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Barel, do PayPal: na crise, consumidores preferem o digital

Quando maior o consumo no e-commerce, melhor para empresas como o PayPal, que faz a mediação dos pagamentos

Tomer Barel: Executivo afirma que PayPal ainda está "arranhando a superfície" do mercado de transações digitais no Brasil (PayPal)
TL

Thiago Lavado

Publicado em 14 de setembro de 2017 às 21h53.

O comércio digital corresponde a uma parcela cada vez maior das compras realizadas no mundo. Bom para o PayPal , empresa líder no setor de mediação de pagamentos online. Os ganhos expressivos no segundo trimestre deste ano foram expressivos: o faturamento aumentou 18%, para 3,1 bilhões de dólares. Os lucros cresceram 27% e chegaram a 411 milhões de dólares; as transações aumentaram 23%. Mas concorrentes de peso estão cada vez mais fortes nesse mercado, principalmente em dispositivos móveis — aplicativos como Alipay e WeChat são alguns do que já têm sistemas próprios de pagamento.

O vice-presidente do PayPal, Tomer Barel, responsável pelas áreas de risco e pelo departamento de serviços, esteve no Brasil em agosto, para participar do lançamento de um novo centro de atendimento da empresa. Segundo Barel, que trabalha na empresa há 8 anos e reside em Israel, ainda há muitas oportunidades para crescer, especialmente em países emergentes, como o Brasil. Durante a visita, o executivo conversou com EXAME sobre as perspectivas para a empresa, crise econômica, concorrência, privacidade e controle dos usos indevidos da plataforma.

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A companhia tem crescido muito, vide o último relatório trimestral. Há mais espaço para continuar crescendo ou o PayPal teme alcançar um teto?

Os resultados do último trimestre superaram não só as expectativas do mercado, mas também as nossas. Diante desses resultados, aumentamos a perspectiva para o restante do ano e esperamos crescer ainda mais do que havíamos previsto inicialmente para 2017. Sentimos que há muito espaço para crescer, especialmente se olharmos para mercados como o Brasil, onde estamos apenas arranhando a superfície. Há muitos produtos que temos em outros mercados e que ainda não trouxemos para cá, como crédito, empréstimo de capital, máquinas de cartão e nossa subsidiária de pagamentos mobile. Também aceleramos o crescimento do número de transações e de usuários. Nós agora temos mais consumidores por trimestre do que nos últimos dois anos. É o que mais importa para uma companhia no longo prazo.

O senhor mencionou o Brasil como um dos principais mercados para a companhia, mas o país não está num bom momento econômico. O faturamento deve aumentar na medida em que a economia vai saindo da crise e o consumidor se torna menos reticente ao consumo?

O Brasil é uma área de investimento muito importante pra nós. O contexto macroeconômico pode impactar a performance, mas eu não sinto que passamos por isso aqui. Em 2008, por exemplo, o PayPal cresceu muito bem. Quando as pessoas estão sob estresse econômico, elas se tornam mais sensíveis às diferenças de preço, e recorrem ao e-commerce. O PayPal as mantém seguras. É possível comprar de um vendedor chinês ou americano, do qual nunca se ouviu falar, a um preço menor, e ainda se sentir confiante de que irá receber o que pediu. Se não receber, nossa garantia cobre.

Os meios de pagamento via celular estão estão muito fortes em países como a China, onde, por exemplo, há o Alipay. O PayPal planeja entrar nesse negócio? Como a empresa está se organizando em torno disso?

O Alipay é o braço de pagamento do grupo Alibaba, e já está operando há alguns anos. Há também a Tencent, que, por meio de seu aplicativo WeChat, é muito forte na China. O PayPal está ativo na China, mas não de maneira doméstica, pois nós não podemos atuar assim lá. É um mercado muito difícil para uma empresa estrangeira entrar, principalmente por questões regulatórias. É muito inspirador o que Alipay e WeChat conquistaram na China: uma transformação do consumidor chinês e uma dominância desses meios de pagamento. Parcialmente porque a penetração do cartão de crédito na China é muito baixa, então o país migrou do dinheiro para o smartphone. Esperamos poder operar melhor lá no futuro.

Como o senhor enxerga o crescimento das criptomoedas, como Bitcoin ou Ethereum, no mercado de compras digitais? O PayPal utiliza tecnologias como o blockchain para segurar as transações?

A Bitcoin e outras criptomoedas se tornaram uma febre, mas elas são vistas mais como um ativo do que uma forma de pagamento. Por que as pessoas compram ou mantêm Bitcoin? Porque elas acreditam que a moeda irá valorizar no futuro, assim como outras commodities de valor, como ouro. A Bitcoin como uma moeda, que funciona como uma substituição ao real ou ao dólar, não obteve sucesso. Alguns lugares começaram a aceitá-la com intuitos varejistas, e não creio que o número cresça. É um ecossistema fechado e pequeno. A razão pra isso é que a Bitcoin não tem suporte estatal e é uma moeda muito volátil, sujeita a flutuações enormes. As pessoas podem até querer investir em ativos voláteis, mas elas não querem depender de uma moeda volátil. Sobre blockchain, a tecnologia é realmente interessante em termos de tornar infraestruturas de tecnologia mais seguras. Não fizemos nenhum tipo de transição ainda – e deve levar um tempo até que o façamos –, mas estamos de olho, assim como muitas outras instituições financeiras.

No início de agosto, oThe Wall Street Journaldivulgou uma história sobre o grupo terrorista Estado Islâmico realizando pagamentos via PayPal no marketplace eBay, como forma de transferir dinheiro a determinadas células do grupo em outros países. Como as empresas de tecnologia podem cooperar com os governos para coibir esse tipo de prática? O que o PayPal vem fazendo para monitorar esse tipo de ação sem invadir a privacidade de seus clientes?

Estamos comprometidos com o desafio de tornar o PayPal seguro não só para os seus usuários, mas também para o restante do mundo. Investimos recursos significativos em cumprir todas as regulações que dizem respeito a lavagem de dinheiro e financiamento de operações terroristas e estamos colaborando de perto com o FBI. Mas ainda é muito difícil, quase impossível, prevenir essas ações. Nesse caso específico, eram duas pessoas transferindo dinheiro por meio de compra de mercadorias. Nós não teríamos como saber de antemão que havia más intenções. Ao mesmo tempo, somos grandes advogados da privacidade digital: nosso sistema protege o usuário, e seus dados não são compartilhados com qualquer companhia. Existe uma tensão entre lutar contra o extremismo e a manutenção da privacidade. É uma dos grandes embates de nossa era.

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