Volodimir Zelensky (Toby Melville/AFP)
Repórter
Publicado em 20 de dezembro de 2025 às 17h34.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou neste sábado que Washington sugeriu a realização das primeiras negociações diretas entre Ucrânia e Rússia em seis meses. O anúncio ocorre enquanto diplomatas se reúnem em Miami, na Flórida, para tentar relançar conversas sobre o fim da guerra.
O enviado russo Kirill Dmitriev confirmou que seguia para Miami, onde já estão representantes ucranianos e europeus, além do enviado especial americano Steve Witkoff e de Jared Kushner, genro do presidente Donald Trump, que atuam como mediadores.
Segundo Zelensky, os Estados Unidos propuseram um formato trilateral — Ucrânia, Rússia e Washington — com possibilidade de participação de representantes europeus. Ele destacou que seria “lógico” manter uma reunião conjunta.
Há mais de um mês, os EUA apresentaram um plano inicial para encerrar o conflito, considerado favorável às demandas do Kremlin. O texto foi revisado após consultas com Kiev, mas os detalhes da nova versão não foram divulgados. De acordo com Zelensky, o documento prevê concessões territoriais da Ucrânia em troca de garantias de segurança ocidentais.
O líder ucraniano reforçou que apenas Washington teria condições de persuadir Moscou a encerrar a guerra e pediu maior pressão sobre o governo russo. “Os Estados Unidos devem deixar claro que, se não houver via diplomática, haverá pressão total”, declarou.
Em publicação no X, Dmitriev escreveu estar “a caminho de Miami”, acompanhando a mensagem com um emoji de pomba da paz e um vídeo de uma praia ensolarada.
Na sexta-feira, Witkoff e Kushner se reuniram com o negociador-chefe da Ucrânia, Rustem Umerov, e representantes da França, Reino Unido e Alemanha. A presença de russos e europeus nesta etapa é vista como avanço em relação às rodadas anteriores, quando os EUA negociaram separadamente com cada lado. Moscou, no entanto, critica a participação dos aliados europeus de Kiev, considerando-a um entrave à paz.
Na véspera das conversas, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou em sua coletiva anual que o fim do conflito depende de Kiev e de seus aliados. “A bola está completamente no campo de nossos rivais ocidentais”, disse.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, ressaltou que Washington não pretende impor um acordo. “Não podemos obrigar a Ucrânia a chegar a um acordo. Não podemos obrigar a Rússia a chegar a um acordo. Eles precisam querer chegar a um acordo”, afirmou.
Apesar das negociações, Putin prometeu seguir com a ofensiva militar e destacou avanços russos após quase quatro anos de guerra. Tropas de Moscou controlam cerca de 19% do território ucraniano e anunciaram neste sábado a tomada de dois vilarejos em Sumi e Donetsk.
No mesmo dia, um bombardeio russo contra o porto de Odessa deixou ao menos oito mortos. Já o serviço de segurança ucraniano (SBU) informou ter destruído dois aviões de combate russos na Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
A invasão em larga escala foi ordenada por Putin em fevereiro de 2022, sob o argumento de “operação militar especial” para desmilitarizar a Ucrânia e conter a expansão da Otan. Kiev e seus aliados europeus classificam a ofensiva como apropriação ilegal de território e o maior conflito em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial.Com informações da AFP