Chocolates: fabricantes de doces estão produzindo suplementos nutricionais com flavanol, um extrato de cacau que afirmam poder melhorar a circulação sanguínea (David Ryder/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 19 de novembro de 2015 às 22h47.
É uma ideia que só o gêmeo maligno de Willy Wonka poderia ter sonhado: chocolate saudável, sem calorias e nada divertido. Surge a pílula de chocolate.
Fabricantes de doces estão produzindo suplementos nutricionais com flavanol, um extrato de cacau que afirmam poder melhorar a circulação sanguínea.
Barry Callebaut AG, a maior fabricante do mundo de chocolate em volume, está planejando fabricar pílulas de flavanol que foram aprovadas pelas autoridades de saúde europeias como um suplemento benéfico para o coração, e Mondelez International Inc. está investigando os benefícios do flavanol para potenciais futuros produtos.
Eles se juntam a Mars Inc., que está pensando em vender uma série de cápsulas e pó de flavanol na Europa e pode pedir a aprovação dos reguladores da região.
A oferta da Mars, um suplemento chamado CocoaVia, está disponível nos EUA desde 2010, e algumas empresas de menor porte lançaram produtos parecidos nos últimos anos.
Em maio, a Mars anunciou um estudo de cinco anos com pesquisadores da Universidade de Harvard para quantificar os benefícios do flavanol à saúde.
Callebaut, que fornece chocolate para o sorvete Magnum da Unilever, diz que vai se juntar ao fabricante francês de suplemento nutricional Naturex SA, fornecendo sementes de cacau para produzir e vender um extrato de flavanol – antioxidante encontrado na planta de cacau.
O extrato vai começar a chegar às lojas no ano que vem, e apesar de que Callebaut e seus parceiros ainda não divulgaram dados de preços, a CocoaVia da Mars custa US$ 45 por 90 pílulas – um suprimento para 30 dias.
“A ciência já está pronta, então chegar ao mercado deve ser rápido, desde que os clientes estejam dispostos”, disse Olivier Rigaud, diretor executivo da Naturex. “Não há necessidade de mais testes científicos ou estudos clínicos”.
Naturex cresceu cerca de 3,6 por cento em Paris, enquanto Barry Callebaut ganhou 2,4 por cento em Zurique.
Os extratos de flavanol entrarão em um mercado de suplementos dietéticos que cresceu 23 por cento, chegando a US$ 51 bilhões nos últimos cinco anos, segundo a Euromonitor.
Os cientistas, porém, alertam que os compradores não deveriam contar com esses produtos para melhorar sua saúde, e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou mais de 100 fabricantes de produtos nutricionais por fraude na venda e comercialização de suplementos alimentares.
“Suplementos têm um apelo ao sentido humano de controle sobre sua própria saúde e ao nosso pensamento mágico de que poderiam fazer bem”, disse Marion Nestle, professora de nutrição na Universidade de Nova York. “Isto não tem nada a ver com ciência. Na verdade, a ciência mostra que os suplementos têm fortes efeitos placebo”.
Em abril, Callebaut se tornou a primeira empresa de chocolate a obter a aprovação da Comissão Europeia para suas reivindicações dos benefícios para a saúde do extrato de flavanol.
Autoridades de segurança alimentar da UE disseram que 200 miligramas de flavonoides de cacau por dia melhoram a circulação por ajudarem na elasticidade dos vasos sanguíneos.
Quatro barras de chocolate
O problema é que para conseguir 200 miligramas de flavanol seria necessário comer duas barras de chocolate escuro, com cerca de 350 calorias e 20 gramas de gordura, ou mais de quatro barras de chocolate ao leite – cerca de 900 calorias e 50 gramas de gordura, de acordo com Mars, a fabricante de doces M&Ms.
Ou, afirma Mars, por cerca de US$ 1,50 é possível conseguir 375 gramas de flavanol nas cápsulas CocoaVia, com 10 calorias e nenhuma gordura.
A Mars não recebeu nenhuma aprovação regulamentar para cápsulas e pós CocoaVia, que têm duas versões: com sabor de frutas ou chocolate escuro para ser misturado em bebidas.
O site da empresa afirma que, tomado diariamente, o flavanol de cacau nos suplementos fortalece o coração melhorando o fluxo de sangue. Mas há um asterisco afirmando que essas declarações não foram avaliadas pela Food and Drug Administration dos EUA e que a CocoaVia não tem como objetivo evitar ou tratar a doença.
No entanto, a Mars diz que as vendas dos produtos triplicaram no ano passado.