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AB InBev planeja IPO em Hong Kong e se volta de vez para a Ásia

O negócio deve dar ao braço asiático da dona de marcas como Stella Artois e Corona um valor de mercado de 63,7 bilhões de dólares após o IPO

AB InBev: empresa planeja levantar até 9,8 bilhões de dólares em uma IPO em Hong Kong, na Ásia (Yves Herman/Reuters)
LA

Lucas Amorim

Publicado em 2 de julho de 2019 às 19h11.

Última atualização em 2 de julho de 2019 às 19h38.

A cervejaria AB InBev , controlada pelo fundo brasileiro 3G , planeja levantar até 9,8 bilhões de dólares em uma abertura de capital (IPO) em Hong Kong, na Ásia. Se os valores forem confirmados, seria o maior IPO do ano — em maio o aplicativo de transportes Uber levantou 8,1 bilhões de dólares em sua estreia na bolsa de Nova York.

O negócio deve dar ao braço asiático da AB InBev, maior cervejaria do planeta e dona de marcas como Stella Artois e Corona, um valor de mercado de 63,7 bilhões de dólares após o IPO. A listagem da Budweiser Ásia deverá ser negociada em Nova York em 11 de julho e as ações serão lançadas em Hong Kong em 19 de julho, mostrou o documento.

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A empresa disse à agência Reuters que o principal mérito de uma listagem em Hong Kong seria a criação de um líder de mercado na região da Ásia-Pacífico, onde as vendas ainda estão crescendo e os consumidores cada vez mais ricos estão bebendo cervejas premium de margem mais elevada. Listada na Ásia, a ABInBev ainda deve acelerar sua estratégia de crescimento por fusões e aquisições.

 

A abertura é simbólica para a importância da Ásia para o futuro da companhia, que tem trabalhado para reduzir uma dívida de mais de 100 bilhões de dólares após a compra da rival SABMiller no final de 2016. O endividamento excessivo é um dos dois grandes problemas da companhia.

O outro é evitar a contaminação de outro negócio controlado pelo 3G, a fabricante de alimentos Kraft Heinz, que sofre para se conectar com os consumidores do século 21 e tem sofrido na bolsa por conta disso. Suas ações caíram 54% em um ano. As ações da AB InBev, por sua vez, depois de cair pela metade entre 2016 e 2018, estão em alta de 40% desde outubro.

Em entrevista concedida em março, o presidente da ABInBev, o brasileiro Carlos Brito, afirmou que a cervejaria não seguirá o colapso da fabricante de alimentos, apesar de compartilhar membros da diretoria e de seguir os mesmos preceitos de gestão, com foco em eficiência e cortes de custos.

Segundo ele, a empresa tem investido pesadamente em marketing e em aquisições como parte de um grande plano de transição para um mercado mais exigente, com produtos artesanais e premium. Entre as principais aquisições da companhia estão cervejarias como a americana Goose Island e a brasileira Colorado.

Outra diferença, segundo executivos do setor, está na atenção dada pela cervejaria ao mercado que mais cresce no mundo, a Ásia. Enquanto a Kraft Heinz tem produtos excessivamente conectados com os hábitos de consumo dos Estados Unidos, a AB InBev mergulhou de cabeça no mercado chinês e de outros países da região para conhecer hábitos de consumo e superar complexidades de logística e distribuição.

Um dos principais responsáveis pelo sucesso asiático da AB InBev era o ex-presidente da companhia na China, o português Miguel Patricio, que assumiu na segunda-feira a presidência mundial da Kraft Heinz. Em entrevista a EXAME em abril, Patricio relembra que, quando chegou à China, em 2008, a companhia perdia volume, mercado e margem. Mas Patricio conseguiu, em quase cinco anos, levar a companhia para a liderança do mercado local.

“Hoje, na China, a marca mais valiosa de cerveja é a Budweiser. Ela não é líder em volume, mas é líder em faturamento, é uma marca premium. É uma marca amada. Acho que é o maior sucesso de uma companhia ocidental no mercado de bens de consumo chinês. A China é o maior exemplo de crescimento orgânico que a AB InBev tem no mundo atualmente. E virou um tremendo berço de melhores práticas”, diz.

Segundo ele, a experiência chinesa deixou claro para a AB InBev que para competir com marcas locais consolidadas é preciso criar marcas amadas pelos consumidores. É um desafio que terá que ser encarado agora em outros mercados da região. Em 2018 o faturamento da cervejaria na China cresceu 8,3%, enquanto o resultado operacional cresceu 20,9% (o faturamento total da empresa avançou 4,8% em 2018, e caiu 0,7% nos Estados Unidos).

Se o futuro está na cerveja premium, a AB InBev deixa claro, com seu IPO em Hong Kong, que a Ásia é o canal.

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