Homem tira foto em frente a faixa de protesto contra a morte de João Alberto Silveira Freitas, morto por espancamento por seguranças em loja do Carrefour em Porto Alegre (Diego Vara/Reuters)
Marina Filippe
Publicado em 23 de novembro de 2020 às 19h55.
Última atualização em 23 de novembro de 2020 às 20h30.
Nesta segunda-feira, 23, 12 gigantes companhias de bens de consumo, sendo todas elas fornecedoras da rede Carrefour, assumiram um compromisso público de equidade racial após a morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, asfixiado na noite desta quinta-feira 19, por dois seguranças em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre, conforme indicou o primeiro resultado da necropsia realizada pela perícia da cidade.
Juntas, a BRF, Coca-Cola, PepsiCo, Danone, General Mills, Heineken, JBS, Kellogg, L'Oréal, Mars, Mondeléz International e Nestlé, iniciam o manifesto se solidarizando com a dor de familiares e amigos de João Alberto Silveira Freitas. Em seguida, as companhias assumem a realidade do racismo no país e suas consequências.
"Vamos fortalecer o compromisso de nossas empresas com ações concretas para combater o racismo estrutural. Criaremos um plano de ação em parceria com organizações e especialistas que possuem um conhecimento legítimo dessa causa. Tornaremos o documento público o mais rápido possível — e prestaremos contas regularmente.
Reconhecemos que temos de mudar essa realidade e convidamos outras empresas e indústria a se unirem nesse compromisso pela equidade racial", diz a imagem publicada nas redes sociais das empresas participantes do acordo. As 12 companhias respondem pela contratação de 235.000funcionários no Brasil.
Outras empresas que não participam deste comunicado também se manifestaram nos últimos dias, entre elas a P&G e a Ambev.
"Convocamos, hoje mesmo, o Carrefour e pedimos medidas imediatas e efetivas. Temos o compromisso inegociável de promover a equidade racial em todo o nosso ecossistema, o que inclui nossos parceiros, clientes e fornecedores e estamos prontos para trabalhar junto com eles para promover mudanças estruturais com urgência", dizia a publicação da fabricante de bebidas.
Na sexta-feira, 20, a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial divulgou uma nota de repúdio e afirmou ter removido o Carrefour da iniciativa até então com 73 companhias. O Instituto Ethos, que trabalha há mais de 20 anos a responsabilidade social e corporativa, afirmou por meio de nota: "O Ethos vem por meio desta nota indicar que esses casos, recorrentes e não isolados, podem ser solucionados a partir da revisão da atividade de segurança privada no país, com o envolvimento do setor e o compromisso efetivo das empresas que contratam esse tipo de serviço no sentido de influenciar a criação de uma nova referência dessa atividade no Brasil. Que o assassinato de João Alberto Silveira Freitas nos indigne suficientemente para gerar transformações concretas em todos os setores da sociedade. E que não sejam mais necessárias notas de repúdio".
Noel Prioux, presidente da companhia no Brasil, publicou um vídeo pedindo desculpas pelo que chamou de “uma tragédia de dimensões incalculáveis”. “Antes de tudo, meus sentimentos à família de João Alberto e meu pedido de desculpas aos nossos clientes, à sociedade e aos nossos colaboradores”. Por isso, o Carrefour assumiu compromisso público de combate ao racismo estrutural. “Comunicaremos nos próximos dias todas as nossas iniciativas e o comitê dedicado exclusivamente a esta causa” (Veja o vídeo na íntegra abaixo).
Anteriormente, o presidente global da rede, Alexandre Bompard, havia cobrado o posicionamento local via uma publicação no Twitter. "Meus valores e os valores do Carrefour não compactuam com racismo e violência. Espero que o Grupo Carrefour Brasil se comprometa, além das políticas já implantadas pela empresa".