A ascensão e queda de Eike Batista, em 41 imagens
Do Olimpo do mundo dos negócios à perda do status de bilionário, Eike viu sua riqueza e seu prestígio implodirem em um ano
Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2013 às 13h53.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h31.
São Paulo - Na história do capitalismo brasileiro, nenhum empresário conheceu a glória e a derrocada tão rapidamente, quanto Eike Batista. Em pouco mais de um ano, ele deixou de ser o oitavo homem mais rico do mundo, festejado pela elite mundial dos negócios, para mergulhar em uma crise que o levou, inclusive, para fora do clube dos bilionários. Veja, a seguir, a meteórica trajetória de Eike.
Eike é filho de Eliezer Batista, ex-ministro de Minas e Energia do Brasil e conhecido por presidir a Vale, quando ainda era estatal e se chamava Vale do Rio Doce. Da infância, o empresário lembra com carinho das lições da mãe, Jutta. Para curar sua asma, por exemplo, a mãe o obrigou a aprender a nadar, algo que foi interpretado por ele como uma aula para fortalecer sua força de vontade.
Eliezer Batista com os filhos, Werner, Lars, Eike e Dietrich, na sessão especial do documentário "Eliezer Batista - O Engenheiro do Brasil", em novembro de 2009. Os críticos de Eike afirmam que sua rápida ascensão deveu-se a supostas informações privilegiadas passadas por seu pai, ex-ministro de Minas e Energia e ex-presidente da Vale. Eike sempre negou que fosse favorecido por esse relacionamento.
Eike Batista faturou seus primeiros milhões extraindo ouro no Norte do país. Segundo ele, esta foi a sua maior escola, pois entendeu que um negócio só para de pé, se for "à prova de idiotas", como repetiu várias vezes. Nesta foto, de fevereiro de 1993, Eike era o presidente da Companhia Nacional de Mineração.
Muito brasileiros ouviram falar de Eike, pela primeira vez, como o então marido da atriz Luma de Oliveira. Luma chegou a despertar a fúria das feministas, no Carnaval de 1998, ao desfilar pela escola de samba Tradição com uma coleira com o nome de Eike. Três anos depois, Eike foi retratado nesta foto ao lado da atriz, na festa de lançamento da edição da revista Playboy em que posou nua, na Boate Scotch, em maio de 2001. Luma é a mãe dos filhos mais velhos do empresário, Thor e Olin.
Eike sempre cultivou um gosto pela aventura e pela velocidade. Em janeiro de 2006, o empresário estabeleceu um novo recorde para a travessia Santos-Rio. Com uma lancha de dois motores de 1.800 cavalos, Eike realizou o trajeto em 3 horas e 1 minutos – 30 minutos mais rápido que o recorde anterior. Aqui, ele aparece com o banqueiro Gilberto Sayão, numa lancha esportiva.
Em 24 de julho de 2006, Eike lançava na Bolsa de Valores de São Paulo a sua primeira empresa de capital aberto: a mineradora MMX. O IPO levantou 1,1 bilhão de reais, com os estrangeiros respondendo por 76% do total de investidores. Era o início de uma trajetória meteórica. Nos anos seguintes, Eike abriria o capital de mais quatro empresas.
Em 14 de dezembro de 2007, Eike realizou seu segundo IPO, o da MPX, sua empresa de energia. A operação captou 2,03 bilhões de reais, com 71% dos investidores vindos do exterior. Sua proposta era gerar energia térmelétrica, a partir de reservas de gás. Hoje, é considerada a empresa mais saudável do Grupo EBX. Neste ano, Eike perdeu o controle da MPX para a alemã E.ON e deixou as presidências do conselho de administração e da diretoria.
Em 13 de junho de 2008, chegava à Bovespa a joia da coroa do império de Eike. Tratava-se da OGX, que o empresário sonhava em transformar em uma "mini-Petrobras". Com uma equipe oriunda da estatal, a OGX surpreendeu o mercado com lances agressivos no leilão da ANP para arrematar blocos de exploração. Seu IPO levantou 6,7 bilhões de reais, sendo, até hoje, um dos maiores já feitos no país.
Uma das estratégias de Eike para construir seu grupo foi criar empresas que prestavam serviços entre si. Este é o caso da OSX, concebida para fornecer plataformas e equipamentos para a indústria petrolífera. O motivo era simples: um de seus maiores clientes seria a coirmã OGX. Na época do IPO da OSX, Eike chegou a afirmar que a empresa seria a "Embraer dos Mares". A operação, em 22 de março de 2010, levantou 2,4 bilhões de reais, com os estrangeiros representando 69% dos investidores.
Em fevereiro de 2010, pouco antes do IPO da OSX, Eike Batista participou do tradicional programa de entrevistas do jornalista americano Charlie Rose. Questionado por Rose sobre quanto de riqueza esperava ter ao final dos próximos dez anos, Eike não titubeou e cravou 100 bilhões de dólares. Diante do espanto do apresentador, o empresário apenas disse: "Sim... fazer o que? Estou com sorte". Se alcançada, a cifra o tornaria o homem mais rico do mundo. Na ocasião, Eike era o 61º na lista da Forbes, com 7,5 bilhões de dólares.
A fama e os bilhões que Eike mobilizava o aproximou do poder. Aqui, o empresário participa da recepção do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Hu Jintao, então presidente da China, no Itamaraty, em abril de 2010.
Nos dois anos seguintes à afirmação, no programa de Charlie Rose, de que se tornaria o homem mais rico do mundo, Eike pareceu caminhar para isso. Sua fortuna crescia e, com ela, seu prestígio. Em dezembro de 2011, Eike lançou o livro "O X da Questão", um misto de autobiografia e lições para quem deseja se tornar rico. Suas primeiras edições bateram recordes de venda.
Na última semana de janeiro de 2012, após sucessivos atrasos no cronograma, a OGX finalmente extraiu seu primeiro barril de petróleo. Apesar da pressão, naquele momento, analistas e investidores ainda viam com simpatia as empresas X. A avaliação geral era de que, apesar dos problemas, nenhuma petroleira fora criada tão rapidamente quanto a de Eike.
Em março de 2012, Eike Batista atingia o auge de sua trajetória. A agência de notícias Bloomberg, que acompanha diariamente a variação da fortuna dos mais abonados, o colocava como o oitavo homem mais rico do mundo, com um patrimônio estimado em 34,5 bilhões de dólares.
26 de junho de 2012 ficará marcado, para sempre, como o início da derrocada de Eike Batista. Naquele dia, a OGX divulgou um breve comunicado, recheado de termos técnicos, mas que significava um grande corte na projeção de produção do campo de Tubarão Azul, de 20.000 para 5.000 barris diários. Comandada então por Paulo Mendonça, a empresa chegou a afirmar que os 20.000 barris inicialmente divulgados eram apenas uma análise técnica mal interpretada pela imprensa. No dia seguinte, 27, as ações da OGX abriram o pregão despencando 28%, sinal de que o mercado não se convencera com as explicações. Foi o início da crise de confiança que arrasou os negócios de Eike.
Em 29 de junho, apenas três dias após a OGX rebaixar a previsão de produção de Tubarão Azul, a crise de confiança dos investidores atingira todas as empresas X listadas na bolsa. A contaminação fez com que Eike despencasse de 7º homem mais rico do mundo (pelo ranking da Forbes) para 46º, segundo a revista americana. Sua fortuna era avaliada, então, em 13 bilhões de dólares.
Em outubro de 2012, para reforçar sua confiança nos negócios que criou e estancar a queda na bolsa, Eike anunciou que estava disposto a injetar até 2 bilhões de dólares em duas de suas empresas mais afetadas, a petroleira OGX e o estaleiro OSX. No caso da OGX, a opção de compra, estimada em 1 bilhão de dólares, vence em 30 de abril de 2014.
A forte queda das ações de empresas do Grupo EBX corroeu a fortuna de Eike, a ponto de colocá-lo em uma situação impensável no início de 2012: a de perder a posição de homem mais rico do Brasil. No final de novembro, a Bloomberg estimou seu patrimônio em 18,6 bilhões de dólares, atrás dos 18,9 bilhões de Jorge Paulo Lemann, um dos donos da AB InBev e do Burger King.
Em fevereiro de 2013, a Bloomberg dava uma medida de como a confiança dos investidores em Eike havia evaporado. Segundo a agência, o empresário não figurava mais entre os 100 homens mais ricos do mundo. Seu patrimônio, de acordo com a Bloomberg, estava abaixo de 10 bilhões de dólares. Semanas depois, a Forbes, que mantém sua própria lista de bilionários, ainda o colocava em 100º lugar, mas avaliava que ele havia perdido 2 milhões de dólares por hora, no último ano.
Em março deste ano, Eike contratou o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, como assessor. O objetivo era elaborar um plano de salvação do grupo. O BTG é, também, um dos maiores credores da EBX. Rapidamente, os planos passaram de uma reestruturação para a venda de ativos, a fim de levantar dinheiro para quitar dívidas e tocar alguns projetos.
No final de março, a alemã E.ON, que já era sócia de Eike na MPX, ampliou sua participação na empresa. O negócio envolveu a compra de uma fatia adicional de 24,5% por 1,5 bilhão de reais, além da previsão de injetar mais 1,2 bilhão no negócio. Com isso, a E.ON passou a deter 36,2% da companhia. Dias depois, Eike renunciou à presidência do conselho de administração da MPX e também a seu assento nesta instância decisória. A empresa afirmou que, sem Eike, começa uma nova fase, na qual mudará, inclusive, de nome.
Em abril, a portadora de uma má notícia foi a MMX. A empresa informou que a expansão do projeto de Serra Azul, o seu principal empreendimento, será atrasado em um ano e meio. Os motivos são a desaceleração dos investimentos da mineradora e as dificuldades para obter licenças e linhas de crédito. A expansão, que elevaria a capacidade produtivo para 29 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, estava prevista para ser concluída no segundo semestre de 2014.
Em maio, a OGX finalmente fechou a venda de 40% de dois blocos na bacia de Campos para a petroleira malaia Petronas. O negócio saiu por 850 milhões de dólares, e representa perspectiva de entrada de novos recursos para a combalida empresa de Eike, que se debate entre o crescente endividamento, a necessidade de dinheiro para concluir os projetos e a falta de confiança do mercado, que dificulta acesso ao crédito.
Em meio à crise, Eike pôs à venda um de seus jatos, o Legacy 600, da Embraer, usado para voos pelo Brasil. Com preço de tabela de 26 milhões de dólares, estima-se que o aparelho de Eike, por ser usado, valha agora 14 milhões. Para os voos internacionais, Eike ainda possui um jato Gulfstream G550, cujo preço de tabela é de 60 milhões de dólares.
A crise da OGX, principal empresa de Eike, contaminou a OSX, braço para prestação de serviços para petrolíferas e construção de plataformas do grupo. Em reestruturação, a OSX demitiu 300 funcionários em maio, a fim de desacelerar a construção de seu estaleiro no Porto de Açu, também projetado por Eike.
As medidas para estancar a crise de confiança das empresas de Eike não surtiram efeito. Na tarde de 13 de junho, o valor das ações da OGX ficou abaixo de 1 real pela primeira vez, desde a sua abertura de capital. O mau humor dos investidores foi causado pela divulgação, naquela época, de que Eike havia vendido 70 milhões de ações da OGX no final de maio por 121 milhões de reais. A operação foi interpretada pelos investidores como um sinal de que nem o dono da OGX já confia nela.
Em 16 de junho, a agência de classificação de risco Fitch cristalizou a desconfiança do mercado em uma medida radical: rebaixou a nota de risco da dívida da OGX para CCC. Traduzindo: é a classificação considerada "lixo" pela agência, dada para empresas bem próximas do calote. A Fitch argumentou que tem dúvidas quanto à capacidade de a OGX honrar seus compromissos nos próximos 18 meses. Como era de se esperar, o caso afundou ainda mais as ações da empresa na bolsa, que consolidaram o patamar abaixo de 1 real.
Uma das empresas que estariam à venda por Eike seria a IMX. O braço criado para atuar na área de entretenimento e marketing é sócio, por exemplo, do Rock'n'Rio, criado por Roberto Medina. O principal interessado em comprá-lo seria a concorrente Time for Fun (T4F). O problema é que a IMX teria assustado a empresa, ao pedir 500 milhões de reais pela venda - valor considerado alto demais.
No final de junho, Eike admitiu que negocia a venda das ações da MMX que possui. Em comunicado, a empresa informou que seu controlador avalia desfazer-se dos papéis. Outra possibilidade em estudo é a venda de ativos da mineradora. O mais importante deles, o Porto do Sudeste, é o que mais atrai interessados. Entre eles, estariam BTG Pactual, Glencore, Trafigura e o Mubadala.
Em junho, a LLX comunicou oficialmente que contratou assessores financeiros para avaliar a venda de ativos e possíveis operações societárias - jargões que significam, na prática, que a empresa pode vender bens ou que Eike pode vender sua parte nela. O principal ativo da LLX é o Porto do Sudeste, ainda em construção, no qual o empresário idealizou um polo petroleiro.
Um forte golpe nos planos de recuperação de Eike foi o anúncio, em julho, de que a OGX vai interromper a produção, até 2014, dos poços de Tubarão Azul - os únicos em operação atualmente. A empresa afirmou que não existe tecnologia para explorá-los comercialmente. Sem previsão de gerar receita após a paralisação dos poços, a OGX viu suas ações derreterem na bolsa nos dias seguintes ao comunicado.
No começo de julho, Eike Batista sofreu um duro golpe de seu último aliado. O BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, cancelou uma linha de crédito de 1 bilhão de dólares para o grupo EBX. O dinheiro fazia parte do acordo fechado em março, pelo qual o BTG prestaria assessoria financeira a Eike e o ajudaria a sair do atoleiro. Fontes do banco informaram à imprensa que o cancelamento ocorreu após o acordo ser revisado, mas não forneceram detalhes. Nem o BTG, nem a EBX, se pronunciaram a respeito.
Com a crise destruindo o valor das empresas de Eike, os minoritários também começaram a se articular. Grupos de investidores começaram a ser formados, como a União dos Acionistas Minoritários do Grupo EBX (Unax). Em julho, a Unax informou que estudava pedir o bloqueio dos bens do bilionário, a fim de compensar parte das perdas de quem apostou no grupo.
A discrepância entre as informações divulgadas ao mercado pelas empresas de Eike, e os reais resultados que apresentaram, levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a investigar seus procedimentos. Segundo a agência de notícias Reuters, a autarquia abriu mais de 15 apurações de casos envolvendo o Grupo EBX nos últimos meses.
Em julho, a EBX divulgou um lacônico comunicado, informando que havia resgatado parte dos investimentos que o fundo soberano de Abu Dhabi, o Mubadala, fizera. Em abril de 2012, os árabes injetaram 2 bilhões de dólares na holding de Eike, em troca de uma fatia de 5,63%. Segundo informações que circularam pela imprensa, o Mubadala teria reduzido sua exposição à EBX para 1,5 bilhão de dólares.
O conselho de administração das empresas de Eike costumavam ostentar nomes de peso do cenário econômico e de negócios do Brasil. A crise, porém, levou muitos a se afastarem do empresário. Entre eles, o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, a ex-presidente do STF, Ellen Gracie, e o ex-ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho.
Em meados deste mês, Eike se manifestou pela primeira vez sobre a crise que arrasou sua credibilidade e sua fortuna. Em um artigo publicado nos jornais Valor Econômico e O Globo, o empresário admitiu que falhou e decepcionou muita gente. Ele afirmou, porém, que sempre agiu de boa-fé e assinalou que seu maior erro foi confiar demais em seus colaboradores. No final, disse que ninguém perdeu mais do que ele com tudo isso.
O último e muito simbólico episódio envolvendo Eike ocorreu nesta semana. A agência de notícias Bloomberg, que acompanha diariamente a evolução do patrimônio dos homens mais ricos do mundo, divulgou uma reportagem informando que Eike não é mais um bilionário. Após o acordo com o Mubadala, sua fortuna teria caído para 200 milhões de dólares. Um patamar bem amargo para o homem que sonhou publicamente em ser o mais rico do planeta.
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