Negócios

Ambev se rende e lança Skol Hops para entrar na guerra do puro malte

Maior cervejaria do Brasil reforça investida no nicho de mercado que mais cresce no país

SKOL: a F/Nazca comandou um reposicionamento da marca, com mais foco em diversidade  (Skol/Divulgação)

SKOL: a F/Nazca comandou um reposicionamento da marca, com mais foco em diversidade (Skol/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2018 às 12h40.

Última atualização em 6 de setembro de 2018 às 14h59.

As cervejas artesanais colocaram o mercado brasileiro de ponta cabeça nos últimos anos. Elas apresentaram aos consumidores novos estilos (e novos patamares de preço) e forçaram as grandes cervejarias a investir em inovação e ir às compras. A Schin comprou a Eisenbahn e a Baden Baden (hoje todas parte da Heineken), enquanto a Ambev comprou fabricantes artesanais como Wals e Colorado. Mas, embora as artesanais sejam sexy, é outro nicho de mercado que tem de fato transformado o mercado cervejeiro: o de cervejas puro malte.

Estão neste segmento marcas conhecidas como Heineken, Eisenbahn, Amstel e Serra Malte. Em comum, não levam cereais não malteados (como o milho) em sua composição, o que lhes dá mais cor e sabor. Os cereais não malteados permitem a fabricação de cervejas mais baratas, mas também ao gosto do consumidor brasileiro, leves e ideais para o calor. As puro malte, mais potentes, respondem por apenas cerca de 5% do mercado de cervejas brasileiro, mas formam o nicho que mais cresce, e que mais traz rentabilidade para as fabricantes.

No início de setembro o segmento ganhou um competidor pra lá de ambicioso: a Skol, marca de cerveja mais valiosa do país. A Ambev anunciou que, a partir do início do mês, passou a distribuir em todo o país a Skol Hops, uma cerveja puro malte feita com uma mistura de quatro tipos de lúpulos (o ingrediente que confere amargor às cervejas). A Skol Hops foi lançada pela Ambev em junho, e começou a ser vendida no Nordeste do país, em garrafas de 600 ml e latinhas de 269 ml, por preços cerca de 10% maiores que da Skol tradicional (que seguirá a mesma, com cereais não malteados na receita).

O avanço da Ambev tem um alvo: a Heineken. A cervejaria holandesa começou uma nova fase de expansão no país em fevereiro de 2017, quando comprou a Brasil Kirin, subsidiária brasileira da cervejaria japonesa Kirin. A compra alçou os holandeses à segunda posição no mercado nacional – ainda que longe, muito longe, da Ambev. A Heineken tem cerca de 19% do mercado nacional, ante 67% da Ambev.

Em relatório divulgado em junho o Bradesco BBI afirmou que até 2023 a Heineken poderia chegar a 25% de participação de mercado se valendo, sobretudo, de uma nova estratégia de distribuição. A empresa encerrou uma parceria com a Coca-Cola e tem investido para passar de 600.000 para 1 milhão de pontos de venda no país até 2021.

A Skol Hops é a mais nova de uma série de ações da Ambev para manter o nível de rentabilidade num mercado cada vez mais competitivo. Sua rentabilidade caiu para longe do pico, quando mais da metade da receita virava lucro, mas continua acima dos 35% — melhor do que quase todas as empresas listadas na bolsa brasileira e do que as grandes cervejarias globais (a margem média é de 16%, segundo levantamento da empresa de análise Morningstar).

A empresa tem investido em embalagens retornáveis, em novos tipos de embalagem, em novos segmentos (comprou até uma fabricante de sucos, a Do Bem), e também em cervejas puro malte. Os resultados do último trimestre mostraram que o pior pode ter ficado para trás. A Ambev anunciou um lucro de 2,3 bilhões de reais, 15% a mais do que 12 meses atrás. O volume vendido cresceu 1,7%, e o faturamento avançou 12%, para 11,5 bilhões de reais. E 2017, o lucro da companhia encolheu 40%, para 7,8 bilhões de reais. Nos últimos 12 meses as ações da companhia caíram 10%.

É boa?

O lançamento da Skol Hops causou rebuliço nos grupos de entendedores de cerveja, geralmente refratários a todas as investidas da Ambev no segmento premium. “Lançar uma puro malte é como se eles estivessem reinventado a roda”, ironizou Nélio Castro, do canal Bebendo com Amigos, no Youtube, especialista em degustação de cervejas artesanais, num post com o sugestivo nome de ‘Skol Hops presta?’. “Tem o sabor de uma Skol um pouquinho mais amarga, mas não cumpre o que promete na propaganda”.

Castro reconhece que, “quando quer”, a Ambev faz ótimas cervejas. Com a Skol Hops, o objetivo não é ser espetacular, mas sim oferecer uma alternativa aos consumidores de cervejas populares.

“O consumidor brasileiro está cada vez mais exigente e vai aos poucos valorizando cervejas que oferecem mais sabor e com melhores ingredientes”, diz Juliano Mendes, fundador da Eisenbahn. Até a Skol entrou na onda.

Acompanhe tudo sobre:AmbevCervejasExame Hoje

Mais de Negócios

11 franquias mais baratas do que viajar para as Olimpíadas de Paris

Os planos da Voz dos Oceanos, nova aventura da família Schurmann para livrar os mares dos plásticos

Depois do Playcenter, a nova aposta milionária da Cacau Show: calçados infantis

Prof G Pod e as perspectivas provocativas de Scott Galloway

Mais na Exame