Boeing e Embraer: suspensão judicial coloca negócio em risco?
Juiz federal suspendeu a fusão ao analisar uma ação dos deputados petistas Paulo Pimenta e Carlos Zaratini. Embraer diz que vai recorrer
Da Redação
Publicado em 7 de dezembro de 2018 às 06h30.
Última atualização em 7 de dezembro de 2018 às 06h54.
A sexta-feira deve ser de fortes emoções para a fabricante brasileira de aviões Embraer. Ontem as ações da empresa caíram 2,3% e chegaram a entrar em leilão com a divulgação, à tarde, de que a Justiça de São Paulo concedeu uma liminar e suspendeu a fusão da companhia brasileira com a americana Boeing. O juiz federal Victorio Giuzio Neto suspendeu a fusão ao analisar uma ação popular dos deputados federais petistas Paulo Pimenta e Carlos Zaratini. A Embraer anunciou que vai recorrer da decisão; a Boeing não se manifestou.
É a mais nova fonte de indefinição sobre um negócio anunciado há seis meses e considerado por analistas como fundamental para a companhia brasileira não perder o bonde tecnológico e a capacidade comercial num mercado em forte consolidação — em 2017, a maior concorrente da Embraer , a canadense Bombardier, anunciou um acordo com a Airbus. Ainda assim, os questionamentos sobre a fusão fizeram com que as ações da empresa brasileira caíssem 20% desde então. O negócio depende ainda do aval dos acionistas — entre eles o governo brasileiro — e de órgãos reguladores, o que deve fazer com que a união entre as companhias fique para o final de 2019. Isso se a Justiça permitir.
Em julho, Boeing e Embraer assinaram um acordo de intenções para criar uma nova empresa na aviação comercial, avaliada em 4,75 bilhões de dólares. A área comercial foi responsável por 58% da receita da Embraer em 2017, ou 10,7 bilhões de dólares. As áreas de aviação executiva e militar ficaram fora do negócio. Segundo o acordo, a companhia americana ficaria com 80% do novo negócio, enquanto a Embraer seria dona dos 20% restantes.
Giuzio Neto não impediu que a fusão entre as companhias continue a ser negociada, mas usou a proximidade do recesso do Judiciário e a futura troca de governo como justificativas para sua decisão, alegando ser necessário evitar atos que depois não possam ser revertidos. A decisão ainda enveredou por searas como o risco da troca de segredos militares e a ausência de uma “golden share” que dê poder de veto ao governo na nova empresa. São temas que devem ser motivo de análises mais profundas ao longo desta sexta-feira.
Segundo o juiz, a Embraer não pode ser considerada como qualquer outra indústria civil. Reverter a venda da companhia era um dos pontos defendidos não só pelo PT como pelo PDT de Ciro Gomes durante a campanha presidencial. Segundo a GloboNews, os militares próximos ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, não pretendem fincar pé numa anulação da fusão.
Durante a campanha, a expectativa da equipe de Bolsonaro era que o governo Temer desse seu aval à fusão nos dias posteriores ao segundo turno. Não aconteceu. Agora, o negócio é uma das batatas quentes que o novo governo terá que descascar.