Bilionários russos temem risco de isolamento com Putin
Os empresários mais ricos do país temem que as políticas do presidente Vladimir Putin na Ucrânia levem a sanções nefastas
Da Redação
Publicado em 21 de julho de 2014 às 14h44.
Moscou - Os empresários mais ricos da Rússia estão cada vez mais desesperados com a possibilidade de que as políticas do presidente Vladimir Putin na Ucrânia levem a sanções nefastas e com muito medo de represálias para dizer isso publicamente, disseram bilionários e analistas.
Se Putin não fizer alguma coisa para colocar um fim na guerra da Ucrânia depois que um avião da Malaysia Air foi derrubado na semana passada em território controlado pelos rebeldes, ele corre o risco de se tornar um pária internacional como Aleksandr Lukashenko, da Bielorrússia, que os EUA chamaram de último ditador da Europa, disse um bilionário russo sob condição de anonimato. O que está acontecendo é ruim para os negócios e para a Rússia, disse ele.
“A elite econômica e empresarial está horrorizada”, disse Igor Bunin, diretor do Centro de Tecnologia Política em Moscou. Ninguém vai protestar por causa da ameaça implícita de retaliação, disse Bunin ontem em entrevista por telefone. “Qualquer sinal de rebelião fará com que eles sejam colocados de joelhos”.
A derrubada do avião da linha aérea da Malásia, que matou 298 pessoas, levou a ameaças de penalidades mais duras dos EUA e da União Europeia, que já sancionaram indivíduos e empresas russas consideradas cúmplices de estarem alimentando a revolta pró-Rússia na Ucrânia.
Ontem, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse que a evidência disponível sugere que a Rússia forneceu o míssil utilizado pelos rebeldes para derrubar o avião. O jornal The Mail on Sunday citou o secretário de Defesa do Reino Unido, Michael Fallon, acusando Putin de “terrorismo patrocinado”.
O círculo de Putin
Embora até agora a UE tenha imposto medidas menos punitivas do que os EUA contra a Rússia devido à oposição de países como a Itália e a Áustria, o Reino Unido e a Holanda estão encabeçando a campanha para tomar medidas mais corajosas em uma reunião de ministros de Assuntos Exteriores amanhã. A maioria das vítimas do avião, 193, era holandesa; 10 eram britânicas.
Os EUA já impuseram penalidades a empresas estatais e a membros do círculo interno de Putin, incluindo os bilionários Gennady Timchenko e Arkady Rotenberg.
As últimas sanções, anunciadas um dia antes do ataque à Malaysia Air, proibiram a OAO Novatek, produtora de gás parcialmente de propriedade de Timchenko, de usar os mercados de dívida dos EUA para obter novo financiamento com vencimentos superiores a 90 dias.
As ações da Novatek em Londres caíram 8 por cento em dois dias, reduzindo seu valor de mercado em quase US$ 3 bilhões.
“Agora a ameaça de sanções contra setores inteiros da economia é muito real e há motivos sérios para que as empresas tenham medo”, disse Mikhail Kasyanov, primeiro-ministro da Rússia durante o primeiro mandato de Putin como presidente, de 2000 a 2004, em entrevista por telefone de Jurmala, Letônia.
“Se houver sanções contra o setor financeiro inteiro, a economia se desmoronará em seis meses”.
‘Criminalmente negligentes’
No dia da tragédia da Malaysia Air, Putin culpou o governo da Ucrânia, dizendo que o responsável é o Estado sobre cujo território o avião estava passando. Seu aliado, Sergei Naryshkin, presidente da câmara baixa do Parlamento, disse que as autoridades ucranianas são “criminalmente negligentes” por deixarem o voo entre Amsterdã e Kuala Lampur atravessar uma zona de guerra.
O círculo interno de Putin, a maioria de cujos membros vem dos serviços de inteligência, “descarta completamente a possibilidade de que a Rússia seja responsável por isto e aponta diretamente para os americanos”, disse Olga Kryshtanovskaya, socióloga que estuda a elite do país na Academia Russa de Ciências em Moscou.
Alexander Lebedev, ex-bilionário e dono dos jornais britânicos Independent e Evening Standard, disse ser muito pessimista em relação à possibilidade de que alguma vez a Rússia reconstrua seu relacionamento com os EUA e seus aliados europeus.
“O relógio voltou para a década de 1980”, no auge da Guerra Fria, disse Lebedev, que trabalhou como oficial da inteligência soviética em Londres, em entrevista por telefone. “Mas na década de 1980, os dois lados se refreavam entre si. Agora temos uma guerra, portanto é pior”.