Rodrigo Santana, da Avanutri: ele saiu da periferia para abrir um negócio que já tem parceria com grandes times de futebol (Avanutri/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 28 de setembro de 2023 às 07h02.
O empresário Rodrigo Santana saiu cedo de casa, numa comunidade chamada Vila das Palmeiras. Filho de uma professora e de um motorista, foi tentar ganhar a vida como jogador de futebol no Rio de Janeiro. Mas logo percebeu um desafio desse setor: muitas pessoas boas não conseguiam se profissionalizar, porque as oportunidades eram escassas. “Aí, vi minha irmã evoluindo nos estudos e pensei que deveria focar também em uma graduação”, diz.
Entrou na Universidade Federal Fluminense e fez nutrição. No quarto período, em 2002, apresentou para uma professora uma planilha que tinha feito no Excel para ajudar no cálculo nutricional. A tutora gostou da ideia e pediu para ele apresentá-la para uma turma de pós-graduandos. No final da apresentação, a pergunta unânime foi: quanto a tabela valia.
Foi com essa pergunta que Santana entendeu que tinha nas mãos uma oportunidade de negócio. Pegou dinheiro emprestado para comprar CDs e passou a gravar neles as planilhas. Foi batendo de porta em porta dos nutricionistas para vender o programa, e assim criou a Avanutri, uma empresa com softwares para nutrição, em 2005.
“O sistema fazia quantidade de gasto energético, quanto a pessoa precisava conseguir, e dava para ir alimentando com mais e mais dados”, diz Santana. “Facilitava muito a vida do nutricionista”.
Três anos depois, em uma viagem para China, resolveu ampliar a linha de produtos para fornecer equipamentos que ajudassem os nutricionistas em seus trabalhos. Lançou balanças e medidores de altura. Alguns anos depois, investiu ainda mais forte na área chamada de “recuperação”, fornecendo equipamentos para atletas se recuperarem de lesões ou dores musculares.
Esse escopo, de equipamentos, software e área de recuperação de atletas constitui a Avanutri atual, que deve fechar 2023 faturando 25 milhões de reais. Para os próximos dois anos, a meta é bater os 45 milhões de reais de receita.
Para isso, Rodrigo e sua esposa, Rafaela, acabaram de investir 6 milhões de reais para ampliar a fábrica que tem em Três Rios de 400 para 15.000 metros quadrados. Também vão lançar novos equipamentos e expandir para América Latina.
A história da Avanutri começou a ganhar uma nova escala em 2015, quando a empresa conversou com o preparador físico do Botafogo sobre as necessidades que os times de futebol tinham de aperfeiçoar a recuperação dos jogadores.
“O futebol está cada vez mais intenso, as partidas são mais brigadas”, diz Santana. “O tempo de duração das partidas também é maior. Quase toda partida tem tempo de acréscimo. Isso leva a um desgaste muito intenso do atleta”.
Para resolver isso, a Avanutri começou a produzir equipamentos para ajudar na performance dos atletas. Um deles é uma bota de pressão pneumática que drena as veias das pernas de uma maneira mais veloz, recuperando as fadigas musculares das pernas dos atletas. Outro é um produto chamado Pistola Pró Fisio, um massageador profissional que proporciona o relaxamento de todos os grupos musculares.
Com essa linha de recuperação, a Avanutri já atende todos os times do Rio de Janeiro, como Botafogo, Flamengo e Fluminense, além de outros clubes nacionais como Cruzeiro, São Paulo, Corinthians e Grêmio.
A receita desse braço já representa 55% do faturamento da empresa. Uma justificativa, claro, é que o tíquete médio é bem mais alto do que os equipamentos para consultórios de nutricionistas ou do que o software. Para se ter uma ideia, instalar uma ala de recuperação com os equipamentos da Avanutri custa, em média, 100.000 reais. Para os nutricionistas, o tíquete médio é 3.500 reais.
Para o futuro, querem expandir para outros clubes brasileiros e também atuar com seleções de futebol. Não só brasileira, mas também de países como Paraguai e Uruguai. Isso deverá contribuir para a meta de bater 45 milhões de reais em faturamento nos próximos dois anos.
Todos os produtos que a Avanutri vende são produzidos pela própria empresa em sua fábrica no estado do Rio de Janeiro. Apenas uma parte do equipamento, chamado de microcontrolador, é que vem de fora. Toda montagem, desenvolvimento e testes são feitos por aqui, inclusive com desenvolvimento de protótipos em centros de tecnologia de universidades como a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“E temos pessoas nos clubes que nos trazem suas demandas para que a gente consiga pensar em novos produtos”, afirma Santana. “Os clubes precisam muito dessa individualidade para que não fiquem reféns de tecnologias que são desnecessárias para seus ateltas”.
Para atingir a meta de crescer o faturamento, a Avanutri acabou de inaugurar uma nova fábrica de 15.000 metros quadrados. De área construída são 8.000 metros quadrados. A nova planta industrial vai possibilitar escalar a produção de equipamentos e desenvolver novas tecnologias.
“Nos últimos cinco anos, investimos R$ 22 milhões em pesquisa e desenvolvimento”, afirma Santana. “Passamos de 7.200 para quase 40.000 produtos vendidos por ano. Hoje, dominamos 80% do mercado brasileiro de equipamentos para nutrição”.
Quando a Avanutri começou, eram só Rodrigo e sua esposa, Rafaela, cuidando do negócio. A empresa funcionava em um quarto conjugado em Copacabana. “A empresa tinha um quartinho que era menor que minha sala de reunião na empresa atual”, diz Santana. “Tinha um quarto, sala e banheiro. Ali a gente atendia o telefone, fazia as vendas do software, começou desse jeito”.
Agora, quase 20 anos depois, as metas são bem maiores do que aquele conjugado em Copacabana. Eles querem:
São as metas pelas quais a Avanutri está correndo atrás. Ajudando os atletas a correrem também.