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A montanha-russa dos smartphones

Thiago Lavado  É possível que um dos eventos mais frustrantes de lançamento de produtos se transforme num diferencial competitivo? No caso da fabricante de eletrônicos Apple, sim. Na quarta-feira 7, a empresa apresentou ao mundo seu iPhone 7 que, como era esperado, veio sem nenhuma grande inovação. Entre uma câmera melhor aqui e um processador novo ali, […]

LOJA DA APPLE EM BERLIM:   o novo iPhone não emociona, mas é um dos maiores sucessos de pré-venda para a companhia  / Fabrizio Bensch/ Reuters

LOJA DA APPLE EM BERLIM: o novo iPhone não emociona, mas é um dos maiores sucessos de pré-venda para a companhia / Fabrizio Bensch/ Reuters

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Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2016 às 17h17.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h47.

Thiago Lavado 

É possível que um dos eventos mais frustrantes de lançamento de produtos se transforme num diferencial competitivo? No caso da fabricante de eletrônicos Apple, sim. Na quarta-feira 7, a empresa apresentou ao mundo seu iPhone 7 que, como era esperado, veio sem nenhuma grande inovação. Entre uma câmera melhor aqui e um processador novo ali, as maiores mudanças são o fim das entradas de fone de ouvido e a introdução de novos fones que devem custar 1.400 reais no Brasil. As expectativas eram tão baixas que a companhia disse que não informaria os resultados sobre o primeiro final de semana de vendas.

Eis que, uma semana depois, o novo iPhone é visto como uma grande opção no mercado de smartphones. Mais do que mérito da Apple, é demérito da principal concorrente, a sul coreana Samsung. No dia 2 de setembro, a Samsung havia anunciado um recall de seu mais novo lançamento, o Galaxy Note 7, após dezenas de aparelhos explodirem. Mais de 2,5 milhões de aparelhos serão trocados. A sul empresa não noticiou quanto tal recall vai custar, mas analistas estimam em cerca de 1 bilhão de dólares.

A preocupação da Samsung não é à toa. Durante o último final de semana um Galaxy Note 7 explodiu na mão de um garoto de 8 anos em Nova York, deixando queimaduras no corpo do menino. As companhias reguladoras de aviação civil nos Estados Unidos, na Austrália e no Canadá proibiram que o aparelho seja usado em voos domésticos. Sites especializados em dispositivos Android aconselham a todos que compraram o celular na primeira quinzena de setembro a devolverem o aparelho às lojas que compraram. O aparelho ainda não foi lançado no Brasil.

Para a Samsung, é um pesadelo que vai muito além do dinheiro a ser devolvido. Só recentemente a empresa superou dois anos de lançamentos frustrantes e fuga de investidores e acionistas. No início do ano, o bom momento foi bem acima do que o esperado, rendendo à empresa um lucro 14% maior do que no primeiro trimestre de 2015. No segundo balanço do ano, mais boas novas: faturamento de 45,2 bilhões de dólares (aumento de 4%), lucro de 7,2 bilhões de dólares (18% a mais). As ações da Samsung já acumulavam alta de 30% no ano. Foi um alívio depois de o valor de mercado da empresa ter despencado 8 bilhões de dólares em 2015.

O Galaxy Note 7 prometia muito mais que o iPhone 7. O modelo da Samsung introduziu leitor de íris para desbloqueio, sincronicidade com aparelhos de realidade virtual, memória expansível e uma tela especial com a caneta stylus. A recepção do mercado foi melhor que a do iPhone – era, no mínimo, o melhor celular da história da Samsung.

Então explodiu a primeira bateria, e a companhia começou a implodir. Entre os pregões de sexta-feira e terça-feira, as ações da Samsung despencaram 10,7% entre sexta e segunda-feira no mercado coreano – nesta terça, subiram 4,23%, mas a desconfiança não vai terminar tão cedo. A Samsung vale 190 bilhões de dólares.

Para a Apple, os problemas da concorrente não poderiam ter vindo em melhor hora. A Apple vinha, até agora, tendo um ano abaixo das expectativas dos investidores. Embora os números não fossem para entrar em desespero e a empresa ainda continuasse reportando lucros espetaculares — vendeu cerca de 40 milhões de iPhones no segundo trimestre, embolsando 8 bilhões de dólares — os resultados foram piores do que no ano passado. O faturamento em 2016 caiu 14,6%, os lucros caíram 27% e as vendas de iPhone, o principal produto da empresa, foram 15% menores. Foi o suficiente para estremecer a relação que os investidores tinham com a Apple, até então a menina dos olhos do mercado de tecnologia – desde o lançamento do primeiro iPhone, 2007, o valor de mercado da companhia passou de 111,9 bilhões de dólares para 581,3 bilhões, a empresa mais valiosa do mundo.

Embora a Apple não tenha divulgado os resultados do primeiro final de semana de vendas, as companhias de telefonia móvel dos Estados Unidos fizeram isso por ela. A empresa de telecomunicações T-Mobile disse na manhã desta terça-feira que as pré-vendas do iPhone 7 já bateram o recorde de vendas dos primeiros quatro dias para qualquer lançamento da Apple – são quatro vezes maiores que no lançamento do iPhone 6.

Outra companhia telefônica, a Sprint, disse que as pré-vendas dos três primeiros dias foram 375% maiores do que no ano passado, após o lançamento do iPhone 6s. Aparentemente, tem muita gente interessada em um smartphone sem grandes inovações, mas que pelo menos não exploda.

Já a Samsung reinicia ao trabalho de reconstruir a casa. Após aconselhar a todos as 2,5 milhões de pessoas que compraram o Note 7 a desligar o aparelho e voltar às lojas para a troca, a empresa começa a enviar novos modelos, marcados com um “S”, indicando que o celular é seguro. Segundo o responsável da divisão de telefonia da Samsung, Koh Dong-Jin, cerca de 24 celulares a cada um milhão devem apresentar os defeitos na bateria e devem ser substituídos.

A Samsung já anunciou a troca da fabricante original das baterias defeituosas, a subsidiária sul-coreana SDI, pela chinesa Amparex Technology Limited (ATL). A ATL fabricou as baterias dos Note 7 vendidos na China, que vieram com melhores processadores e memória e até então não apresentam problemas. No entanto, a SDI era responsável pelas baterias de 70% de todos os celulares vendidos no mundo até agora.

Uma semana foi o suficiente para mudar o rumo de dois no mercado de tecnologia móvel. Com três meses pela frente até o final do ano, resta ver como as companhias vão lidar com os altos e baixos de um mercado que vem mudando como uma montanha-russa.

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