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Amil será outra empresa em 3 anos, diz Edson Bueno

Para Edson Bueno, consolidação é uma tendência do setor, que ainda é muito fragmentado


	Edson Godoy Bueno, fundador da Amil, afirma que empresa será outra em três anos
 (Germano Lüders/EXAME)

Edson Godoy Bueno, fundador da Amil, afirma que empresa será outra em três anos (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2012 às 09h06.

São Paulo - Nesta segunda, a americana United Healthcare comprou o controle da operadora de saúde Amil por 6,5 bilhões de reais, maior desembolso já feito pela operadora fora dos Estados Unidos. Embora os hospitais sejam considerados serviços essenciais pelo governo, o que supostamente impediria que o controle dessas instituições fosse assumido por um grupo estrangeiro, a Amil sustenta que a própria Advocacia Geral da União (AGU) já teria enxergado uma brecha na legislação para assuntos desta natureza.

A Agência teria dado sua bênção na época do IPO da empresa, em 2007. "Quando você tem operadora de saúde com hospitais em um sistema verticalizado, [a compra do grupo] não caracteriza um investimento em hospitais e sim em saúde", afirmou Erwin Kleuser, diretor corporativo e de relações com investidores da Amil. Hoje, cerca de 90% das ações da empresa em bolsa pertencem a estrangeiros.

Nos próximos meses, a United fará uma oferta pública para fechar o capital da Amil no país, o que deverá ocorrer até o primeiro trimestre de 2013. A aquisição, no entanto, ainda precisa ser aprovada pela Agência Nacional de Saúde, que deverá receber a documentação da operação até amanhã.

Paquera

Segundo Edson Bueno, diretor-presidente e fundador da Amil, o flerte entre as companhias não vem de hoje: a iniciativa teria partido da United há três anos. Embora tenha mostrado certa resistência no começo das conversas, o executivo afirmou que, com o tempo, elas evoluíram para um "namoro mais quente".

Do lado da United, a compra da Amil representa a oportunidade de entender um setor com alto potencial de crescimento sob a perspectiva da maior operadora do país, com 5,9 milhões de clientes.

Embora o Brasil fique apenas atrás dos Estados Unidos quando o assunto é o tamanho do mercado privado de saúde, a adesão dos segurados ainda engatinha por aqui: 25% da população conta com plano de saúde, contra um percentual de aproximadamente 80% nos Estados Unidos.

O país tampouco conta com uma plataforma de tecnologia avançada conectando todo o sistema de saúde. E esse é um dos principais negócios da United. Sua subsidiária Optum atende a quase 250.000 profissionais nos Estados Unidos, incluindo empresas concorrentes. Em apresentação aos investidores, a companhia reforçou que a aquisição da Amil seria ideal para a empresa expandir os serviços da Optum nos mercados emergentes. No ano passado, a divisão respondeu por 28% dos 102 bilhões de dólares embolsados pela companhia.


Do lado de cá

"Não pretendia me aliar a ninguém que não fosse o melhor. E essa é a maior empresa do mundo. De cada quatro americanos, um tem plano da United Healthcare", disse Edson Bueno, em coletiva de imprensa nesta segunda.

Segundo o executivo, a Amil deverá ser se tornar uma empresa com outra cara em um prazo de três anos, mantendo sua marca original. Apesar de ser líder no setor, a companhia tem 9% do ultrafragmentado mercado brasileiro. Para Bueno, a consolidação é uma tendência natural - e as empresas com maior musculatura sairão na frente na busca por clientes.

Enquanto mais de 1.170 operadoras atuam no país, nos Estados Unidos esse número não passa de 440. Sem cravar a participação almejada pela Amil nos próximos anos, o presidente da Amil reiterou que a meta é crescer no mínimo 10% ao ano em receita. Em 2011, a empresa embolsou 9,3 bilhões de reais.

Daqui para frente, o empresário e sua sócia e ex-mulher, Dulce Pugliese, ficarão com uma fatia de 10% da Amil por um prazo de pelo menos cinco anos. Durante esse tempo, Bueno permanecerá à frente da empresa e buscará formar um sucessor, provavelmente brasileiro. "Quando um presidente não consegue desenvolver as pessoas para substitui-lo dizemos que ele falhou. Se Deus quiser não vou falhar nesse aspecto."

Hospitais

Nos bastidores, especulava-se que Bueno manteria o negócio dos hospitais e iria se desfazer apenas dos planos, que têm ingerência direta da Agência Nacional de Saúde (ANS) e entregam menor margem de lucro. Na coletiva, o empresário esclareceu que a United quis o negócio "do jeito que ele estava". E que a hora, para a Amil, era de agarrar a oportunidade.

Ainda que a United passe a controlar os 22 hospitais que pertencem à empresa, Bueno não deixará de atuar na área de maneira independete. O executivo é dono da Total Care, holding que controla seus investimentos diretos em outros oito hospitais, incluindo o Samaritano, no Rio de Janeiro. "Não tenho planos de vendê-los”, afirmou. Com dinheiro da transação da Amil no bolso, o empresário quer melhorar as instituições da Total Care e transformá-las em ”estado de arte”.

Sua participação na United, por outro lado, continuará ativa. Bueno investirá cerca de 470 milhões de dólares na compra de ações da companhia americana, se tornando o maior acionista individual da empresa, com uma fatia de 0,9% do negócio. Com uma cadeira no conselho da United - a primeira nas mãos de um estrangeiro -, o executivo afirmou que não deve haver conflito de interesses no negócio de hospitais, já que ele não pretende "dar pernada em ninguém". Em todos as transações fechadas nesta área, a Amil terá preferência de compra sobre a Total Care.

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