Negócios

A longa e penosa crise das montadoras chegou ao fim?

As notícias de investimentos colocam uma luz no fim do túnel do setor

Fábrica da Renault: a montadora tem fila de espera para o seu compacto Kwid (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Fábrica da Renault: a montadora tem fila de espera para o seu compacto Kwid (Rodolfo Buhrer/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2017 às 12h36.

Última atualização em 21 de agosto de 2017 às 15h03.

Há algo de novo no combalido mercado das montadoras. A alemã Volkswagen anunciou semana passada um investimento de 2,6 bilhões de reais para a modernização de sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP), que passará a fabricar dois novos modelos: o novo Polo e o inédito sedã Virtus. Dias antes, General Motors e Renault também anunciaram aportes no país – de 1,4 bilhão de reais e 750 milhões de reais, respectivamente. Com quase 5 bilhões de reais em investimentos anunciados apenas este mês, já é possível começar a enxergar o momento da virada do setor?

No acumulado do ano até julho as vendas de veículos avançaram 3,4% na comparação com o mesmo período de 2016, segundo dados da Anfavea, associação que representa as fabricantes do país. Especialistas no setor automotivo garantem que há muito o que percorrer antes de falar em recuperação. Afinal de contas, as vendas de veículos que eram de 3,5 milhões de unidades em 2014, ficaram em 2 milhões em 2016. Uma retração brusca de 30% em dois anos. A capacidade instalada é de quase 5 milhões de unidades.

“Não é fácil se recuperar de uma queda tão grande, ainda mais com a economia influenciada por uma longa crise política”, diz Milad Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria especializada em setor automotivo Jato Dynimics.

Mesmo assim, as notícias de investimentos colocam uma luz no fim do túnel do setor. Afinal, nenhum aporte surte efeito do dia para noite e as montadoras já estão se preparando para os próximos anos, onde esperam que o cenário seja mais favorável.

“Acredito que ainda não dá para falar em retomada. Esses aportes têm a ver com planos já definidos, que visam a necessidade de atualização das linhas de produtos e manutenção da competitividade”, diz David Wong, diretor da consultoria AT Kearney, com foco na indústria automotiva. Para ele, esse é o preço que as montadoras estão pagando para seguir no jogo e apostar mais para frente.

Um estudo da DMI Group, especializada na estruturação e gestão de fundos de private equity, afirma que o cenário com juros elevados, desemprego, endividamento da população e baixa oferta de crédito vai continuar pressionando a indústria automotiva nacional.

No relatório, a consultoria afirma que a previsão é de que o setor só se recupere a partir de 2019. “Mesmo após a aprovação da reforma trabalhista, ainda há grandes dificuldades para o avanço e aprovação das reformas da previdência e tributária, o que aumenta a percepção nos agentes financeiros detentores do capital de que o Brasil ainda é uma incógnita”, afirma em relatório Vicente Koki, Analista-Chefe da DMI Group. “Devido a esses fatores, o setor apresenta-se pouco atrativo”.

Um dia de cada vez

Enquanto isso, a indústria automotiva vai celebrando as pequenas conquistas. Com 440.000 unidades enviadas ao exterior este ano, alta de 55% ante 2016, as exportações são uma grata surpresa. “As montadoras aprenderam que não dá mais para depender apenas do mercado interno. Uma lição dura, mas necessária”, diz Milad. A produção também entra no hall de boas notícias e aumentou 22,4% no acumulado de 2017, motivada principalmente pelas remessas fora do país.

Apesar de fazerem parte de um plano que vislumbra o longo prazo, os investimentos anunciados nos últimos dias também precisam ser levados em consideração e adicionados ao leque mais otimista. Na Volkswagen, o discurso já deixa o pior para trás. “2017 marcará a virada de página da Volkswagen do Brasil”, afirmou o presidente e CEO da Volkswagen do Brasil e América do Sul, David Powels ao divulgar o investimento.

Na Renault, o momento é de celebração, com vendas 7% maiores este ano. O único problema é dar conta de entregar o que já vendeu. A montadora lançou o compacto Kwid, com preços a partir de 29.900 reais, e tem fila de espera de mais de dois meses pelo modelo. O desafio é convencer os consumidores a esperarem – e a companhia já planeja aumentar o ritmo de produção na unidade de São José dos Pinhais (PR). Enquanto isso, a montadora anunciou o aporte de 750 milhões de reais para a construção de uma nova fábrica e para a ampliação da unidade de motores no Paraná.

Já a General Motors, que acumula alta de 10% nas vendas esse ano, vai desembolsar 1,4 bilhão para planejar o sucessor do Onix, o carro mais vendido do Brasil. O aporte em Gravataí (RS) focará na instalação de uma linha de montagem para a nova plataforma modular da marca e ao todo, seis novos modelos serão derivados deste plano de reformulação.

Enquanto as montadoras se preparam para a batalha dos próximos anos, a Anfavea tenta cuidar do momento atual em constantes reuniões com o governo federal. Na pauta, além de incentivos para o setor – especialmente para carros elétricos – permanecem as discussões sobre acordos comercias, como o da Argentina, para estimular as exportações e aumento no volume de financiamentos. O olho pode até estar no futuro, mas a atenção continua no presente.

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