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A Apple volta a empolgar com o iPhone

Depois de diversas versões com pouco apelo, Apple surpreende com iPhone X, aparelho que inaugura a categoria dos smartphones de luxo

Tim Cook: evento de lançamento do novo iPhone, no recém-inaugurado Steve Jobs Theater, foi simbólico para a companhia (Stephen Lam/Reuters)

Tim Cook: evento de lançamento do novo iPhone, no recém-inaugurado Steve Jobs Theater, foi simbólico para a companhia (Stephen Lam/Reuters)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 12 de setembro de 2017 às 20h25.

Última atualização em 12 de setembro de 2017 às 21h12.

Cupertino Há pouco mais de dez anos, Steve Jobs, fundador da Apple, subiu ao palco da conferência Macworld, em San Francisco, para anunciar um produto que transformaria a interação entre seres humanos e computadores. “Um iPod, um telefone e um comunicador de internet”, disse Jobs, ao apresentar o iPhone pela primeira vez. E reforçou: “Vocês estão entendendo? Eles não são três aparelhos separados. Trata-se de um único aparelho”.

O que hoje parece um tanto óbvio, na época era uma promissora novidade. Os smartphones já existiam, mas eram pesados, feios e difíceis de usar – um produto voltado a entusiastas. O iPhone quebrou essa regra e estabeleceu um padrão depois seguido pelos concorrentes, especialmente a tela sensível ao toque e a loja de aplicativos.

Na manhã desta terça-feira 12, o sucessor de Jobs, Tim Cook, subiu ao palco do recém-inaugurado Steve Jobs Theater, no Apple Park, nova sede da companhia em Cupertino. O prédio, idealizada por Jobs, morto em 2011, custou 5 bilhões de dólares e levou uma década para ficar pronto. O auditório fica a poucos metros da “nave espacial”, apelido dado ao prédio por seu formato circular.

Com a tradicional empolgação exagerada da plateia de fãs, Cook prestou uma emocionada homenagem a Jobs. Depois, mostrou o novo relógio inteligente Watch, a nova versão da TV e os iPhones 8 e 8 Plus. O que todos aguardavam, no entanto, era o famoso slide “One more thing” (“Mais uma coisa”). Ele surgiu depois de quase duas horas de apresentação e trazia o esperado iPhone X (fala-se iPhone “dez”). “É o maior passo da Apple na liderança tecnológica dos smartphones desde o primeiro iPhone”, disse Tim Cook.

A fala de Cook segue a linha tradicional de autobajulação à companhia, mas traz um dado real: do ponto de vista tecnológico, é o maior avanço da empresa em relação a si e seus concorrentes desde o primeiro iPhone. Fora incrementos pontuais, como uma bateria, um processador e uma tela melhores, o novo aparelho da Apple traz mudanças bruscas de design e de reposicionamento de preço.

De início, ele retoma as bordas arredondadas que marcaram o primeiro filho da série. O aparelho será compatível com carregadores sem fio de outras marcas. O botão “home”, usado para voltar ao menu inicial, foi substituído por um movimento com o dedo para cima na tela. O grande destaque é o Face ID, tecnologia apresentada pela Apple para substituir o leitor de impressão digital para liberar o telefone e autenticar transações. O sistema reconhece a face do usuário por duas câmeras frontais – uma delas com infravermelho. É uma resposta à Samsung, que colocou o reconhecimento facial nos seus telefones Android mais sofisticados, mas com uma tecnologia nada segura. É possível liberar o celular com uma foto do rosto do dono.

No caso do Face ID, nem mesmo máscaras realistas são capazes de destravar o aparelho, o que o torna uma boa ferramenta para autenticar compras online – ao menos é o que garante a Apple. Nem tudo correu bem durante a apresentação. Ao tentar usar pela primeira vez o reconhecimento facial para destravar o telefone, o aparelho não reconheceu o rosto de Craig Federighi, chefe da área de software da Apple. O que parece um pequeno detalhe tem um impacto real no mercado: as ações da Apple sofreram uma leve queda logo depois da gafe, mas se recuperaram até o fim da apresentação. Não chegou a ser algo comparável ao famoso episódio da tela azul do Windows, numa apresentação de Bill Gates com o Windows 98.

Todas essas novidades têm um preço e, no caso do iPhone X, um preço salgado: serão 999 dólares para a versão de 64 GB, a mais barata. É um acréscimo considerável em relação ao iPhone 7 Plus, que começava em 769 dólares. O X também terá um modelo de 256 GB que custará 1.149 dólares. O preço não foi uma novidade, já que muitos rumores tratavam das intenções da Apple de lançar um “iPhone de luxo”. E o mercado já reagia positivamente mesmo antes do anúncio oficial.

O valor das ações da Apple avançou mais de 50% ao longo de 2017 com a expectativa do lançamento de um iPhone que interrompesse o marasmo inovador das versões anteriores. O valor de mercado da empresa chegou nesta terça-feira a 815 bilhões de dólares, bem perto do recorde atingido no dia primeiro de setembro.

O iPhone X inaugura uma nova categoria de aparelho no já saturado mercado de smartphones, voltado a um público mais exigente e que topa pagar mais para ter acesso a uma novidade. Nos Estados Unidos, onde as operadoras parcelam os valores dos aparelhos em planos de 24 meses, a diferença de preço mensal não será drástica. O cenário otimista começou ainda no ano passado, quando a Apple contou com a ajuda da Samsung. Sua principal aposta contra o iPhone, o Galaxy Note 7, literalmente explodia, causando uma crise para a marca e a migração de consumidores.

No último trimestre de 2016, a Apple assumiu temporariamente a liderança no mercado de smartphones pela primeira vez em anos, deixando a rival coreana para trás. Analistas de Wall Street estimam que mais da metade dos donos de iPhones antigos comprarão alguns dos modelos novos. A Apple tem outro reconhecido número que conta sempre a seu favor: apesar de ser a segunda maior vendedora de smartphones do mundo, atrás da Samsung, detém com folga a participação nos lucros. Segundo a empresa de pesquisas Strategic Analytics, a Apple respondeu por quase 80% dos ganhos líquidos entre as fabricantes de smartphone em 2016. Só com o iPhone, a empresa embolsou 44,9 bilhões de dólares, enquanto o lucro de todo o mercado foi de 53,7 bilhões de dólares.

O iPhone X talvez seja um dos grandes responsáveis por esse bom humor do mercado, mas algumas dúvidas ainda pairam sobre o desempenho da companhia num futuro próximo. A principal: o reposicionamento de preço do aparelho, que deve levar a um aumento do lucro em economias maduras, pode afastar clientes de países emergentes, segundo analistas de Wall Street.

O Brasil é um caso importante. Apesar de ser um grande mercado – são 125 milhões de usuários de smartphones – a Apple responde por apenas 8% das vendas no país, segundo a consultoria Forrester. O iPhone X deve começar a ser vendido nos Estados Unidos somente em novembro. Não há previsão de quando ele irá chegar ao Brasil, mas pode-se esperar um preço mínimo de pelo menos 5.000 reais.

No fim de sua apresentação, Phil Schiller, vice-presidente de marketing, disse: “O iPhone X é o futuro dos smartphones. Um futuro que chegará ainda este ano”. A dúvida é se a Apple conseguirá entregar esse futuro em escala mundial.

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