Com Uber, WeWork e coronavírus, Softbank tem pior prejuízo da história
O Softbank reportou 13 bilhões de dólares em prejuízo operacional, o maior de sua história e puxado por perdas de 18 bilhões de dólares no Vision Fund
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2020 às 06h54.
Última atualização em 18 de maio de 2020 às 14h00.
O que já estava ruim por dentro pode piorar com elementos externos. É o que mostrou o balanço anual do conglomerado japonês Softbank , divulgado na madrugada desta segunda-feira.
O grupo comandado pelo investidor Masayoshi Son divulgou prejuízo operacional anual de 1,36 trilhão de ienes (13 bilhões de dólares), o maior de sua história. Pela primeira vez desde 1994, o Softbank também anunciou que não pagará dividendos neste ano fiscal.
Do prejuízo, 18 bilhões de dólares veio só do fundo de investimento Vision Fund. Criado em 2017, o fundo já investiu em 88 startups. Mas, até agora, ganhou somente 4,8 bilhões de dólares. Com aportes sobretudo dos bilionários da Arábia Saudita, o Vision Fund tinha orçamento de 100 bilhões de dólares, e investiu em empresas como Uber, de transporte por aplicativo, WeWork, de escritórios compartilhados. No Brasil, o Softbank também investiu em empresas como Loggi, Banco Inter e Gympass.
A pandemia intensificou o cenário de perdas, sobretudo em setores mais sensíveis. Nomes como a Uber e sua rival chinesa Didi viram as operações derreterem diante do isolamento social, assim como a Oyo, de reserva de hotéis. O grupo afirmou em comunicado junto aos resultados que “a incerteza no negócio de investimentos vai continuar” no próximo ano fiscal caso a pandemia permaneça.
Além dos resultados, o Softbank também anunciou hoje que Jack Ma, fundador da Alibaba, sairá do conselho de administração do grupo. Ma é um aliado histórico de Masayoshi Son. Em seu lugar, devem entrar três novos conselheiros e a expectativa é que façam frente ao mandatário do Softbank.
As ações do Softbank fecharam o pregão na bolsa japonesa em alta de 1,03%, com as perdas já precificadas e um anúncio de que o conglomerado vai dar prosseguimento a seu plano de recompra de ações. O Softbank anunciou neste ano que vai recomprar 2 trilhões de dólares em suas próprias, o que vem evitando uma queda maior do papel neste ano. A empresa deve também aumentar a liquidez e se desfazer de alguns ativos — um dos mais visados é sua participação na própria Alibaba, vista como um dos grandes acertos do portfólio do Softbank.
O coronavírus e a crise prévia que já abatia o Softbank devem significar um ponto de virada no ecossistema de investimentos e empreendedorismo em todo o mundo. O ano de 2019 marcou o auge nos investimentos de fundos de capital de risco em todo o mundo.
Os investimentos de fundos de capital de risco passaram de 36 bilhões de dólares, em 2009, para mais de 290 bilhões no ano passado. Com juros em baixa histórica pelo mundo e uma economia estável pós-crise de 2008, investidores passaram a correr mais risco em busca dos novos “Google” ou “Facebook”, que poderiam um dia ir de promessa a realidade e valer centenas de bilhões de dólares. Na prática, muitos negócios se provaram pouco sustentáveis financeiramente.
Uma tendência de busca por negócios com perspectiva mais saudável de lucro e crescimento já estava no radar. Agora, virou questão de sobrevivência.