, o “pessoalismo” pode privilegiar pessoas ‘protegidas’ em detrimento daquelas com maior mérito, fazendo com que as últimas acabem ‘fugindo’ deste modelo organizacional por não se sentirem reconhecidas.

Além disso, a falta de planos de desenvolvimento, planos de carreiras e até mesmo de planos de cargos e salários são outras questões desafiadoras: se talentos são raros no mercado, por que escolheriam empresas que não potencializam seu crescimento próprio?

Entretanto, há estudos científicos que demonstram que a relação entre a posse de talentos e o desempenho é positiva até um certo ponto, uma vez que a coordenação intratimes pode sofrer no caso de um excesso de talentos. Um excelente vídeo de Margaret Heffernan na plataforma TED demonstra como o efeito de talentos excessivos pode prejudicar um time e como a coesão social — construída nas conversas de corredores ou a cada momento em que um membro do time solicita ajuda — é elemento fundamental que conduz a excelentes resultados.

Complementando esta ideia, um estudo conduzido no Laboratório de Dinâmicas Humanas do MIT com cerca de 2,5 mil indivíduos demonstrou que a comunicação é o principal fator para se prever o sucesso ou fracasso de um time.

Com equipamentos e metodologia avançada, os pesquisadores descobriram que, em times de alta performance:

Nesta pesquisa, o fator individual (tal como inteligência e talento) foi significativamente menos relevante do que os padrões de comunicação.

Os estudos acima citados coadunam com nossa prática gerencial na Fundação Dom Cabral. Colaboração, comunicação e relacionamentos não são elementos sistematicamente trabalhados em grande parte das organizações.

Onde estão os desafios

Atuando em empresas tradicionais e de médio porte há mais de 25 anos, percebo ainda que, em grande parte delas, a cultura de comando e controle é uma dificuldade importante.

Tal realidade cria profissionais ‘congelados’, sem proatividade ou visão crítica e que ficam à espera de que alguém sempre os diga o que deve ser feito. Neste modelo de cultura, pseudolíderes manobram pessoas que se tornam meras cumpridoras de tarefas.

A hierarquia e a velha máxima do “manda quem pode, obedece quem tem juízo” são fortes e há pouca interação entre pares e alta fragmentação em silos. Por conseguinte, há um baixíssimo nível de aprendizado, problemas complexos não são tratados em profundidade, a sensação de medo é comum e a criatividade não floresce.

Outro elemento que se destaca é a baixa capacidade de alguns líderes se distanciarem de atividades operacionais — e do comportamento de ‘bombeiros’, sempre apagando incêndios — para se dedicarem ao fomento e coordenação, contínuos, de melhorias e inovações que renovem as formas de como o trabalho é feito e de como as pessoas interagem.

Promover o desejo genuíno pelo desenvolvimento de indivíduos e times deveria ser pauta principal das lideranças, uma vez que não existem outras instâncias para as quais o tema possa ser delegado (ou os líderes priorizam ou ninguém o fará!).

Como mitigação a este tipo de problema, proponho, primeiramente, que a liderança não seja avaliada apenas por características e avaliações individuais, mas de forma mais ampla, pelo comportamento de suas equipes. Assessments dos times podem oferecer uma ótima forma de se compreender a eficácia real de um líder.

Além disto, proponho que líderes trabalhem incansavelmente para a migração de uma cultura de comando-controle para uma cultura de competência-confiança, na qual as pessoas e equipes sejam fomentadas a construírem, continuamente, competências que potencializam a confiança e o alinhamento intratime.

O que fazer, então, para desenvolver times?

A soma de competência e confiança em evolução contínua tende a possibilitar que as pessoas se engajem e produzam cada vez mais, inclusive, correndo riscos quando necessário. A partir desta lógica, pode-se criar um ciclo virtuoso e energizado de auto desenvolvimento que produza resultados reais no curto prazo e potenciais para o futuro.

Algumas ideias reflexivas para líderes em desenvolvimento contínuo são aqui propostas:

VEJA TAMBÉM:

Como ser um líder que desperta o potencial total de sua equipe

Como administrar as emoções no ambiente de trabalho e construir relações duradouras

Como um líder pode inspirar o seu time a bater metas

 

Acompanhe tudo sobre:Fundação Dom CabralGestãoGestão de pessoasgestao-de-negocios

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Negócios

Mais na Exame