Negócios

A aposta nas parcerias

Fabricar biodiesel a partir do óleo de mamona é apenas um dos novos projetos de Daniel Birmann, que comanda o ressurgimento do grupo Arbi

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Seis anos após ver seu grupo Arbi quase ruir, o empresário Daniel Birmann retorna com investimentos em energia e petróleo. Segundo Birmann, a estratégia é adotar uma política conservadora, atraindo parceiros para os novos projetos. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva concedida a EXAME.

EXAME O que mudou do passado para agora na sua forma de administrar o grupo?

Daniel Birmann Estamos adotando uma postura bastante conservadora, com baixa mobilização de recursos próprios, e sempre tentando atrair parceiros para os diversos projetos, como forma de diluição de riscos. É assim que viemos conduzindo nossas operações e pretendemos manter esta orientação.

EXAME O senhor costumava dizer que queria ter sempre o tacape nas mãos na condução de seus negócios. Isso mudou? O senhor está delegando mais?

Birmann Não é minha esta expressão. Na verdade, sempre tive o hábito de delegar poderes e continuo com a mesma orientação.

EXAME Comenta-se no mercado que o senhor comprou um iate onde passa boa parte do tempo e que acompanha seus negócios em alto mar. O senhor poderia falar um pouco desse seu novo estilo de vida?

Birmann Não possuo nenhum iate. Meu estilo de vida continua o mesmo. A única coisa que mudou foi o nosso endereço. Nossos escritórios vieram para o Leblon.

EXAME O que senhor aprendeu com todo esse processo de sofrer um duro golpe nos negócios e depois dar a volta por cima em grande estilo?

Birmann A todo minuto aprendemos algo sobre o certo e o errado e, ao final, o que conta é o saldo entre acertos e erros.

EXAME Hoje o senhor está atuando fortemente na área de energia. Por que razão escolheu atuar na área elétrica e de petróleo?

Birmann Como sempre, aproveitamos as oportunidades que surgiram.

EXAME Desde de quando o senhor começou a atuar nessas áreas? Como foi esse processo?

Birmann No período em que o país vivia o racionamento, estávamos desenvolvendo um pequeno projeto na área de energia com o objetivo de comercializar a geração distribuída, a partir de geradores existentes e instalados em indústrias e outras unidades comerciais. Naquele momento, tomamos conhecimento da licitação para a contratação de energia emergencial e decidimos apresentar uma proposta na concorrência. Estes contratos terminaram no final deste ano e assim, a partir daqui, estaremos examinando alternativas para alocação de nossos ativos. Já com relação ao petróleo, nossas motivações vêm de muito antes, do início da década de 80, quando tentamos participar dos contratos de risco, prospectando nesta mesma Bacia Potiguar. Naquela época, nossas tentativas foram infrutíferas. Hoje, voltamos com muito mais ímpeto, apoiados em uma legislação mais sólida e que permite aos investidores confiança para alocar capitais de risco em prospecção.

EXAME Como foi a participação do grupo na última rodada de licitação de áreas de petróleo? Poderia falar um pouco dos seus planos para este setor?

Birmann Fizemos a nossa primeira incursão, buscando identificar áreas com elevado potencial, segundo análises técnicas apuradas. Somos uma pequena empresa no setor e, assim, nossos planos futuros dependerão de nosso sucesso em captar investidores que se sintam motivados a acompanhar nossos resultados. Tudo dependerá do sucesso alcançado em nossos primeiros blocos.

EXAME O senhor poderia detalhar seu projeto de ecodiesel?

Birmann Trata-se de um projeto economicamente atraente e de altíssimo impacto social. Estamos trabalhando em sintonia com o governo federal, segundo as linhas do Programa Nacional de Biodiesel. O nosso objetivo, essencialmente, é o de produzir o biodiesel a partir da mamona cultivada no semi-árido nordestino. A Brasil Ecodiesel foi recentemente criada com o objetivo de atuar como holding de um amplo projeto de produção de biodiesel em um modelo verticalizado de produção, que vai do desenvolvimento agrícola de cultivo de seu principal insumo, a mamona, à produção industrial, a qual se pretende integrar ao Programa Nacional de Biodiesel, ora em desenvolvimento sob orientação de grupo de trabalho coordenado pela Casa Civil da Presidência da República.

EXAME O senhor diz que este projeto é de inclusão social. De que forma isto ocorre?

Birmann O projeto proposto consiste, numa primeira fase, na implantação de seis núcleos agrícolas no interior dos estados do Piauí e Ceará, na região do semi-árido nordestino, com o objetivo de produzir mamona em larga escala e extrair seu óleo vegetal por meio de processo industrial, para atender a demanda existente por este produto no mercado externo.

EXAME Por que o senhor resolveu explorar este combustível extraído da mamona?

Birmann A opção pelo cultivo da mamona baseou-se em vários aspectos. Entre eles, por ser uma planta que resiste à seca, cresce na região do semi-árido nordestino, cujas terras possuem um baixo custo de aquisição. A mamona também é a planta oleaginosa que possui o maior percentual de óleo em sua semente. Sua colheita é feita obrigatoriamente de forma manual, com o que o número de empregos gerados por tonelada produzida supera a de qualquer outra oleaginosa, e isso ajudaria justamente a região mais carente de recursos do país, no interior do Nordeste.

EXAME Como vai funcionar?

Birmann O projeto foi formatado em núcleos de produção de 10 000 hectares. Cada núcleo será composto por 16 células com 35 lotes de 18 hectares cada, totalizando 560 lotes por núcleo. Em cada lote, está sendo assentada uma família que manterá relação jurídica com o núcleo através de um contrato de parceria rural com prazo de 120 meses. A produção de cada assentado será entregue ao núcleo, que realizará a extração do óleo e posterior comercialização.

EXAME Como será feito?

Birmann Cada núcleo de produção será responsável pela aquisição e pelo preparo das terras; o loteamento desta em pequenas unidades; o assentamento das famílias com a construção de 560 casas populares, uma para cada família; o preparo para o plantio (sementes, entre outros), além da construção de um núcleo central comunitário com escola, posto médico, escritório de gerenciamento do núcleo, centro cultural e desportivo, unidade de treinamento e qualificação de mão-de-obra, e a unidade industrial onde se dará o esmagamento da baga de mamona para a extração do óleo. Após o assentamento, e até o término dos 120 meses do projeto, será assegurado um rendimento de um salário mínimo por família. Além disso, cada família receberá uma renda adicional que será proporcional à produção obtida em seu lote, sendo estimado um rendimento entre 700 e 800 mensais por família. O recebimento desta renda mínima estará condicionado ao efetivo trabalho no lote com o cumprimento de metas mínimas de produção, a manutenção dos filhos menores na escola, a participação nas reuniões da coletividade e a participação em programas de saúde, educação e treinamento.

EXAME O que acontece após o término dos contratos?

Birmann Ao término dos contratos, os assentados receberão o título de propriedade da terra. Nesta ocasião, o trabalhador rural estará qualificado para a atividade rural, inserido numa atividade produtiva e será proprietário de um lote de terras que faz parte de um núcleo comunitário integrado. O projeto dos núcleos representa uma grande inovação em relação ao que existe hoje no mercado de mamona. Por se basear em agricultura familiar, esta cultura se realiza obrigatoriamente em pequenos lotes, o que faz com que sua organização seja um tanto difícil. Ao criarmos uma relação jurídica entre o assentado e o núcleo, viabilizamos o estabelecimento de metas e objetivos para a produção. Os primeiros seis núcleos propostos consistem na primeira fase do projeto, que visa a implantar 20 núcleos para a produção do óleo de mamona, a fim de fornecer biodiesel em escala.

EXAME Além da área de energia, que outras empresas o senhor incorporou ao grupo nos últimos anos?

Birmann Constituímos a Usinaverde S/A, com o objetivo de otimizar a tecnologia de mineralização de resíduos sólidos orgânicos e de comercializar soluções de elevado conteúdo tecnológico e ambiental para o tratamento de resíduos urbanos, dos resíduos de serviços da saúde e de alguns tipos de resíduos industriais, recuperando o calor gerado no processo, para a geração de energia elétrica ou térmica. Para tanto, a Usinaverde S/A pretende implantar unidades de mineralização em módulos com capacidade para tratamento de 100 toneladas por dia, que terão capacidade de gerar 2 megawatts. O investimento para implantação (100% dos equipamentos de fabricação nacional) e os custos de operação são bastante inferiores aos observados na Europa, USA e Japão para tratamento térmico de resíduos urbanos com geração de energia.

EXAME O senhor agora entrou na área de crédito para pequenas empresas e pessoas físicas. Por que o senhor decidiu atuar nessa área?

Birmann Estamos ingressando nesta área de forma muito tímida, focando em pequenas e médias empresas, procurando diferenciar nossa atuação pela maior comunicação com o cliente, pela compreensão de suas reais necessidades. Nesta linha, firmamos alguns convênios com federações de indústria e agências de desenvolvimento regional, a fim de introduzir o nosso projeto Banco Local, visando maior proximidade com os clientes. Nosso projeto já está implantado no Ceará e em Santa Catarina e pretendemos cobrir novos mercados nesta direção. Com relação ao empréstimo pessoal, estamos gradualmente construindo uma rede de lojas de atendimento - a Servicasch - que já conta com 23 pontos e que tem como meta o total de 30 lojas ainda neste ano. No conjunto, o banco vem seguindo, de forma conservadora, as tendências de mercado, procurando nichos compatíveis com seu tamanho.

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