Cogna mostra que os tempos difíceis já chegaram para a educação
Companhia, ex-Kroton, deve ter queda na receita e prejuízo no primeiro trimestre. Mas a pandemia também deve trazer oportunidades
Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2020 às 06h50.
Última atualização em 21 de maio de 2020 às 07h07.
Maior empresa de educação do país, a Cogna divulga resultados nesta quinta-feira, 21, e deve mostrar que os tempos difíceis trazidos pela pandemia do novo coronavírus já chegaram para o setor. O ano de 2020 tinha a promessa de ser positivo, mas o vírus chegou com mais força no Brasil em março e atrapalhou o período de matrículas das instituições de ensino no início do ano, quando elas atraem a maior parte de seus alunos. Muitas delas estenderam os prazos de matrícula, mas o estrago foi feito. A estimativa do mercado é de queda nas matrículas, em especial nos cursos presenciais, mais caros.
Para a Cogna, a estimativa do banco BTG Pactual, publicada em relatório no início de maio, é de redução de 18% na receita vinda do ensino superior, puxada por uma queda de 11% na base de alunos presenciais e também na redução de alunos do Fies. A redução é compensada em parte pela alta de 7% no segmento de ensino à distância. Apesar da redução expressiva em cursos presenciais de ensino superior, as vendas devem encolher apenas 8%, para 1,69 bilhões de reais, devido ao bom desempenho do segmento de ensino básico, que deve crescer 16%, para 621 milhões de reais.
O banco estima ainda redução de 35% no ebitda da companhia, para 524 milhões de reais, e perda contábil de 22 milhões de reais no período, causado principalmente por um aumento nas despesas financeiras. No primeiro trimestre de 2019, a Cogna teve lucro de 250 milhões de reais.
Em um período de incertezas, a Cogna se esforça para reforçar o caixa. A companhia aprovou essa semana a emissão de 500 milhões de reais em debêntures, com prazo de três anos. O dinheiro captado servirá para alongar a dívida da companhia e fazer aportes de capital em suas controladas. Em fevereiro, a Cogna já havia concluído uma oferta de ações (follow-on) que captou 2,6 bilhões de reais com foco em reforçar o caixa no contexto da pandemia. A empresa ressalta que não tem pagamentos de dívida significativos previstos para 2020.
Segundo o BTG, as oportunidades para as empresas do setor listadas na bolsa continuam no longo prazo. Dentre elas estão a consolidação do mercado, o crescimento do ensino à distância e as oportunidades no ensino básico. Segmento em que a Cogna se destaca – a divisão de ensino básico da companhia, a Saber, tem 52 unidades e 32 mil alunos matriculados. “Mas, como a educação é um negócio previsível (com níveis de matrícula, desistência e inadimplência altamente relacionados às dinâmicas macroeconômicas), prevemos baixo potencial de ganhos este ano”, dizem os analistas do banco.
Um desafio das companhias do setor agora é garantir alguma captação nas matrículas de meio de ano. Para isso, a batalha de preços nas mensalidades deve ficar mais acirrada. As dificuldades em manter aulas presenciais também podem aumentar o interesse dos alunos e acelerar a expansão dos cursos à distância, modalidade importante para a Cogna.
Passado o tsunami do novo coronavírus, a companhia pode aproveitar o caixa reforçado e ir às compras. A crise causada pela pandemia deve abalar empresas de médio e pequeno porte no setor de educação, favorecendo operações de fusão e aquisição. Nessa hora, gigantes como a Cogna levam vantagem.