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A briga entre Mercado Livre e Correios pelo preço do frete

A nova tabela de preços, com alta de 8% a 51%, contrariou as empresas de comércio eletrônico, que são as principais clientes desse serviço

CORREIOS: empresa acabou com serviço em mais uma tentativa de sair do prejuízo / Lia Lubambo/Arquivo EXAME (Lia Lubambo/Exame)

CORREIOS: empresa acabou com serviço em mais uma tentativa de sair do prejuízo / Lia Lubambo/Arquivo EXAME (Lia Lubambo/Exame)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 8 de março de 2018 às 08h00.

Última atualização em 12 de março de 2018 às 11h16.

São Paulo – Esta semana, passou a valer um novo modelo de cobrança de frete nos Correios, com aumento a partir de 8% no preço. A mudança considera valores diferentes para entregas realizadas dentro de uma mesma cidade, entre capitais ou entre estados. Por conta dessas diferenças, o reajuste pode chegar a 51%.

A nova tabela, que vale para a entrega de encomendas, mas não de cartas, contrariou algumas das maiores empresas de comércio eletrônico do país, que são as principais clientes desse serviço. Encabeçadas pelo Mercado Livre, as companhias se uniram com a hashtag #FreteAbusivoNão.

“Consideramos esse aumento abusivo, porque é acima de qualquer indicador macro de inflação, e antidemocrático, porque prejudica pessoas que dependem do comércio eletrônico”, disse Leandro Soares, diretor do Mercado Envios, divisão logística do Mercado Livre. Com o movimento, o Mercado Livre conseguiu uma liminar suspendendo o aumento.

De acordo com a empresa, o aumento prejudica principalmente moradores das cidades mais distantes, o que impacta na democratização do comércio eletrônico. “Os Correios ignoram o fato de que o Brasil tem mais de 207,6 milhões de habitantes e, desse total, apenas 24% residem nas capitais, segundo levantamento do IBGE divulgado em agosto de 2017”, disse a companhia em comunicado.

O Mercado Envios entrega cerca de 70% das compras feitas pelo marketplace no Brasil em parceria com os Correios e outras transportadoras. A empresa afirmou que, como sua plataforma tem vendedores e compradores de todo o Brasil, a média do aumento no frete será de 29%. A alta é "impossível de absorver", afirmou Soares.

O preço cobrado no Brasil pelos Correios também é maior que em outros países, diz o diretor. Segundo ele, o valor é 42% mais caro do que cobrado na Argentina, 160% superior ao México e 282% ao da Colômbia, países onde o Mercado Envios também atua.

Para a Netshoes, a média do aumento será de 25% a 30%. Num primeiro momento, a companhia prevê subsidiar as entregas, para que nem o vendedor nem o consumidor sintam no bolso o aumento. Mas Graciela Tanaka, diretora de operações da Netshoes, afirma que as companhias de comércio eletrônico pretendem negociar com os Correios uma nova solução.

Dependência

Apesar de terem parcerias com outras transportadoras, as companhias ainda são dependentes dos Correios para uma parcela importante de suas entregas. Apenas a estatal entrega para todas as cidades do Brasil, enquanto outras transportadoras estão concentradas nos grandes centros urbanos. Isso ocorre principalmente porque é caro chegar a certos locais.

"Com milhões de vendedores individuais no Brasil, precisamos dessa capilaridade para nossas entregas", afirma o diretor do Mercado Envios. Em termos de volume, não há outra companhia que possa substituir os Correios, diz ele.

Assim como o Mercado Livre, a Netshoes também atua com outros parceiros, mas depende da estatal para mais de 15% das entregas. “A entrega é nossa única ponta terceirizada e é um componente importante para a percepção da qualidade do nosso serviço”, afirma Tanaka.

Outro lado

Os Correios se defendem afirmando que a mudança é essencial para a saúde financeira da estatal. "Perdíamos margens com preços descolados da realidade do mercado", disse Guilherme Campos, presidente dos Correios.

A mudança começou em 2016, com a simplificação dos modelos de preços. Dos mais de 80 preços diferentes que eram praticados pela companhia, a nova tabela contém apenas oito opções de valores.

Em junho do ano passado, a empresa descontinuou o e-Sedex, serviço de encomenda expressa dos Correios para produtos adquiridos pela internet e com até 15 quilos. "Era um preço muito baixo para um serviço muito rápido, não fazia sentido", disse Campos.

De acordo com ele, os Correios perdem em volume de entrega em mercados mais competitivos como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde há concorrentes mais eficientes.

Por outro lado, perdem em margem financeira em outras praças, mais distantes. Dessa forma, o aumento no valor de frete para regiões mais afastadas serviria para melhorar os ganhos da estatal. "O que a gente pode fazer se mandar uma encomenda para um lugar mais distante, com menos acesso, é mais caro?", diz o presidente.

Além das mudanças de preço, é necessário mudar a mentalidade da empresa. "A cabeça ainda é do tempo do monopólio da entrega de cartas. Hoje, temos que mudar a cabeça para atender o comércio eletrônico, serviço em que competimos com outras empresas", afirmou ele.

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