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Abertura, pipoca e Michael Douglas: o surreal mercado de cinema na China

Pelos cálculos da Deloitte, em dois anos mercado chinês terá ultrapassado a América do Norte (Estados Unidos e Canadá) como maior mercado do mundo

Cinema: no final do primeiro semestre deste ano a venda de ingressos na China totalizou 4,7 bilhões de dólares (Jag_cz/Thinkstock)

Cinema: no final do primeiro semestre deste ano a venda de ingressos na China totalizou 4,7 bilhões de dólares (Jag_cz/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 6 de agosto de 2018 às 18h48.

Última atualização em 6 de agosto de 2018 às 18h48.

Xangai – Este é o potencial da China como mercado de cinema: lançado há cerca de mês, depois da pré-estreia no 21o Festival Internacional de Cinema de Xangai, Animal World, uma confecção local misturando Jogos Vorazes, It e Maze Runner, e estrelada por Michael Douglas, tornou-se, com cinco dias em cartaz, não apenas a maior bilheteria da China, mas uma das três maiores bilheterias do mundo. Vale repetir: do mundo.

Com mais de 31 milhões de dólares acumulados apenas no país, Animal World fez mais dinheiro, mundialmente, que Sicario: Day of the Soldado, estrelado por Josh Brolin e Benicio del Toro, lançamento em escala internacional, distribuído pela Sony.

“Somos um grande mercado porque temos tanta, tanta gente”, diz a produtora Margaret Wu, uma nativa de Taiwan que hoje desenvolve projetos entre Xangai e Los Angeles. “E essa gente toda tem um tremendo apetite por cinema.”

Nos últimos 20 anos, ao mesmo tempo que se tornava uma espécie de fábrica universal para quase todos os produtos consumidos pelo Ocidente, a China estudava e adaptava uma outra fabricação ocidental: entretenimento audiovisual de massa. E, como laboratório e suporte, tinha um mercado imenso, faminto depois de décadas de abstenção do produto, e crescendo exponencialmente a cada mês.

Os números contam melhor essa história de reforma, abertura e pipoca.

Segundo a empresa de pesquisa EnGroup, no final do primeiro semestre deste ano a venda de ingressos na China totalizou 4,7 bilhões de dólares; filmes nacionais representam 59,6% desse total. No mesmo período os 9.911 cinemas da China tiveram um total de 56.786 sessões.

Segundo dados do mais recente relatório internacional da Oxford Economics para a Motion Picture Association of America, a indústria cinematográfica chinesa contribui com 0,34% do produto interno bruto.

Pelos cálculos da empresa de consultoria Deloitte, em dois anos o mercado chinês terá ultrapassado a América do Norte (Estados Unidos e Canadá) como maior mercado do mundo, em renda e número de espectadores.

A referência à pipoca não é aleatória – a indústria da guloseima está passando pelo seu próprio boom, com uma renda anual em torno de 63 milhões de dólares, apenas com vendas em cinemas.

Ao contrário de sua rival do outro lado do Pacífico, que sempre se manteve à maior distância possível do governo federal e opera por auto-regulamentação, a indústria chinesa é uma invenção direta do governo de Beijing e do Partido Comunista Chinês. Em março deste ano a responsabilidade pelas regulamentações e controle da indústria passaram da extinta Administração Estatal Para Imprensa, Publicações, Rádio, Filme e Televisão para o Departamento de Propaganda do Comitê Central do Partido.

O foco fundamental deste esforço governamental é a solidificação e o crescimento da indústria e do mercado internos – e, por isso, produtores locais têm vários privilégios: a renda obtida com exibição em plataformas e venda de direitos não é taxada; a importação de equipamentos e itens necessários para produção e ausentes na China também não é taxada; empresas de produção, exibição e tecnologias de produção de finalizacão são taxadas no máximo em 15%; o mesmo se aplica à construção de estúdios, cinemas e quaisquer empreendimentos imobiliários destinados à atividade audiovisual.

Recursos de financiamento para os realizadores locais são vastos – dez anos de abertura e incentivo para o cinema criaram gigantes da indústria como o grupo Dalian Wanda, Alibaba, Ten Cent e iQIY. Como suas contrapartidas na Hollywood do começo do século 20, os grandes estúdios chineses são também exibidores, donos das grandes cadeias de multiplex do país. Nos Estados Unidos, este tipo de concentração de poder terminou em 1948, quando o Supremo Tribunal estabeleceu que ser ao mesmo tempo produtor e exibidor configurava um monopólio.

Para os iniciantes, existem fundos de investimento oferecidos pelas Secretarias de Cinema de cada região – segundo Peng Qizhi, Diretora da Secretaria de Cinema da Administração Municipal de Cultura, Rádio, Cinema e Televisão de Xangai, um dos focos do Festival Internacional de Cinema de Xangai é a descoberta e o incentivo de novos realizadores, através de mostras paralelas que funcionam tanto como vitrine quanto como incubadora. “Selecionamos os realizadores com maior potencial”, diz Peng. “Eles tem ao mesmo tempo a oportunidade de mostrar seu trabalho e também recebem apoio financeiros vindo dos nossos fundos de investimento, para realização de seus próximos projetos. Fazemos isso há 10 anos, com enorme sucesso – lançamos vários diretores que estão fazendo sucesso.”

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