Negócios

6 casos de motivação que viraram assédio moral

Conheça exemplos do que não se deve fazer na hora de incentivar funcionários a produzir mais

Motivação deve ser bem planejada para não virar assédio (Stock.Xchng)

Motivação deve ser bem planejada para não virar assédio (Stock.Xchng)

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Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2011 às 11h46.

São Paulo – Há pessoas que trabalham melhor sob pressão, que acham que chefe bom é chefe exigente, rígido, que cobra sempre os melhores resultados, mesmo quando não usa muito a educação para fazê-lo. Há outros que acreditam que a brincadeira é a melhor forma de melhorar a produtividade. Mas há gestores que levam essas crenças tão a sério que ultrapassam os limites da motivação e caem no outro extremo, o do assédio moral.

O final para casos desse tipo está longe de ser feliz. Funcionários estressados e insatisfeitos entram na justiça contra suas empregadoras, ganham indenizações e, de quebra, ainda prejudicam a imagem da companhia perante a sociedade. O segredo para evitar que isso aconteça é compreender que as pessoas são diferentes e encaram as situações de forma distinta, afirma o sócio diretor da Motiva Consultoria, Oscar Zabala. Por isso, é importante ter cuidado na hora de pensar em uma estratégia para incentivar os trabalhadores. Confira a seguir alguns exemplos de empresas que exageraram na dose e foram processadas por ex-funcionários insatisfeitos.

Walmart fez ex-diretor rebolar

O caso mais recente de companhia que ultrapassou os limites da motivação e tocou o assédio moral foi o Walmart. Em meados de fevereiro, a maior rede de supermercados do mundo foi condenada a pagar uma indenização de cerca de 140.000 reais a um ex-diretor que disse ter sido coagido a rebolar e entoar o “grito de guerra” da empresa, na abertura e no final de reuniões. Ele diz que quem se negava era levado à frente de todos para rebolar sozinho.

Para o sócio-diretor da Motiva Consultoria, Oscar Zabala, é imprescindível ter em mente que nada pode ser imposto ao empregado. Brincadeiras, cantos, gritos de guerra e outras maneiras usadas para motivar precisam ser optativas e sempre em conjunto, para que a pessoa não se sinta exposta ao ridículo. A empresa afirma que não obriga as pessoas a nada e diz que a função do grito de guerra era descontrair os funcionários. O Walmart prometeu recorrer da decisão, tomada pela 3ª Vara da Justiça do Trabalho de Barueri (SP).

Loja City Lar, no Acre, pregou frases vexatórias nas paredes

Também em nome do cumprimento das metas, a loja de eletrodomésticos City Lar, em Rio Branco, no Acre, também ultrapassou o limite, segundo a Justiça. Para “incentivar” os funcionários a se dedicarem cada vez mais, a loja pregava cartazes nas paredes da sala de reuniões com frases nada amigáveis, como “sou um rasgador de dinheiro”, “sou bola murcha” e “não tenho amor aos meus filhos”.

Processada na Justiça, a empresa alegou que, no início, aqueles cartazes tinham sido afixados pelos próprios vendedores e eram considerados uma brincadeira. Mas, ao institucionalizar a prática, a companhia não teve perdão. Em janeiro deste ano, a empresa foi condenada pela 1ª Vara do Trabalho de Rio Branco a pagar 15.000 reais aos vendedores por danos morais, mas ela ainda pode recorrer da decisão.


Funcionários da AmBev deitavam em caixões

Em fevereiro, a AmBev teve um recurso negado para anular a condenação por assédio moral a um ex-vendedor, que se sentiu lesado pela forma como a empresa “motivava” os funcionários. Segundo ele, quem não atingisse as metas de vendas era obrigado a deitar dentro de um caixão (que representava um profissional morto), era rotulado de incompetente e, às vezes, era representado por ratos e galinhas enforcados na sala de reuniões. A decisão da Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho estipulou uma indenização de 25.000 reais.

Esse caso não foi o único na história da AmBev. Em 2006, a empresa foi condenada pelo Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Norte a pagar 1 milhão de reais por assédio moral coletivo. Na época, os vendedores que ficassem fora das metas tinham que ficar em pé durante as reuniões, dançar na frente dos outros e até usar camisas com apelidos. Se, para uns, isso não passa de uma brincadeira, outros podem ver isso como grave assédio, por isso a companhia precisa ficar atenta para não extrapolar. “Às vezes, uma palavra de apoio, um elogio, é muito mais eficaz do que uma atividade mais lúdica de motivação”, diz o consultor Zabala.

Unibanco classificou funcionários por cor em cartazes

O clima de tensão e competição reinava, em 2008, em uma agência do Unibanco em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Além de chamar os trabalhadores que não atingiam metas de "incompetentes" e "tartarugas", o gerente da agência classificava-os de acordo com sua produtividade. Em um cartaz afixado na parede, as fotos dos empregados eram coladas junto com a cor verde, para quem conseguia cumprir as metas, ou vermelha, para os que não alcançavam os números estabelecidos.

Junto às imagens de seus rostos, eram colocadas ofensas a quem não cumpria os objetivos. Devido aos abusos, o Unibanco foi condenado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região a pagar mais de 50.000 reais a uma funcionária, que também acusou um dos gerentes de assédio sexual, por fazer comentários pejorativos sobre seu corpo e o de outras colegas.


Empresa de bebidas Renosa premia os piores resultados

Em vez de enterrar funcionários pouco produtivos, como fazia a AmBev, a fabricante de bebidas Renosa os coroava. A empresa, engarrafadora da Coca-Cola no Mato Grosso, foi condenada em janeiro deste ano a pagar 300.000 reais a um ex-empregado que alegou ter sofrido danos morais. Isso porque a companhia criou dois troféus inusitados para premiar os trabalhadores com pior desempenho na semana. O Troféu Tartaruga “homenageava” o vendedor com menor resultado no período, mesmo alcançando a meta estipulada. Já o Troféu Lanterna era dado ao coordenador com o menor rendimento.

O consultor Oscar Zabala alerta para o risco de ações como essa terem um efeito negativo no convívio entre funcionários, prolongando sua exposição. “No dia seguinte, os colegas ainda podem zombar da pessoa e aquele mal se perpetua por mais tempo”, diz. O ex-funcionário, que venceu a ação judicial,“ganhou” o Troféu Lanterna por cinco vezes. Dos 300.000 que ele deve receber, 80.000 são referentes aos danos morais, e o restante diz respeito a regras trabalhistas. Em resposta à decisão, a Renosa disse que a premiação era apenas uma forma de motivar e estimular as equipes de vendas, de forma descontraída, mas resolveu suspender a atividade. A companhia também afirmou que já recorreu da sentença.

Diretores da Samsung humilhavam funcionários

Se algumas empresas foram censuradas por fazerem brincadeiras de mau gosto, a Samsung foi condenada pela Justiça por levar a sério demais a necessidade de produzir sempre mais. Em dezembro do ano passado, a empresa foi proibida de humilhar funcionários da fábrica de Campinas, no interior de São Paulo. Uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) denunciou que os chefes coreanos da unidade estavam tratando os funcionários agressivamente, com pouco respeito e de maneira constrangedora, com gritos e palavrões. Na ação, o órgão pediu uma indenização de 20 milhões de reais por danos morais coletivos.

Esse tipo de motivação por pressão acabou provocando abalos emocionais, quadros de depressão e síndrome do pânico em vários empregados da fábrica. Diante desse tratamento, a 8ª Vara do Trabalho de Campinas proibiu, em caráter liminar, a empresa de cometer tais abusos, com pena de 10.000 reais por vítima, em caso de descumprimento. Apesar dos relatos de funcionários sobre os maus-tratos, a Samsung negou os abusos e afirmou que cumpre rigorosamente a legislação.

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