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Após 67 anos, a guinada da Marisa

As varejistas brasileiras de moda vivem uma espécie de crise existencial. Com exceção da gaúcha Renner, que virou exemplo de resistência à crise, as principais concorrentes patinam. A Riachuelo deu uma guinada em seu modelo de negócios ao adotar uma estratégia de estoques enxutos estilo Zara. A Hering perdeu o viço que a faz ser […]

MARISA: a varejista contratou um executivo com experiência em empresas familiares (foto/Site Exame)

MARISA: a varejista contratou um executivo com experiência em empresas familiares (foto/Site Exame)

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Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2016 às 11h52.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h27.

As varejistas brasileiras de moda vivem uma espécie de crise existencial. Com exceção da gaúcha Renner, que virou exemplo de resistência à crise, as principais concorrentes patinam. A Riachuelo deu uma guinada em seu modelo de negócios ao adotar uma estratégia de estoques enxutos estilo Zara. A Hering perdeu o viço que a faz ser a empresa mais copiada do setor, e busca um novo caminho. A Inbrands e a Restoque, que se organizaram como holdings com várias marcas, estão no vermelho e voltaram a negociar uma fusão. Agora, chegou a vez de uma das mais tradicionais varejistas do país, a Marisa, dar uma guinada para tentar recuperar o brilho perdido.

Fundada há 67 anos em São Paulo, a Marisa seguia a estratégia de Riachuelo e Hering e se mantinha como uma companhia estritamente familiar. Até que, no início do mês, anunciou a inédita contratação de um presidente profissional. Marcio Goldfarb, filho do fundador, deixa a presidência da varejista, após permanecer por 26 anos no cargo, e será substituído por Marcelo Araujo, ex-presidente do Grupo Libra, um dos maiores operadores portuários do país.

Araujo está longe de ser um especialista em moda. Antes do Libra, passou pela petroleira Shell e pela fabricante de cosméticos Natura. Mas seu nome ganhou força por um detalhe que pode fazer toda a diferença neste momento: a experiência em companhias familiares, como o Libra. Suceder o controlador é um dos maiores desafios do mundo dos negócios. Como mostra a atual reportagem de capa da revista EXAME, 65% das companhias brasileiras com mais de 200 milhões de reais de faturamento são familiares — mas apenas 30% das empresas familiares chegam à segunda geração.

Admitir que pode ser a hora de trazer um executivo de fora, como fez a Marisa, é raro. Mas pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Como mostra a reportagem de EXAME, as empresas familiares metem medo em executivos do mercado — 42% reagem negativamente ao serem sondados por empresas como a Marisa, com familiares e um herdeiro no comando. Araujo topou o desafio, deve assumir o novo posto no dia 28 de junho após uma reunião do Conselho de Administração da empresa, e terá um período de transição atuando em parceria com Goldfarb. “A equipe da Marisa passa a contar com um profissional de trajetória bem-sucedida, em especial em empresas familiares, e com sólida experiência em varejo”, diz Goldfarb em nota.

As dificuldades à frente

Segundo comunicado da Marisa, a profissionalização da gestão já estava prevista desde a abertura de capital da empresa, em 2007. A varejista reforça ainda que Goldfarb será o novo presidente do conselho de administração e terá participação ativa nos comitês estatutários da Marisa. Os irmãos Denise Goldfarb Terpins e Decio Goldfarb também ficarão concentrados no conselho da rede. Com a mudança, Cassio Casseb Lima deixará a presidência do conselho, mas permanecerá como membro independente.

A contratação de Araujo se impôs por uma série de dificuldades enfrentadas pela Marisa — muitas em decorrência da crise, outras por questões unicamente internas. Durante o comando de Marcio, a Marisa passou de 40 mil m² de área de vendas para mais de 400 mil m² em todo o Brasil. O número de funcionários saltou de 6,5 mil para aproximadamente 15 mil, e o faturamento alcançou mais de 4,1 bilhões de reais.

Mas, de uns anos pra cá, a Marisa parou. Em quatro dos últimos cinco trimestres teve prejuízos. As perdas somaram 53 milhões de reais no acumulado de 2015 com o primeiro trimestre deste ano. As vendas da Marisa nas lojas abertas há mais de um ano caíram 7,1% no primeiro trimestre. A concorrência, que também passa por um momento desafiador, registrou perdas menores. A Riachuelo teve retração de 3,1%, e a Hering, de 5,5% em relação ao mesmo período do ano passado.

As maiores dificuldades, dizem analistas e concorrentes, são decorrência de um erro estratégico da Marisa. Enquanto as concorrentes investiram em moda, a Marisa começou a ver suas roupas encalharem. Seu principal atrativo passou a ser o preço, o que é péssimo para as margens. Deu no que deu. Ainda assim, a mudança surpreendeu os concorrentes. Para o presidente de uma grande varejista de moda, o movimento da Marisa surpreendeu o mercado. “Estamos em um momento delicado da economia e mudanças desse porte podem ser especialmente arriscadas”, diz.

Vai dar certo? O sócio da 2B Partners Consulting, Rubens Batista Jr., avalia que as mudanças devem levar um tempo para ganhar formato. “Tudo dependerá do grau de autonomia que o novo executivo terá”, diz. Segundo ele, a tendência é que grandes investimentos levem tempo para ser aprovados e a empresa tente ampliar seu valor agregado sem a necessidade de fazer aportes volumosos, como já acontece na concorrência. “Acredito que eles devam optar por coleções especiais assinadas por estilistas, com custos acessíveis, a exemplo de Renner, Riachuelo e C&A”, diz.

Os investidores receberam a notícia da troca do comando com cautela e as ações da empresa registraram ligeira queda nos últimos dias. Analistas de varejo do banco Brasil Plural divulgaram relatório afirmando que a substituição de Goldfarb “conclui um processo que visa priorizar a formação de um time de profissionais experientes”. Para recuperar terreno, a Marisa ainda precisará enfrentar novos concorrentes, como as americanas GAP e Forever 21, que crescem sobretudo nas grandes cidades. Nova fase, novos desafios.

(Michele Loureiro) 

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