Tássia Ginciene, da Organon: método mais simples e menos invasivo que outros métodos contraceptivos (Divulgação/Divulgação)
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Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 18h38.
Última atualização em 10 de dezembro de 2025 às 19h07.
O mercado de contraceptivos de longa duração entrou em uma fase de expansão acelerada. Em poucos meses, decisões do governo federal e da ANS mudaram o eixo da demanda e abriram espaço para uma disputa que está só no começo.
A Organon, que completou quatro anos no Brasil, virou protagonista desse movimento. A farmacêutica projeta fechar 2025 com 59% de participação nos contraceptivos hormonais de longa duração, quase o dobro dos 29,5% registrados no ano passado.
O salto veio do Implanon — o implante subdérmico de etonogestrel que age por três anos — e de um contrato de 244 milhões de reais com o SUS para a entrega de 1,8 milhão de unidades até 2026.
Esse é o primeiro ciclo em que o implante entra simultaneamente no SUS e nos planos de saúde, ampliando o acesso a um método de alta eficácia e puxando o maior crescimento da história recente da companhia no país. Só este ano, a demanda pelo Implanon aumentou 370% em relação a 2021.
“A gente chega no fim do ano atingindo esse objetivo aspiracional de 35% a mais do que a gente já havia planejado de entregar”, afirma Tássia Ginciene, diretora de Relações Institucionais da Organon. “Com essa incorporação, a gente conseguiu entregar quase 8 milhões de dólares a mais dentro das vendas.”
O plano agora é repetir a estratégia em 2026. A Organon estabeleceu uma nova meta para crescer 30% acima do resultado previsto para 2025, com foco no avanço do implante no setor público, nos planos e no canal privado.
LARC, a sigla em inglês para long-acting reversible contraception, é o grupo de métodos contraceptivos de longa duração. No caso do Implanon, o hormônio sintético etonogestrel é inserido no braço da mulher em um procedimento rápido, com anestesia local, e atua por até três anos.
A eficácia de 99,95% reduz falhas associadas ao uso incorreto de pílulas e injetáveis. Como explica Tássia, esse método é mais simples e menos invasivo que outros métodos contraceptivos, a exemplo o DIU (Dispositivo Intrauterino).
A duração contínua do Implanon é chave para o planejamento familiar, sobretudo entre jovens e adolescentes, que enfrentam maior risco de gestação não planejada. O Ministério da Saúde estima que 4,4 milhões de brasileiras podem optar por esse tipo de método no SUS até 2030.
A mudança regulatória começou no setor público. Em setembro, o Ministério da Saúde recebeu as primeiras 100 mil unidades do implante e iniciou a capacitação de profissionais em todos os estados. A distribuição dos 500 mil dispositivos previstos para 2025 prioriza regiões com maior índice de gravidez precoce — hoje, o Brasil registra cerca de 300 mil partos por ano entre meninas de 10 a 19 anos.
Antes dessa incorporação, a única opção de longa duração disponível no SUS era o DIU de cobre, que exige equipe especializada e preparo prévio da paciente.
Em paralelo, a ANS determinou que todos os planos de saúde devem oferecer o implante sem custo adicional para mulheres entre 18 e 49 anos. A medida começou a valer em 1º de setembro e já garante 10% das vendas privadas do produto, com tendência de expansão em 2026. Essas mudanças impactam diretamente nos resultados da Organon.
Enquanto o implante é importado, o Complexo Verde sustenta a expansão fabril e a estratégia industrial. O diretor-executivo de operações, Juliano Pedroso, afirma que a ampliação das parcerias é uma alavanca estrutural:
“A ampliação da terceirização viabilizará uma melhor utilização das áreas produtivas e aumentará a nossa eficiência operacional, permitindo diluir os custos fixos da operação e gerar ganhos financeiros para o negócio, reforçando a nossa competitividade no mercado e garantindo a nossa sustentabilidade a longo prazo”.
O plano é dobrar os volumes atuais e ampliar a participação brasileira entre os 140 países onde a Organon atua. A unidade também avança em eficiência ambiental: usa 3.210 placas solares, reduziu o consumo de água em 27% desde 2021 e mantém uma reserva com cerca de 90 espécies de aves.
O mercado de implantes subdérmicos cresceu rápido. Desde 2021, a demanda pelo Implanon aumentou 370%, enquanto o conjunto dos contraceptivos hormonais de longa duração avançou 350%.
O impulso veio de dois vetores: a decisão do SUS de comprar 1,8 milhão de unidades até 2026 e a obrigatoriedade de oferta pelos planos de saúde. No setor privado, o produto custa entre 2 mil reais e 4 mil reais, o que explica o impacto da cobertura.
Em paralelo, dois modelos de DIU hormonal disponíveis no SUS respondem por 19,1% e 4,6% do mercado. A tendência agora é de escalonamento, com público potencial superior a 4 milhões de brasileiras.
A trajetória recente deixa lições práticas: a primeira é a adoção de metas ambiciosas e compartilhadas, que aumentam engajamento e clareza operacional.
Em segundo lugar, a empresa busca integrar regulação, produção e distribuição para capturar janelas de oportunidade — como a entrada simultânea no SUS e nos planos. A Organon também usa a fábrica como alavanca financeira, com terceirização da produção, o que reduz custos fixos.
A lógica é direta: metas claras, leitura rápida do ambiente e execução disciplinada.
Sediada em Jersey City, principal cidade do estado americano de Nova Jersey, a farmacêutica Organon nasceu em 2021 após a cisão da MSD, com foco global em saúde da mulher.
Em quatro anos no Brasil, a empresa já atende 1 milhão de pacientes e responde por 9% do faturamento de 2,07 bilhões de dólares do grupo em mercados emergentes. A operação é liderada pelo CEO Ricardo Lourenço, que conduz o reposicionamento da companhia e a expansão da fábrica de Campinas — o Complexo Verde.
A planta é dirigida por Juliano Pedroso, responsável pela estratégia de terceirização industrial, que hoje representa 45% da operação e deve atingir 53% no curto prazo com os acordos com MSD e Sanofi. A meta é dobrar a produção para ganhar escala e ampliar exportações para a América Latina.
Em destaque, os resultados em quatro anos:
• A Organon tem 9% do faturamento de US$ 2,07 bilhões do grupo nos mercados emergentes, e tem como carro-chefe a saúde da mulher.
• Na linha de saúde da mulher e planejamento sexual e reprodutivo, a Organon tem previsão de crescimento de 143% até 2029.
• A Organon tem 29,5% de market share no mercado de contraceptivos hormonais de longa duração no país, atendendo a cerca de 1 milhão de brasileiras.
• Segue com a liderança consolidada no mercado público de contraceptivos, com o Implanon, com market share de 81% em 2024.
• Em comparação com 2021, o primeiro ano de atuação da Organon no país, a procura pelo Implanon aumentou 370% num mercado que cresceu 350%.
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