André Esteves agora precisa provar que sabe salvar empresas
WTorre engrossa a lista do BTG Pactual de aquisições de companhias com problemas
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2011 às 17h59.
São Paulo - A compra do controle da WTorre Properties amplia a lista de empresas problemáticas adquiridas pelo banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, nos últimos tempos. Com isso, Esteves, que conquistou fama como gestor de recursos financeiros, terá também de comprovar sua capacidade de resgatar companhias em dificuldades.
Esteves inaugurou o ano adquirindo o banco PanAmericano por 450 milhões de reais. Como se sabe, a instituição foi abalroada por uma fraude contábil que levou o Grupo Silvio Santos, seu antigo controlador, a vendê-lo ao BTG Pactual.
No final do ano passado, o PanAmericano havia informado a descoberta de um rombo de 2,5 bilhões de reais. O buraco fora aberto pela manutenção, no balanço, de carteiras de crédito vendidas a outras instituições – o que inflava os resultados. Posteriormente, o PanAmericano elevou o rombo para 4,3 bilhões de reais.
Embora boa parte dessa quantia tenha sido coberta por empréstimos do Fundo Garantidor de Crédito, restou a Esteves e sua equipe a tarefa de reparar os danos na imagem do PanAmericano. Até agora, os bancos médios encontram problemas para captar recursos no mercado – um efeito direto do PanAmericano.
Arrumando a casa
Em fevereiro, Esteves assumiu o controle da fluminense Casa&Vídeo, uma das maiores redes regionais de varejo. A transação avaliou a companhia em 600 milhões de reais.
O negócio foi feito ao final de um processo de reestruturação da Casa&Vídeo que demandou dois anos e foi capitaneada por seu antigo proprietário, Fábio Carvalho. Sob seu comando, a varejista começou a reestruturar dívidas e voltou a ter crédito no mercado.
Embora o cenário seja mais positivo, o maior desafio continua sendo o peso da dívida sobre suas operações. A Casa&Vídeo tem cerca de 220 milhões de reais em compromissos, que precisam ser pagos em dez anos, a partir de 2012. Para se ter uma ideia, a cifra equivale a quatro vezes sua geração de caixa – o dobro de rivais como a Lojas Americanas.
Última saída
A venda da WT Properties – o braço do grupo WTorre para o mercado imobiliário – foi a saída encontrada por seu fundador, Walter Torre, para salvar o negócio. Antes de vendê-la para André Esteves, o empresário realizou três tentativas de capitalizá-la. O fracasso dessas medidas mostra o tamanho do problema assumido pelo BTG Pactual.
A sociedade com Esteves criará uma nova empresa imobiliária com ativos de 5,3 bilhões de reais. O BTG Pactual aportou 1,5 bilhão de reais em ativos imobiliários, injetou 300 milhões no caixa da nova companhia e ainda assumiu uma dívida de 1,7 bilhão de reais. Isso, sem falar em um aporte de valor não divulgado na construtora WTorre, que continua uma empresa à parte.
O homem do risco
Comprar empresas com problemas e reestruturá-las é uma prática comum em bancos de investimento e empresas de private equity. A aposta sempre é comprar ativos baratos, recuperá-los e vendê-los com uma boa margem de lucro. É claro que isso só funciona se, de fato, as empresas derem a volta por cima.
Para isso, Esteves vem se cercando não apenas de executivos talentosos do mercado financeiro, mas também de craques em reestruturação de empresas. Seu principal nome, nesta área, é Cláudio Galeazzi, conhecido por promover reviravoltas em companhias como o Grupo Pão de Açúcar.
Caberá a Galeazzi, a maior parte da tarefa de reerguer as novas controladas pelo BTG Pactual. A pressão sobre o executivo para entregar resultados não deve ser pequena.
Esteves tem pressa para que seus investimentos comecem a render. O motivo é o compromisso que o banqueiro assumiu com seus novos sócios – um grupo de investidores estrangeiros que comprou 18% do BTG Pactual em dezembro por 1,8 bilhão de dólares.
Pelo acordo, revelado pela edição 986 de EXAME, Esteves se comprometeu a dar um retorno de 20% ao ano aos investidores até a abertura de capital do banco, que deve ocorrer até o final de 2011. No IPO, Esteves deverá entregar 360 milhões de dólares ao sócios, como retorno dos 1,8 bilhão injetados no banco. Se o IPO sair por menos que o planejado ou for adiado, os sócios receberão 20% do banco a cada ano.
Para que o banco se valorize e atraia investidores em quantidade suficiente para apoiar o IPO, remunerar os sócios de Esteves e reforçar o caixa, é preciso que as empresas compradas dêem o devido retorno. Agora, é a hora de Esteves provar que também sabe tirar empresas da beira do abismo.