Funcionário passa por área interditada da refinaria de alumina Alunorte, da produtora Norsk Hydro, em Barcarena, no Pará (Ricardo Moraes/Reuters)
Mariana Desidério
Publicado em 9 de abril de 2018 às 11h32.
Última atualização em 9 de abril de 2018 às 11h42.
São Paulo – A Hydro Alunorte, maior produtora global de alumina, divulgou hoje dados de uma investigação própria que conclui que a empresa não causou contaminação de rios no Pará.
O relatório foi feito por uma consultoria contratada pela Alunorte, a SGW Services, com o objetivo de contrapor as informações de outro relatório, elaborado pelo IEC (Instituto Evandro Chagas), segundo o qual um vazamento de água não tratada contaminou os rios da região.
O caso ocorreu nos dias 16 e 17 de fevereiro, quando fortes chuvas atingiram a região e geraram inundação em parte da usina da Alunorte em Barcarena, no Pará. Segundo o IEC, a inundação gerou vazamento de água contaminada, causando riscos à saúde da população local.
A Alunorte –controlada pelo grupo norueguês Norsk Hydro– refuta esta informação.
Segundo a empresa, houve a liberação de água da chuva com pH controlado, com o objetivo de aliviar a estação de tratamento de água da usina, de modo a evitar o vazamento de material nocivo.
“Houve sim o descarte de água de chuva sem passar pela estação de tratamento de efluentes, porém isso foi feito a fim de evitar um vazamento pior. Apesar de conter soda cáustica, foi feito o controle do pH”, disse a especialista da SGW, Andrea Aluani.
A empresa também admitiu que houve vazamento de água por uma tubulação antiga. Porém, segundo a Alunorte, a tubulação fica numa área adminitrativa da planta e o vazamento não causou “danos significativos”.
Apesar de entender que não houve danos à população local ou ao meio ambiente, a empresa anunciou um investimento de 100 milhões de reais pelos próximos dez anos num programa de sustentabilidade para a região.
A Alunorte questiona os dados levantados pelo IEC e afirma que o instituto não é certificado pelo Inmetro para realizar os estudos feitos neste caso.
Em nota publicada hoje, o instituto, que é ligado ao Ministério da Saúde, diz que “a crítica da empresa à atuação do IEC é formalista e desconsidera que a Hydro Alunorte reconheceu fazer despejo de efluentes em Barcarena sem qualquer tratamento”. “A tentativa de desqualificar a ciência produzida pelo IEC é também a tentativa de desqualificar a ciência brasileira”, acusa o instituto.
A nota ressalta ainda que “hoje nenhuma empresa conseguirá fazer as análises dos impactos ocorridos nos dias 17 e 18 de fevereiro de 2018 nas águas de Barcarena porque a dinâmica hidrográfica e pluvial na região é intensa e o cenário está em constante modificação”. “Logo, desconsiderar as análises realizadas pelo Instituto Evandro Chagas é desconsiderar o que aconteceu em Barcarena e seus impactos na saúde ambiental e da população”, completa.
O caso é motivo de disputa entre a Hydro Alunorte e o Ministério Público estadual. Na semana passada, a empresa moveu uma ação judicial contra o MP em busca de novos termos para retomar negociações que permitam a normalização de suas operações.
A empresa foi forçada a cortar metade de sua produção por uma ordem judicial em fevereiro, depois ser acusada por moradores e autoridades brasileiras de provocar o vazamento.
Segundo a companhia, a decisão pela ação judicial foi tomada após o MP notificar a empresa de que estava suspendendo as discussões, devido a uma distância das visões entre ambas as partes sobre o tema, especialmente sobre a validade das análises da água obtidas após o vazamento.