Para britânica Lloyd's, Brasil é o que mais cresce nos Bric
Em entrevista a EXAME, presidente do conselho afirma que seguradora chegará a US$ 200 milhões de prêmios no país este ano
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Rio de Janeiro - O inglês Peter Levene, presidente do conselho da mais antiga seguradora do mundo, a britânica Lloyd's, esteve há poucos dias no Rio de Janeiro para falar das oportunidades de negócios abertas no país, potencializadas pela Copa, Olimpíadas e pela exploração de petróleo na camada pré-sal.
Em entrevista a EXAME, Levene elogiou as mudanças no setor de seguros e afirmou que, para o Lloyd's, o Brasil é o país que mais cresce entre os Bric (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China). Leia, a seguir, os principais trechos.
EXAME - O mercado brasileiro de resseguros é ainda embrionário. Como estão os negócios do Lloyd's no país?
Peter Levene - Muito, muito bem. Fomos a primeira companhia de resseguros a conseguir a licença no Brasil há dois anos, quando caiu o monopólio da estatal IRB [Instituto de Resseguros do Brasil]. Neste ano, vamos chegar a 200 milhões de dólares em prêmios [o mesmo que receita no setor de seguros], quase o dobro do ano passado.
EXAME - E qual é a posição do Brasil para o Lloyd's em relação aos demais países emergentes?
Levene - Em Londres, as pessoas se surpreendem quando respondo que, para o Lloyd's, em vez de ser a China, o Brasil é o maior mercado e também o que cresce mais rápido entre os países do Bric. Hoje fazemos mais negócios no Brasil do que na Rússia, Índia e China juntos. Nosso negócio na China é minúsculo. Na Índia, é um desastre. Não podemos operar lá desde 1948. O governo controla o setor exatamente como acontecia no Brasil com o IRB.
EXAME - Mas o senhor não estava tão confiante, em 2007, quando esteve no Brasil e criticou algumas regras que estavam sendo discutidas na época.
Levene - É verdade. Há três anos, vim ao Brasil e tive longas discussões com os reguladores do setor. Honestamente, achei que as coisas não aconteceriam muito rapidamente, mas aconteceram. As regras foram melhoradas e possibilitaram que as empresas tivessem interesse em atuar aqui. Na verdade, o Brasil se transformou nas últimas duas décadas.
EXAME - Quais os sinais mais importantes dessa transformação?
Levene - A estabilidade econômica e o crescimento consistente dos últimos quatro anos permitiram a entrada de mais 10 milhões de brasileiros na classe média. Isso já torna o país altamente atrativo para o setor de seguros. Mas os grandes eventos esportivos, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, colocam o país numa posição de destaque muito maior.
EXAME - Como esses eventos devem impactar o país?
Levene - Pelas nossas estimativas, cerca de 60 bilhões de dólares serão investimentos em grandes obras de infraestrutura. Tive o privilégio de visitar a China durante as Olimpíadas de Pequim e ver como esse tipo de evento pode atuar como catalisador de transformação não só da infraestrutura, mas também da imagem de um país. Os Jogos Olímpicos que acontecerão em Londres, em 2012, estão causando ganhos econômicos mesmo na Inglaterra, que tem uma economia bastante madura. O maior estádio está sendo construído numa área que era totalmente deteriorada e que está sendo completamente revigorada.
EXAME - O senhor acha que o Brasil saberá aproveitar essa oportunidade?
Levene - Estou impressionado como o governo brasileiro vem aproveitando as oportunidades abertas pela Copa e pelas Olimpíadas para mostrar o desempenho econômico dos últimos anos. O governador Sérgio Cabral [do Rio de Janeiro] também revelou-se um verdadeiro vendedor e ajudou a nos convencer que deveríamos instalar nossa sede no Rio. Ele esteve em Londres para entender os preparativos para as próximas Olimpíadas. Acho que isso tudo vem ajudando as pessoas a entender que o Brasil não é só o país do carnaval, mas um lugar sério para fazer negócios.
EXAME - O desastre do vazamento de petróleo no Golfo do México deve mudar algo nas explorações da Petrobras na camada pré-sal?
Levene - Sem dúvida é uma questão que exige muito cuidado. Imagina que eles vão a 7.000 metros de profundidade, sem enxergar nada, com uma tecnologia completamente nova. Sabemos que as coisas podem dar e dão errado. É por isso que existe seguro. No caso da BP, que toma o risco para si e faz poucos seguros, apenas a plataforma era segurada por nós. Isso nos custou cerca de 500 milhões de dólares, que o Lloyd's pagou em duas semanas.