Negócios

Bosch confessa cartel de 13 anos no Brasil

A Bosch, em sua autodenúncia ao Cade, revelou as tratativas e estratégias que levaram à formação de ajustes anticompetitivos de 2000 a 2013


	As empresas Bosch, executivos e funcionários admitiram o cartel, principalmente na área de fornecimento de velas de ignição
 (Divulgação Bosch)

As empresas Bosch, executivos e funcionários admitiram o cartel, principalmente na área de fornecimento de velas de ignição (Divulgação Bosch)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de setembro de 2014 às 07h54.

São Paulo - A multinacional alemã Bosch, maior fornecedor mundial de componentes automotivos, fechou acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão antitruste do governo federal, e confessou a prática de cartel no Brasil por uma longa jornada, de 2000 a 2013.

O pacto foi firmado no final de julho pelas empresas Robert Bosch GmbH (Alemanha) e Robert Bosch Ltda (Brasil), que citaram como suposta partícipe a Cerâmica e Velas de Ignição NGK do Brasil Ltda.

A Bosch, em sua autodenúncia, revelou que as tratativas e estratégias que levaram à formação de ajustes anticompetitivos se davam por meio de telefonemas, em reuniões, jantares e troca de e-mails.

As empresas Bosch, executivos e funcionários admitiram o cartel, principalmente na área de fornecimento de velas de ignição. Em 2014, "a partir da adoção de uma nova política interna e externa empresarial", a Bosch decidiu delatar o cartel, "realinhando-se às regras e padrões de condutas nacionais e internacionais referentes às práticas concorrenciais".

O Ministério Público Federal e o Ministério Público de São Paulo subscreveram o acordo e já estão investigando a atuação do cartel. Promotores e procuradores especialistas no combate a delitos econômicos e a cartéis já começaram a rastrear os negócios das duas empresas.

Ainda não há uma estimativa sobre valores auferidos pelo cartel. Os investigadores destacam que a Bosch e a NGK são, atualmente, os únicos fabricantes de velas de ignição no País.

Eles observam que, no período dos fatos, as empresas "mantinham condutas anticompetitivas, consistentes na fixação e aumento de preços e condições comerciais uniformes para fabricantes de equipamento original, para o mercado de reposição independente e para certas montadoras de automóveis, alocação de clientes, divisão de mercados dentre concorrentes e compartilhamento de informações comerciais sensíveis".

Combinação

A múlti alemã admitiu "combinação de estratégias de produtividade parelhada e aumentos futuros de preços, como forma de evitar quedas em suas participações de mercado". O acordo de leniência destaca que essas condutas teriam afetado o mercado nacional, em especial, as montadoras de automóveis Volks, General Motors, PSA (Peugeot Citroën), Renault, Ford e Fiat.

Segundo a Bosch, práticas internacionais afetaram também as empresas Daimler/Mercedes-Benz, Daimler/Chrysler e Stihl, "com efeitos anticoncorrenciais no Brasil". Houve troca de informações com a matriz da Bosch alemã, que tinha conhecimento dos "combinados" entre as empresas, "já que naquele país trocaram informações sobre seu cliente comum, a Daimler, envolvendo projetos com uma série de motores modernos V6 e V8 da Mercedes-Benz, montados na Alemanha".

"Tais acordos tiveram efeitos no mercado brasileiro, já que afetaram o preço de todos os carros onde tais motores foram utilizados, importados daquele país", apontam investigadores.

Durante a formalização do acordo foram identificados entre os envolvidos no esquema pessoas jurídicas dos dois grupos e pessoas físicas ligadas às empresas.

O acordo entre as partes permite que, em troca da confissão dos fatos e da colaboração incondicional das empresas lenientes para com as autoridades, lhes seja conferida a imunidade administrativa e processual penal com relação à prática da cartel - classificado como ilícito administrativo e criminal - e delitos correlatos, como cartel em licitação e associação criminosa.

O benefício pode ser pleiteado apenas pela empresa que, em primeiro lugar, comunica a ação do cartel.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:AutoindústriaBoschCadeCartelEmpresas alemãsIndústriaIndústrias em geral

Mais de Negócios

Eles transformaram uma moto financiada num negócio milionário de logística

Nestlé fecha parceria para colocar Kit Kat nas lojas da Brasil Cacau

Da mineração ao café: as iniciativas sustentáveis da Cedro para transformar a indústria

Shopee inaugura seu primeiro centro logístico em Manaus