Com preço abaixo do esperado, Uber faz estreia na bolsa
Empresa de transporte por aplicativo completa sua abertura de capital precisando provar que pode ser lucrativa e dois dias após greve de motoristas
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2019 às 06h39.
Última atualização em 10 de maio de 2019 às 06h42.
Um dos dias mais esperados de 2019 no mercado norte-americano finalmente chegou: a empresa de transporte por aplicativo Uber vai começar nesta sexta-feira, 10, a operar na bolsa de Nova York, completando oficialmente seu IPO (oferta inicial de ações).
É o maior IPO desde que a empresa de tecnologia chinesa Alibaba abriu capital, em 2014. A ação foi precificada em 45 dólares, conforme informado na noite desta quinta-feira, 9, fazendo a empresa atingir valor de mercado de 82,4 bilhões de dólares e arrecadar 8,1 bilhão de dólares. O preço, contudo, foi conservador: há algumas semanas, a expectativa da Uber era atingir valor de mercado de 120 bilhões de dólares, mas o time do presidente Dara Khosrowshahi decidiu manter os pés no chão.
Motivos para cautela não faltam. O IPO da concorrente Lyft, que abriu capital na bolsa em março, chegou a valor de mercado de 24,3 bilhões de dólares, mas as ações caíram 27% desde então.
Uber e Lyft têm basicamente os mesmos problemas: atingir a lucratividade enquanto lidam com eventuais regulações de governos e expandem o crescimento. Só em 2018, a Uber teve prejuízo de 3 bilhões de dólares, em meio a faturamento de 11,3 bilhoes. O único caminho rumo à lucratividade parece ser justamente deixar de lado os motoristas e empregar carros autônomos, o que está décadas longe de acontecer.
Enquanto isso, na quarta-feira, 8, a Uber viu seus motoristas fazerem uma espécie de greve mundial, batizada de #UberOff (Uber desligado, em inglês) e destinada a pedir aumento no valor das corridas e no repasse aos motoristas. Em São Paulo, a estimativa é que 30% dos motoristas tenham participado, segundo a Associação de Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp). No Brasil, a Uber tem mais de 600.000 motoristas.
A paralisação também pode pressionar ainda mais legisladores mundo afora a apresentarem regulações às empresas de transporte por aplicativo. No Brasil, ao menos uma boa notícia: na quinta-feira, 9, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por barrar decisões municipais que limitavam a operação — como um decreto de João Doria (PSDB), de 2016, que proibia placas de fora de São Paulo de circularem e já havia sido derrubado por liminares.
Não que toda regulação seja mal vista. Governantes podem dirigir os esforços não a barrar a operação ou classificar os motoristas como empregados — algo que nem chegou a ser uma pauta deles no Brasil —, mas a garantir que a porcentagem paga a eles seja digna. Quando o sino da bolsa de Nova York tocar hoje às 10h30 (horário de Brasília), a vida real terá de fato começado para a Uber. Serão grandes desafios.