A Vale de Murilo Ferreira já tem uma cara própria?
Seis meses após assumir a presidência da Vale, pelo menos no discurso, Ferreira dá sinais de mudança
Daniela Barbosa
Publicado em 24 de novembro de 2011 às 13h40.
São Paulo – Nesta semana, Murilo Ferreira completou seus primeiros seis meses à frente da Vale . Na época em que assumiu a presidência, muito se falou se o executivo daria continuidade ou não ao legado deixado Roger Agnelli, que, de 2001 a 2010, multiplicou por dez o lucro da mineradora, passando de 3 bilhões de reais para 30 bilhões de reais.
Analistas de mercado ouvidos por EXAME.com afirmam que ainda é muito cedo para se tirar qualquer conclusão sobre a gestão de Ferreira. “Até o momento, não vejo grandes mudanças. Todas as estratégias adotadas por ele já eram mais do que esperadas. O preço do minério permanece alto, o que continua favorecendo a companhia e gerando resultados. Além disso, mineração não é um setor que vai mudar do dia para a noite”, afirmou Pedro Galdi, da SLW Corretora.
Se, na prática, pouca coisa mudou, é certo que, pelo menos no discurso, Ferreira adotou um tom mais conciliador. É sabido que Agnelli caiu ao entrar em rota de colisão com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silv a. A briga foi herdada por sua sucessora, Dilma Rousseff. As declarações pouco açucaradas de Agnelli contra as tentativas de o governo interferir na gestão da Vale acabaram incomodando a Bradespar, principal acionista privado da companhia, e foram fundamentais para a sua queda.
Ao assumir, Ferreira adotou um tom mais conciliador e se dispôs a negociar e rever vários projetos. Se as conversas se transformarão em medidas concretas, é realmente cedo para saber. Veja, a seguir, quatro áreas em que a Vale pode mudar de posição:
Supercargueiros
Apesar do ceticismo do mercado com relação à nova gestão da Vale, Ferreira já deu provas de que pensa, pelo menos em alguns aspectos, bem diferente de seu antecessor. Colocar à venda a frota de supercargueiros – contratados na gestão Agnelli pelo valor de 2,3 bilhões de dólares – é um sinal.
Na época que comprou os supercargueiros, Agnelli foi criticado pelo então atual presidente Lula e acusado de não priorizar o mercado interno para a construção das embarcações, já que os navios foram encomendados na China. O episódio é citado como um dos fatos que ajudaram a fritar Agnelli .
Quando anunciou que colocaria os supercargueiros à venda, a Vale chegou a declarar que não pretendia se tornar uma empresa de logística, e que sua maior preocupação era assegurar que os custos de transporte continuassem competitivos.
Siderurgia
Em um de seus primeiros pronunciamentos como presidente da Vale, Ferreira afirmou abertamente que as autoridades não estavam felizes com as empresas brasileiras que atuam no setor de siderurgia, pois elas não investem em aço e tentam ser apenas mineradoras. Na ocasião, Ferreira afirmou que a Vale começaria a olhar com mais cuidado para este mercado.
Durante a crise econômica global, Lula cobrou publicamente de Agnelli mais investimentos no setor siderúrgico, a fim de equilibrar a balança comercial, uma vez que exportar aço é mais vantajoso financeiramente. O executivo torceu o nariz para as cobranças do então presidente, pois ele defendia que a Vale perderia o foco e a competitividade se voltasse seus esforços para o setor siderúrgico.
A Vale vai começar a priorizar alguns investimentos em siderurgia, mas Ferreira já afirmou que o foco principal da companhia continua sendo a mineração. Atualmente, a Vale tem quatro projetos siderúrgicos em andamento, que totalizam 21 bilhões de dólares.
Conversas com a Petrobras
Uma possível parceria entre a Vale e a Petrobras no setor de fertilizantes chegou a ser cogitada durante a gestão de Agnelli, mas foi suspensa tempos depois. Assim que o executivo foi substituído por Ferreira, as negociações entre as duas companhias foram retomadas.
A mineradora chegou a afirmar que mantém conversas com a Petrobras sobre uma potencial operação envolvendo seus ativos nitrogenados no Complexo Industrial de Araucária, no Paraná.
Mudanças na diretoria
Não há nada mais evidente para mostrar que uma companhia está querendo mudar que a renovação do seu time de diretores.
A primeira delas, no entanto, foi anunciada pela Vale logo após a saída de Agnelli: a substituição de Carla Grasso, diretora de RH e braço direito do ex-presidente da mineradora, por Vânia Somavilla.
Nesta semana, Ferreira propôs ao conselho de administração uma ampla reforma em sua diretoria. Entre os nomes cogitados para sair estão o do diretor de finanças, Guilherme Cavalcanti, do diretor de fertilizantes, Mario Barbosa, e o do diretor de exploração, Eduardo Ledsham. Ele também sugeriu que Humberto Freitas, atual diretor de operações de logística, Galib Chaim, diretor do departamento de projetos de carvão, e Peter Poppings, vice-presidente das operações de metais básicos na região Ásia-Pacífico, sejam os substitutos.
Tito Martins, atual diretor da divisão de metais básicos, assumirá o cargo de diretor de finanças.
Com as mudanças, a Vale quer definir um modelo de operação com papéis e responsabilidades claros em cada unidade de negócios.
Segundo um relatório da corretora do HSBC, a reestruturação faz sentido e os substitutos trazem ampla experiência, mas pode não ser muito bem recebida pelo mercado, que vive um momento de volatilidade.
São Paulo – Nesta semana, Murilo Ferreira completou seus primeiros seis meses à frente da Vale . Na época em que assumiu a presidência, muito se falou se o executivo daria continuidade ou não ao legado deixado Roger Agnelli, que, de 2001 a 2010, multiplicou por dez o lucro da mineradora, passando de 3 bilhões de reais para 30 bilhões de reais.
Analistas de mercado ouvidos por EXAME.com afirmam que ainda é muito cedo para se tirar qualquer conclusão sobre a gestão de Ferreira. “Até o momento, não vejo grandes mudanças. Todas as estratégias adotadas por ele já eram mais do que esperadas. O preço do minério permanece alto, o que continua favorecendo a companhia e gerando resultados. Além disso, mineração não é um setor que vai mudar do dia para a noite”, afirmou Pedro Galdi, da SLW Corretora.
Se, na prática, pouca coisa mudou, é certo que, pelo menos no discurso, Ferreira adotou um tom mais conciliador. É sabido que Agnelli caiu ao entrar em rota de colisão com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silv a. A briga foi herdada por sua sucessora, Dilma Rousseff. As declarações pouco açucaradas de Agnelli contra as tentativas de o governo interferir na gestão da Vale acabaram incomodando a Bradespar, principal acionista privado da companhia, e foram fundamentais para a sua queda.
Ao assumir, Ferreira adotou um tom mais conciliador e se dispôs a negociar e rever vários projetos. Se as conversas se transformarão em medidas concretas, é realmente cedo para saber. Veja, a seguir, quatro áreas em que a Vale pode mudar de posição:
Supercargueiros
Apesar do ceticismo do mercado com relação à nova gestão da Vale, Ferreira já deu provas de que pensa, pelo menos em alguns aspectos, bem diferente de seu antecessor. Colocar à venda a frota de supercargueiros – contratados na gestão Agnelli pelo valor de 2,3 bilhões de dólares – é um sinal.
Na época que comprou os supercargueiros, Agnelli foi criticado pelo então atual presidente Lula e acusado de não priorizar o mercado interno para a construção das embarcações, já que os navios foram encomendados na China. O episódio é citado como um dos fatos que ajudaram a fritar Agnelli .
Quando anunciou que colocaria os supercargueiros à venda, a Vale chegou a declarar que não pretendia se tornar uma empresa de logística, e que sua maior preocupação era assegurar que os custos de transporte continuassem competitivos.
Siderurgia
Em um de seus primeiros pronunciamentos como presidente da Vale, Ferreira afirmou abertamente que as autoridades não estavam felizes com as empresas brasileiras que atuam no setor de siderurgia, pois elas não investem em aço e tentam ser apenas mineradoras. Na ocasião, Ferreira afirmou que a Vale começaria a olhar com mais cuidado para este mercado.
Durante a crise econômica global, Lula cobrou publicamente de Agnelli mais investimentos no setor siderúrgico, a fim de equilibrar a balança comercial, uma vez que exportar aço é mais vantajoso financeiramente. O executivo torceu o nariz para as cobranças do então presidente, pois ele defendia que a Vale perderia o foco e a competitividade se voltasse seus esforços para o setor siderúrgico.
A Vale vai começar a priorizar alguns investimentos em siderurgia, mas Ferreira já afirmou que o foco principal da companhia continua sendo a mineração. Atualmente, a Vale tem quatro projetos siderúrgicos em andamento, que totalizam 21 bilhões de dólares.
Conversas com a Petrobras
Uma possível parceria entre a Vale e a Petrobras no setor de fertilizantes chegou a ser cogitada durante a gestão de Agnelli, mas foi suspensa tempos depois. Assim que o executivo foi substituído por Ferreira, as negociações entre as duas companhias foram retomadas.
A mineradora chegou a afirmar que mantém conversas com a Petrobras sobre uma potencial operação envolvendo seus ativos nitrogenados no Complexo Industrial de Araucária, no Paraná.
Mudanças na diretoria
Não há nada mais evidente para mostrar que uma companhia está querendo mudar que a renovação do seu time de diretores.
A primeira delas, no entanto, foi anunciada pela Vale logo após a saída de Agnelli: a substituição de Carla Grasso, diretora de RH e braço direito do ex-presidente da mineradora, por Vânia Somavilla.
Nesta semana, Ferreira propôs ao conselho de administração uma ampla reforma em sua diretoria. Entre os nomes cogitados para sair estão o do diretor de finanças, Guilherme Cavalcanti, do diretor de fertilizantes, Mario Barbosa, e o do diretor de exploração, Eduardo Ledsham. Ele também sugeriu que Humberto Freitas, atual diretor de operações de logística, Galib Chaim, diretor do departamento de projetos de carvão, e Peter Poppings, vice-presidente das operações de metais básicos na região Ásia-Pacífico, sejam os substitutos.
Tito Martins, atual diretor da divisão de metais básicos, assumirá o cargo de diretor de finanças.
Com as mudanças, a Vale quer definir um modelo de operação com papéis e responsabilidades claros em cada unidade de negócios.
Segundo um relatório da corretora do HSBC, a reestruturação faz sentido e os substitutos trazem ampla experiência, mas pode não ser muito bem recebida pelo mercado, que vive um momento de volatilidade.