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Como as empresas estão se preparando para um ano instável

Para enfrentar as incertezas que vêm pela frente, as empresas estão se protegendo, engordando o caixa e buscando a eficiência a qualquer custo

Grupo Pão de Açúcar: empresas estão se protegendo para enfrentar as incertezas que vêm pela frente (Germano Luders/Exame)

Karin Salomão

Publicado em 18 de março de 2016 às 18h38.

São Paulo - Com instabilidades no campo político e econômico, é difícil para qualquer um prever o que irá acontecer esse ano. Para empresas , os riscos são ainda maiores. Por isso elas estão se protegendo, engordando o caixa e buscando a eficiência operacional  para enfrentar o ano.

Os grandes bancos brasileiros, por exemplo, sofrem com a situação incerta. Por isso, as instituições financeiras têm buscado, nos últimos meses, se tornarem mais seguras e livres de ricos, reduzindo o acesso ao crédito e buscando os melhores pagadores, por exemplo.

Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco , afirmou que os grandes bancos podem até ajudarem a equilibrar o momento turbulento. “Nós (os grandes bancos) somos os pilares de segurança para uma transição serena até a retomada da economia brasileira”, disse ele durante teleconferência.

Segundo ele, a liquidez e a preocupação em ofertar mais serviços e manter os custos abaixo da inflação são mostras da responsabilidade dos bancos em momentos de crise .

Já para o Santander , continuar funcionando bem é uma obrigação do banco em momentos de crise.

“As crises atuais apresentam perfis que as séries históricas não são capazes de capturar”, disse Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil, em coletiva de divulgação de resultados. “E os bancos sabem que tem um papel fundamental para manter o equilíbrio”.

Para o presidente, prudência e foco foram fundamentais para o ano que se passou e serão ainda mais essenciais em 2016. Cuidar dos índices de inadimplência, cuidar bem do negócio e de seus clientes “é um dever do banco para com os acionistas, clientes e toda a sociedade”, afirmou.

Colchão de proteção

A Magazine Luiza , uma das maiores varejistas do país, se preocupou em aumentar o caixa e melhorar o capital de giro para encarar 2016. Em 2015, o caixa atingiu 1,1 bilhão de reais, contra 863 milhões de reais no ano anterior.

"Em momentos de dificuldade, é preciso focar na geração de caixa, e foi exatamente isso que fizemos. Sentimos que estamos devidamente preparados para enfrentar as eventuais dificuldades de 2016", afirmou Frederico Trajano, presidente da rede, em conferência com analistas durante a divulgação de resultados da empresa.

O esforço em engordar o caixa ajudou a melhorar a qualidade de sua dívida. A dívida líquida ajustada, que em dezembro de 2014 era de 651 milhões de reais, chegou a 489 milhões de reais no fim do ano passado.

Ela só conseguiu melhorar suas finanças com um controle rigoroso e trimestral de todos seus gastos. Ela cortou custos com marketing, renegociou preços de aluguéis e serviços de parceiros, baixou o consumo de energia e até encolheu a equipe.

Com a tesoura na mão

Cortar excessos na administração, fechar lojas que não performavam o esperado e investir apenas em modelos mais rentáveis foram os planos do Grupo Pão de Açúcar para 2015 e que devem continuar em 2016.

O grupo irá priorizar o investimento, que em 2016 será de 1,5 bilhão de reais, em formatos mais rentáveis de lojas, Assaí e lojas de proximidade.

Aumentar o caixa também é um foco da varejista . Segundo a companhia, “a estratégia de cash management adotada permitiu o encerramento do ano com um caixa robusto, mesmo diante da desaceleração macroeconômica”, e redução na alavancagem.

“Reduzimos a dívida bruta, otimizamos nossos processos, investimos em redução de custos e eficiência operacional e continuidade da evolução de capital de giro. Dessa forma, encerramos o ano com um patamar de reservas de aproximadamente R$ 11,0 bilhões e estável quando comparado a 2014”, disse a empresa.

São Paulo - Para enfrentar um ano difícil como 2015, empresas revisaram seus orçamentos, cortaram custos e avaliaram suas estratégias. Com essas e outras medidas, algumas companhias tiveram ótimos resultados, ampliando sua atuação no mercado e, consequentemente, seus lucros. Bancos, como Itaú e Caixa, buscaram linhas de crédito mais seguras e aumentaram tarifas. Outras empresas, como a Estácio, BRF e a Totvs, aproveitaram a crise para adquirir concorrentes. A Braskem e a Marfrig, por exemplo, viram a desvalorização do real como oportunidade para exportar e se expandir fora do Brasil. Neste final de ano , veja nas imagens 15 empresas que passaram longe da crise em 2015.
  • 2. Kroton

    2 /17(Germano Lüders/EXAME)

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    No 3º trimestre, a Kroton Educacional reportou lucro líquido de 312,7 milhões de reais, crescimento de 46,9% ante o mesmo período de 2014. Já no acumulado do ano até setembro, o lucro líquido alcançou R$ 1,1 bilhão, aumento de 45,5%. No trimestre, a empresa finalizou a venda da Uniasselvi, por até 1,1 bilhão de reais. A venda era condição de sua fusão com a Anhanguera. Este ano, ela também adquiriu a Studiare, start-up de tecnologia voltada à educação. Mesmo com a diminuição da oferta do FIES, 176,3 mil novos alunos passaram a fazer parte da instituição, alta de 4% em relação ao ano passado. Agora, são mais de 1,1 milhão de alunos no ensino superior. Ela afirmou que tem 44 pedidos de abertura de unidades em análise e que aguarda a aprovação de 500 novos cursos presenciais e 448 novos polos de EAD.
  • 3. Estácio

    3 /17(Divulgação)

  • Com aquisições e ampliação de cursos à distância, a empresa de educação Estácio obteve lucro líquido de 157 milhões de reais no 3º trimestre, alta de 18%. Até setembro, o lucro líquido foi de 419,6 milhões, aumento de 21,7%. O aumento de 14,8% na base de alunos de graduação, tanto presencial quanto à distância impulsionou os resultados. Em novembro, ela recebeu a aprovação para abrir mais 61 polos de ensino à distância, que passam a ser 231. Duas aquisições também marcaram o ano da empresa. Em julho, fechou a compra da Faculdade Nossa Cidade, em Carapicuíba, por 90 milhões de reais. Já em novembro, comprou Faculdades Integradas de Castanhal, no Pará, por 26 milhões de reais.  Para o próximo ano, a empresa almeja buscar e reter ainda mais alunos e controlar custos, despesas e investimentos para compensar eventuais perdas.
  • 4. Smiles

    4 /17(Divulgação)

    Em anos mais turbulentos, empresas ligadas a viagens ou consumo, como o caso da Smiles , podem ter dificuldades. No entanto, a empresa de fidelidade viu seus números crescerem em 2015. No 3º trimestre, o lucro foi de 98,6 milhões de reais, alta de 65,3% em relação ao ano passado. No período, a receita líquida da empresa controlada pela Gol cresceu 55,9% e o acúmulo de milhas subiu 15,6%. Parcerias com empresas aéreas e a possibilidade de trocar pontos por produtos ajudaram os consumidores a acumular e a gastar mais milhas, mitigando o efeito da crise. Outro motivo para o crescimento da empresa de fidelidade da Gol é que cada vez mais brasileiros estão abrindo contas no banco e trocando o dinheiro vivo por plástico, diz a empresa. No entanto, ela acredita que a redução no consumo e o efeito cambial irão atingi-la em 2016, tornando o ano muito mais desafiador.
  • 5. BRF

    5 /17(Divulgação)

    Com a situação econômica instável no Brasil, a BRF está olhando para o mercado externo. Na Ásia, ela firmou uma parceria com a Singapore Food Industries, para trocas de produtos e serviços, e planeja expandir sua fábrica nos Emirados Árabes Unidos. No início deste mês, a empresa adquiriu três companhias por uma soma total de 500 milhões de dólares. As companhias, que estão na Tailândia, Argentina e Reino Unido, adicionarão 600 milhões de dólares ao faturamento da BRF em 2016 e dobrarão sua capacidade de produção no exterior, que será de 8% do total. Já por aqui, sua estratégia é manter os preços, para competir de forma mais agressiva, deixando para 2016 o reajuste por conta da inflação e desvalorização do real. No 3º trimestre, ela apresentou lucro líquido recorde, de 887 milhões de reais, crescimento de 53,3% ante o registrado no mesmo período do ano passado.
  • 6. Braskem

    6 /17(Divulgação)

    A Braskem é outra empresa que está buscando ampliar sua atuação no mercado externo, por conta das dificuldades por aqui. Ela está investindo 5,2 bilhões de dólares em um Complexo Petroquímico no México, em parceria com a Idesa (foto). Quando as obras forem concluídas – já estão 98% prontas - mais de metade das receitas da empresa química virá do mercado externo. Segundo a companhia, ela concorre diretamente com grupos estrangeiros, e por isso o câmbio atual torna a sua produção mais competitiva em relação ao item importado. A estratégia de olhar para fora já mostrou resultados em seu balanço. A petroquímica teve lucro líquido consolidado de 1,482 bilhão de reais no 3º trimestre, ante 230 milhões de reais no mesmo período do ano passado. O aumento foi impulsionado pela desvalorização do real ante o dólar e maiores volumes de vendas.
  • 7. Cielo

    7 /17(Paulo Fridman/Bloomberg)

    As maquininhas de pagamento da Cielo tiveram um ano agitado. Apesar da atividade econômica estar mais fraca, a credenciadora de pagamentos líder no mercado lucrou 877,5 milhões de reais no 3º trimestre, alta de 7,4% em relação ao mesmo período do ano passado. De julho a setembro, a receita operacional líquida da Cielo totalizou 2,9 bilhões de reais, alta de 50%. Mesmo com cifras impressionantes, a empresa quer ampliar ainda mais o alcance dos seus meios de pagamento. Ela quer levar suas máquinas de crédito e débito para setores ainda pouco explorados, como o de educação. Outro foco de expansão são os profissionais autônomos, como vendedores ambulantes, e regiões com menor presença de cartões, como Norte e Nordeste.
  • 8. Itaú

    8 /17(Bloomberg/Dado Galdieri)

    O Itaú teve o maior lucro entre as empresas abertas no 3º trimestre de 2015, de 5,94 bilhões de reais. O valor é 10% superior ao do ano passado. Nos nove primeiros meses de 2015, o lucro líquido foi de 17,66 bilhões de reais, aumento de 19,97%. Entre as razões para o lucro do maior banco privado do país está a margem financeira com o mercado, que teve um avanço de 45,7% na comparação anual, e a margem financeira com os clientes, que aumentou 4,4%. A margem com o mercado foi influenciada por negociações em bolsa de derivativos, que são contratos pré-fixados em dólar. Com os clientes, o banco aumentou a diferença entre os juros cobrados por empréstimos e os custos para captar recursos. O banco, assim como a concorrência também está buscando ter uma carteira de crédito mais segura e conservadora.
  • 9. Bradesco

    9 /17(Bloomberg News/Pedro Lobo)

    Este ano, o Bradesco buscou ampliar sua atuação tanto nos segmentos de baixa renda quanto em contas premium. Com a aquisição da unidade brasileira do HSBC Holdings Plc, o Banco Bradesco SA se transformou no maior gestor privado de ativos do Brasil. Um dos principais atrativos do HSBC é a sua clientela de alta renda – são 1 milhão de correntistas nesse segmento. Já em novembro, ele e o Banco do Brasil receberam aval do Banco Central para operar uma nova companhia, que terá foco na população de menor renda. A instituição deve começar a funcionar no próximo ano e terá na largada R$ 1 bilhão em empréstimos e operações com cartões. No último trimestre, o banco informou que seu lucro líquido subiu 6,3% ante igual etapa de 2014, a 4,12 bilhões de reais. Entre os destaques, a linha de operações no exterior para pessoas jurídicas disparou 53,7% em 12 meses, impactada pela alta do dólar.
  • 10. Caixa Econômica Federal

    10 /17(Lia Lubambo/EXAME)

    O lucro da Caixa cresceu 60% no 3º trimestre, chegando a 3 bilhões de reais. De janeiro a setembro, ela alcançou lucro líquido de 6,5 bilhões de reais, crescimento de 23,3% em relação ao ano passado. Só com a Mega Sena, ela arrecadou 5,11 bilhões de reais este ano. Sozinha, a Caixa foi responsável por 34,0% do crescimento do mercado de crédito nos últimos doze meses, obtendo participação de 20,9%. O crédito habitacional é o principal destaque da empresa. Ele teve evolução de 17,2% em relação a setembro de 2014 e de 2,5% no trimestre, alcançando 375,7 bilhões de reais, 67,5% de participação no mercado.
  • 11. Gafisa

    11 /17(Alexandre Battibugli/EXAME)

    Em ano de crise no setor imobiliário, a Gafisa está conseguindo aumentar suas vendas. Enquanto que os lançamentos subiram 19% no 3º trimestre ante 2014, as vendas aumentaram mais de 114%. Grande parte desse aumento foi impulsionado pela venda de estoques, que foram 52,5% do total. Assim, o lucro líquido da empresa subiu para 13,49 milhões de reais, ante prejuízo de 9,95 milhões no mesmo trimestre do ano anterior. A recuperação do prejuízo da construtora vem depois que ela postergou diversos lançamentos. Após atrasos na entrega, a Gafisa reformulou sua área de planejamento e logística este ano e conseguiu não só contornar o problema como também antecipar as obras.
  • 12. Hyundai

    12 /17(Bloomberg News/Andrey Rudakov)

    Grandes demissões, férias coletivas, corte de produção e diminuição de turnos de trabalho. Essa é a realidade da maioria das montadoras no Brasil. No entanto, a Hyundai anda na contramão do mercado, produzindo 24 horas por dia, em três turnos e, às vezes, chega a convocar trabalhadores para horas extras aos sábados. Ela espera ocupar toda a capacidade de sua fábrica em Piracicaba (SP). Em um ano, a participação de mercado da coreana foi de 8,7% a 9,29%. O seu carro chefe, o HB20, é o terceiro mais vendido no ano, com 99.196 unidades emplacadas até novembro, segundo a Fenabrave. "Apesar da crise, não reduzimos nossas ações no mercado e estamos oferecendo um produto que tem atraído consumidores por sua qualidade", afirmou presidente da empresa, William Lee.
  • 13. TOTVS

    13 /17(Divulgação/TOTVS)

    “Não vou participar desta crise”, disse o presidente da TOTVS , Rodrigo Kede Lima, afirmou, em entrevista à EXAME em outubro deste ano. Para ele, é preciso estar otimista para sair na frente quando o período ruim acabar. Conhecida por crescer com aquisições, ela comprou a sua concorrente Bematech em agosto. Ainda assim, ninguém passa ileso pela crise na economia e a Totvs está mais cautelosa nos investimentos e viu uma desaceleração no crescimento nos últimos trimestres, disse Lima. No 3º trimestre, ela alcançou lucro líquido de 71,7 milhões de reais, valor 5,3% maior do que o mesmo período do ano passado. Uma das razões para seu crescimento é que ela continua investindo 14% da receita líquida em inovação. O esforço tem valido a pena. A companhia, que detém metade do mercado brasileiro de softwares de gestão, desenvolveu um novo modelo de negócios, de assinatura mensal pelos programas.
  • 14. Mercado Livre

    14 /17(Divulgação)

    Impulsionado pelas unidades de negócios MercadoPago, MercadoLivre Publicidade e MercadoEnvios, o grupo MercadoLivre teve lucro líquido de 45,6 milhões de dólares no último trimestre, uma alta de 35,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. Para expandir sua atuação, em abril ela adquiriu a produtora brasileira de software KPL, especializada em sistemas de gestão para o varejo online, por pelo menos 50 milhões de reais. Segundo o MercadoLivre, a aquisição irá complementar a sua oferta de serviços, oferecendo softwares para micro, pequenas e médias empresas.  Ela também afirmou que não irá mais cobrar por anúncios feitos no site, mas somente cobrará comissão por venda. "Com isso, os vendedores profissionais da plataforma terão muito mais facilidade no momento de escolher o tipo de anúncio, além de poder economizar nos custos totais por venda", disse a empresa.
  • 15. BB Seguridade

    15 /17(Bovespa)

    No acumulado do ano, o lucro líquido da BB Seguridade atingiu 3,2 bilhões de reais até setembro, alta de 37,9% em relação ao mesmo período de 2014. O lucro líquido ajustado, que exclui o efeito dos eventos extraordinários, atingiu 2,9 bilhões de reais, crescimento de 26,5%. O resultado do banco, que reúne os negócios de seguros e previdência do Banco do Brasil, foi impactado pela menor sinistralidade em seguros nos segmentos de vida, habitacional e rural. Também ajudaram a maior margem operacional da BB Corretora, e o aumento das receitas com taxas de gestão de fundos de previdência. Em 2016, a empresa prevê mais rentabilidade e foco em produtos como previdência privada, que deverá ser um dos principais motores de crescimento.
  • 16. Marfrig

    16 /17(Paulo Whitaker/Reuters/Reuters)

    Prejudicial para diversas empresas, a alta do dólar ajudou a Marfrig a ter resultados positivos no ano. No acumulado do ano, a receita líquida da Marfrig somou 13,72 bilhões de reais, alta de 26%. Segundo ela, 61% de suas receitas vieram de unidades fora do Brasil e 80% do faturamento está atrelado a moedas estrangeiras. Além do efeito da alta do dólar sobre as receitas em outras moedas, a venda da unidade Moy Park também contribuiu para os resultados positivos. A unidade europeia foi adquirida pela concorrente JBS em junho, por 1,19 bilhão de dólares. Com o valor, a empresa irá diminuir sua dívida líquida e melhorar a alavancagem. Agora, a Marfrig, uma das maiores produtoras de carne bovina do Brasil, irá se focar nas exportações para Estados Unidos e China.
  • 17. Confira também

    17 /17(Pascal Pavani/AFP)

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