BRF: Operação Trapaça prolonga crise na companhia
Depois de Abilio Diniz, ex-presidente do conselho, ser indiciado pela PF, BRF enfrenta ação do Ministério da Agricultura.
Mariana Desidério
Publicado em 27 de outubro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 27 de outubro de 2018 às 08h02.
São Paulo – A crise na gigante produtora de carnes e processados BRF continua. Na quinta-feira (25), fiscais do Ministério da Agricultura fizeram inspeção em pelo menos seis unidades da companhia. A ação aconteceu dez dias após a Polícia Federal divulgar seu relatório sobre a Operação Trapaça, que investiga supostas fraudes da BRF em testes de salmonela.
Com a divulgação do relatório, o Ministério da Agricultura abriu um processo para investigar se a BRF tentou burlar e dificultar os trabalhos dos fiscais agropecuários em seus frigoríficos. A operação do ministério envia um sinal ruim aos investidores e reforça a impressão de que o caso pode não estar totalmente resolvido, segundo uma fonte.
Desdobramento da Operação Carne Fraca, que investigou irregularidades em várias empresas do setor, a Operação Trapaça levou a Polícia Federal a indiciar, na semana passada, 43 pessoas, por suspeitas de crimes contra a saúde, estelionato, organização criminosa e falsidade ideológica. Entre os indiciados estão Abilio Diniz, ex-presidente do conselho de administração da BRF, e Pedro Faria, ex-CEO da companhia. Em notas, ambos negaram que tenham cometido qualquer irregularidade.
No relatório de 405 páginas o delegado Mauricio Moscardi, da Polícia Federal em Curitiba, afirma que, a partir da análise de conversas por mensagens de e-mails e WhatsApp, “concluiu-se que a prática das condutas delitivas não se restringia ao círculo das equipes técnica e gerencial das fábricas da BRF”.
Na avaliação da PF, a cúpula da empresa “agia de forma organizada e mantinha comunicação permanente, objetivando iludir auditorias, programadas ou inopinadas, em plantas industriais da BRF, eventos nos quais produtos irregulares eram retirados de depósito e escondidos da fiscalização”.
A companhia afirmou em nota que “é de interesse máximo de sua administração que os fatos sejam esclarecidos” e que afastou preventivamente todos os funcionários citados no relatório do inquérito da Polícia Federal.
A empresa está em fase inicial de negociação de um acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU). Pedro Parente, presidente da empresa, teria atuado pessoalmente em sondagens com a CGU.
Entre os fatos que precisarão ser explicados em um eventual acordo está o funcionamento de um esquema de pagamento de propinas, citado pela PF no relatório final, para fiscais do Ministério da Agricultura em troca de facilidades nos mercados interno e externo de carnes da companhia.
Resultados
As ações da BRF tiveram forte queda a partir do dia 8 de outubro, quando a empresa divulgou um novo plano para se recuperar de uma série de prejuízos, margens baixas, e embargos de venda para a Europa, criados justamente após a Operação Trapaça.
Uma das maneiras de alcançar um balanço mais positivo é o plano de desinvestimento da empresa, já anunciado, que pretende levantar cerca de 5 bilhões de reais com vendas de ativos.
Pedro Parente assumiu a presidência da BRF em junho deste ano com a missão de tirar a empresa de uma forte crise. Atualmente, ele acumula a posição com o cargo de presidente do Conselho de Administração da companhia.