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Chobani: o eldorado dos imigrantes

David Gelles © 2016 New York Times News Service Sob muitos aspectos, a empresa de iogurtes Chobani representa a clássica história de sucesso dos imigrantes. Seu criador, Hamdi Ulukaya, é um imigrante turco de origem curda. Ele comprou uma velha fábrica de iogurte que havia encerrado as atividades no interior do estado de Nova York, […]

HAMDI ULUKAYA, DA CHOBANI: o empresário recebeu ameaça por ajudar os imigrantes / Alexandra Hootnick/The New York Times
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Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2016 às 18h34.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h35.

David Gelles
© 2016 New York Times News Service

Sob muitos aspectos, a empresa de iogurtes Chobani representa a clássica história de sucesso dos imigrantes.

Seu criador, Hamdi Ulukaya, é um imigrante turco de origem curda. Ele comprou uma velha fábrica de iogurte que havia encerrado as atividades no interior do estado de Nova York, montou uma segunda fábrica em Twin Falls, Idaho, e emprega atualmente duas mil pessoas na fabricação de iogurte grego.

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Mas durante a corrida eleitoral americana, a extrema-direita resolveu encrencar com a Chobani: para eles, um número muito grande de funcionários era refugiado.

À medida que Ulukaya começou a se posicionar politicamente – contratando mais de 300 refugiados em suas fábricas, criando uma fundação para ajudar imigrantes e viajando à ilha grega de Lesbos para testemunhar a crise em primeira mão – ele e a empresa se tornaram alvo de ataques racistas em mídias sociais e de artigos conspiratórios em sites de direita como o Breitbart News.

Agora muitos falam sobre boicotar a Chobani. Ulukaya e a empresa recebem provocações racistas no Twitter e Facebook. Sites extremistas publicam histórias falsas, afirmando que Ulukaya quer “abarrotar os Estados Unidos de muçulmanos”. Até o prefeito de Twin Falls recebeu ameaças de morte, em parte por seu apoio à Chobani.

O discurso de ódio é cada vez mais comum na internet.

“O que está acontecendo com a Chobani é mais uma dificuldade na batalha entre as vozes da xenofobia e as vozes que defendem políticas migratórias racionais”, afirmou Cecillia Wang, diretora do Projeto de Direitos dos Imigrantes da União Americana de Liberdade Civil.

A Chobani e Ulukaya não quiseram comentar o artigo. Representantes do Breitbart não responderam à tentativa de contato.

Ulukaya chegou ao interior do estado de Nova York nos anos 1990 para estudar. Em 2002, já fazia e vendia queijo feta a partir de uma receita de sua família. Alguns anos depois, descobriu que uma fábrica local de queijo e iogurte havia fechado as portas e estava à venda. Com um empréstimo de US$800 mil junto à Administração de Pequenas Empresas, um órgão do governo, comprou a fábrica e começou a vender o iogurte Chobani em 2007.

À medida que o negócio crescia, Ulukaya precisava de mais ajuda. Quando soube que havia um centro de reassentamento de refugiados em uma cidade próxima, perguntou se alguns dos recém-chegados gostariam de trabalhar na Chobani. Ulukaya fornecia transporte aos novos funcionários e trouxe tradutores para ajudar no trabalho. Aos refugiados, ele pagava mais que o salário mínimo, ao contrário do que ocorria com outros funcionários da fábrica.

Quando a Chobani abriu a fábrica em Twin Falls, Ulukaya voltou a procurar um centro de refugiados na região. Agora, a empresa emprega refugiados vindos do Iraque, Afeganistão e Turquia, entre outros países.

“A partir do momento em que o refugiado consegue um emprego, ele deixa de ser um refugiado”, afirmou Ulukaya em uma palestra este ano. Atualmente, a Chobani tem um faturamento anual de cerca de 1,5 bilhão de dólares com a venda de iogurtes. No ano passado, Ulukaya assinou um compromisso em que promete doar a maior parte de sua fortuna para ajudar os refugiados.

O trabalho da Chobani com os refugiados passou despercebido até janeiro deste ano, quando Ulukaya falou no Fórum Mundial da Economia, em Davos na Suíça. Sua mensagem – de que as empresas precisam fazer mais para ajudar os refugiados – se espalhou.

“Seu discurso foi extremamente bem recebido na ocasião. Ali estava um exemplo de alguém que foi muito além das boas intenções dos participantes em Davos e estava realmente investindo”, afirmou Kenneth Roth, diretor-executivo da Human Rights Watch, que estava presente no evento.

A Cisco, a IBM, a Salesforce e outras empresas passaram a fornecer vários tipos de ajuda aos refugiados. Essas e outras empresas começaram a trabalhar em parceira com a Tent Foundation, criada por Ulukaya no ano passado.

Mas, ao mesmo tempo em que uma aliança de empresas conhecidas estava trabalhando em parceria, as críticas on-line se concentraram na Chobani. Pouco depois do discurso de Ulukaya em Davos, o site de extrema-direita WND publicou um artigo originalmente intitulado “Chefão do iogurte promete encher os Estados Unidos de muçulmanos”.

Este ano, o site conservador Breitbart começou a publicar uma série de artigos enganosos sobre a Chobani. Pouco depois, o prefeito de Twin Falls, Shawn Barigar, foi colocado no meio de uma teoria conspiratória.

“Começaram a dizer que eu fazia parte de uma ação para encobrir o fato de que queríamos manter os refugiados a salvo para que a Chobani tivesse funcionários, e que eu estaria recebendo dinheiro do governo Obama para ajudar a Chobani a contratar quem eles quisessem. Uma loucura.” Com o endurecimento dos comentários on-line, Barigar e a esposa começaram a receber ameaças de morte.

Mas Ulukaya não parece se importar. Recentemente, participou de uma mesa redonda com o presidente Barack Obama e outros empresários, onde discutiram estratégias para que as empresas ajudem os refugiados.

E seu trabalho com os refugiados é parte de uma série mais ampla de iniciativas. Recentemente, ele deu 10 por cento das ações da Chobani aos funcionários e tem oferecido licença maternidade e paternidade paga para todos os funcionários, incluindo os do chão da fábrica.

“Ele é o pesadelo dos xenófobos. É um imigrante que não está competindo por vagas de emprego, mas está criando inúmeros empregos. Ele anda na completa contramão da narrativa da extrema-direita”, afirmou Roth.

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