Um bom empresário procura soluções, não desculpas
Em vez de atribuir o próprio fracasso às turbulências da economia, o empreendedor de sucesso aproveita o período de baixa para crescer
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
O ano de 2009 foi um dos piores para a economia de que consigo me lembrar. A confiança desceu despenhadeiro abaixo. Medo e trevas pareciam dominar o mundo das finanças. Agora, no início de 2010, os primeiros sinais de confiança estão voltando. China, Brasil, Índia e Austrália estão crescendo novamente, e os mercados de ações mundiais mostram sinais consistentes de recuperação.
Às vezes sou acusado de ser otimista demais. O entusiasmo natural do empreendedor sempre traz à tona o melhor de mim! Mas na Virgin temos de fato observado alguns desses sinais positivos. As pessoas estão reservando passagens de avião e de trem com maior antecedência, pensando nas férias de verão. Elas estão trocando o pacote de TV a cabo por outro com mais opções. Nosso negócio no segmento de academia de ginástica está crescendo no mundo todo.
Então, o que eu acho que vai acontecer neste ano e quais são as oportunidades para o empreendedor que está começando?
Sinto frustrar quem está em busca de uma fórmula ou de uma resposta fácil, porque isso não existe. Nos negócios, nada substitui a experiência de realmente gerir uma empresa. Em toda a minha carreira tomei decisões com base no instinto, mas isso não me eximiu de trabalhar duro para que elas funcionassem. No entanto, olhando agora para trás, vejo que há certos padrões que se repetem.
Em primeiro lugar, você tem de se cercar de gente de confiança e de talento. Montar uma empresa exige muito trabalho e energia. É mais fácil assumir compromissos de peso quando temos à nossa volta pessoas de quem gostamos e em quem confiamos. Uma coisa que faço o tempo todo é manter sempre satisfeitos os excelentes presidentes e diretores das minhas empresas.
Em seguida, você precisa garantir que sua empresa ou sua ideia tenha um lugar no mercado, além de um produto ou serviço diferenciado o bastante para sempre atrair mais clientes. Na Virgin, seguimos à risca uma lista de coisas muito simples. Nossas empresas devem ser inovadoras, manter a qualidade, o custo-benefício e o bom humor.
O timing é igualmente importante. Se eu pudesse começar tudo de novo, criaria mais empresas durante os períodos de recessão, em que quase tudo custa de 50% a 90% menos do que nos tempos de prosperidade. Em geral, há muita gente extremamente bem preparada no mercado e na concorrência, cuja atenção está voltada para o interior das organizações, para suas operações e dificuldades. Esse é o clima perfeito para que empresas jovens, entusiasmadas e ágeis se diferenciem e prosperem. Estamos atravessando um momento desse tipo atualmente.
Durante a recessão dos anos 70, ampliamos a Virgin Records. No início dos anos 90, enquanto as companhias aéreas tradicionais se recuperavam da recessão e da Guerra do Golfo, ampliamos a Virgin Atlantic. Sem o peso de uma porção de coisas próprias de uma grande operação e de uma base de custos elevada, a Atlantic conseguiu comprar aeronaves novas e mais econômicas, lançando ao mesmo tempo rotas que fugiam da mesmice. Existem hoje oportunidades semelhantes para novas empresas em setores tão diversos quanto o da indústria de alimentos e de recrutamento, energia renovável e até mesmo no setor espacial.
As pessoas costumam atribuir a razão do próprio fracasso às condições econômicas ou à falta de financiamento dos bancos. Sem dúvida os bancos precisam manter abertas as torneiras do crédito para novas empresas. E os governos precisam dar um basta à burocracia. Mas é preciso, sobretudo, que o empresário assuma a responsabilidade de controlar a empresa. Uma boa ideia requer muito trabalho e determinação (e um pouco de sorte) para ser bem-sucedida.
Muitos empreendedores desistem rapidamente. É preciso vencer as primeiras adversidades. O voo inaugural da Virgin Atlantic quase levou o grupo à falência. Tínhamos trabalhado feito loucos durante seis meses para o primeiro voo de Londres a Newark, que foi um sucesso estrondoso (impulsionado, em parte, por 70 caixas de champanhe). Na minha volta a Londres, topei com o sujeito que na época era gerente do banco com que trabalhávamos sentado nos degraus da porta da minha casa. Ele tinha ido me dizer que o banco não iria mais cobrir meu saldo e que, portanto, não poderia mais financiar a nova companhia aérea. Se ultrapassássemos o limite de saque a descoberto de 3 milhões de libras, o banco teria de devolver nossos cheques.
Isso era o mesmo que decretar a falência da empresa. Quando as pessoas ficaram sabendo que estávamos sem crédito, deixaram de nos fornecer alimentos e combustível. Ninguém mais comprava passagens. Tive de agir rapidamente. No final de semana, tirei dinheiro de nossas empresas no exterior para cobrir aquela conta. Logo que pude, troquei de banco.
Foi uma lição que deu o que pensar. O episódio me ensinou que um bom empresário procura soluções, não desculpas. Desde então, esse tem sido o nosso lema. Temos de proteger os pontos fracos de nossas empresas.
Portanto, mãos à obra. Comece agora aquele negócio que você havia planejado para 2010. Como diz um antigo provérbio chinês, nos bons tempos ganha-se uma fortuna, mas é nos tempos difíceis que se constrói um império.