Boeing terá de escolher entre se declarar culpada ou ir a julgamento após acidentes com 737 Max
Departamento de Justiça dos EUA pretende acusar fabricante de aeronaves de fraude criminal
Agência de notícias
Publicado em 30 de junho de 2024 às 19h03.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ, na sigla em inglês) informou à Boeing que vai acusá-la de fraude criminal, deixando a fabricante de aviões escolher entre se declarar culpada ou correr o risco de ir a julgamento, de acordo com fontes.
A Boeing terá até o fim da semana para decidir se vai se declarar culpada das acusações, disse o departamento às famílias das vítimas de dois acidentes fatais do 737 Max e seus advogados em uma reunião no domingo, segundo fontes, que pediram anonimato. O departamento também informou à empresa que ela terá que pagar uma multa e ter um supervisor corporativo.
Durante a reunião, o DOJ também discutiu o potencial acordo de confissão de culpa. Autoridades da seção de fraude do Departamento de Justiça e do Gabinete do Procurador dos EUA para o Distrito Norte do Texas também estiveram presentes na reunião, de acordo com um e-mail visto pela Bloomberg.
Procurados, o Departamento de Justiça e Boeing não quiseram comentar.
Negociações
A Bloomberg informou anteriormente que a fabricante de aviões está em negociações com o departamento para resolver possíveis acusações decorrentes dos acidentes, que mataram 346 pessoas, e que um acordo deve incluir a nomeação de um supervisor corporativo.
Uma confissão de culpa às acusações marcaria um momento crítico na história centenária da Boeing e um revés para uma empresa que já foi conhecida por sua cultura cautelosa e disciplinada. Isso gera preocupações sobre os contratos do governo dos EUA com a fabricante de aviões, em um momento em que a Boeing precisa de sua divisão de defesa para compensar a queda na receita de sua divisão de aeronaves comerciais.
A reunião ocorre após o Departamento de Justiça concluir que a fabricante de aviões violou um acordo de suspensão do processo de 2021 firmado entre a Boeing e o governo nos últimos dias da administração Trump. O acordo permitiu à Boeing evitar processos criminais, desde que cumprisse certas condições.
Investigações
Mas em maio, o departamento concluiu que a empresa não cumpriu o requisito de implementar um programa de conformidade eficaz para prevenir e detectar violações das leis antifraude dos EUA. A Boeing disse ao DOJ que discordava da conclusão.
O anúncio da violação ocorreu depois que um painel da fuselagem explodiu de um avião da fabricante operado pela Alaska Airlines durante um voo em janeiro. Investigadores de segurança dos EUA concluíram que faltavam quatro parafusos na aeronave para prender o chamado plugue da porta no lugar.
A revelação ajudou a desenterrar uma série de falhas de fabricação e qualidade na empresa, além de motivar várias investigações por legisladores e agências governamentais, incluindo o Departamento de Justiça.
Empresa vive crise
A Boeing está em crise desde a explosão no ar. As ações da empresa caíram cerca de um terço este ano, e ela alertou que está a caminho de gastar cerca de US$ 8 bilhões em dinheiro durante o primeiro semestre de 2024, enquanto lida com uma desaceleração da produção após a quase catástrofe.
Em resposta ao acidente de janeiro, a Administração Federal de Aviação (FAA) limitou a produção do 737 Max e exigiu que a Boeing apresentasse um plano abrangente para resolver os problemas de qualidade em suas fábricas. Ao mesmo tempo, a fabricante de aviões está passando por uma mudança de liderança enquanto procura um novo CEO para substituir Dave Calhoun, que planeja deixar o cargo ainda este ano.
Como parte do acordo de adiamento do processo de 2021, a Boeing pagou uma multa de US$ 243 milhões e admitiu ter enganado a FAA sobre um recurso importante do 737 Max que afetou o sistema de controle de voo.A empresa também se comprometeu a melhorar seus controles internos de segurança e a enviar relatórios regulares ao Departamento de Justiça.
Em troca, o governo retiraria a acusação criminal contra a empresa após três anos. Mas o rompimento do plugue da porta, que ocorreu poucos dias antes do acordo expirar, levou o departamento a considerar a possibilidade de cancelá-lo.