Mundo

Vitória de Milei mostra desejo de mudança; agora, sobram dúvidas sobre o caminho

Argentina será governada por um presidente que prometeu medidas duras para resolver a crise econômica, e agora poderá colocá-las em prática

Apoiadores de Javier Milei celebram vitória em Buenos Aires (Luis Robayo/AFP)

Apoiadores de Javier Milei celebram vitória em Buenos Aires (Luis Robayo/AFP)

Publicado em 19 de novembro de 2023 às 21h26.

Última atualização em 19 de novembro de 2023 às 21h31.

BUENOS AIRES - A mudança venceu na Argentina. Ao menos é o que pensam os argentinos que votaram em Javier Milei nesse domingo, 19.

Em conversa com diversos cidadãos, EXAME se viu diante da mesma narrativa: queremos o cambio, a mudança, seja lá qual for. 

A vitória do "Leão", como mostram as bandeiras nas imediações do Libertador Hotel, no centro de Buenos Aires, serve como instrumento para esse sentimento de frustração com o status quo em um país que vive com uma inflação de 140%, um peso que derrete frente ao dólar e renegociações sem fim com o FMI.

Apesar dos vídeos das redes sociais, Buenos Aires não estava plenamente mobilizada. A EXAME passou pelos principais destinos da cidade de sábado a domingo e não viu sequer uma camiseta ou bandeira fora das aglomerações oficiais nos bunkers dos candidatos. No sábado, o agora lotado Libertador Hotel estava tão vazio e indistinto quanto qualquer dia.

Confirmada a vitória de Milei, se inicia um processo longo de acomodação ao poder. O deputado, que cumpriu apenas um mandato, tem ideias pujantes e polêmicas. Ainda não tem respaldo no Congresso para concretizá-las. Ainda precisará costurar alianças com políticos locais e definir qual será o papel de Patricia Bullrich e de outros aliados do ex-presidente Mauricio Macri, que o apoiou com força no segundo turno. 

Milei, no entanto, chega com forte respaldo das urnas. As pesquisas eleitorais apontavam vantagem apertada de Milei, mas ele ganhou com mais de 11 pontos de vantagem: 55,80% contra 44,19% de Massa, mostravam os dados com 94% das urnas apuradas. 

O deputado teve um desempenho excepcional em Córdoba, segunda província com mais eleitores do país: levou 74% dos votos. Conquistou também a cidade de Buenos Aires, com 57% de preferência, e teve quase um empate na província de Buenos Aires: 49,18% para ele, contra 50,81% para Massa. A província, área mais populosa do país, era considerado uma região muito ligada ao peronismo. 

Também com a vitoria de Milei virão as dúvidas, sobretudo na relação com o Brasil. Fontes próximas ao governo brasileiro que estão na Argentina para acompanhar o processo eleitoral conversaram com EXAME. Ouviram de emissários de Milei que "campanha é campanha", uma sinalização de que poderia haver moderação  daqui para frente. 

Em um sinal claro de que a relação entre os dois países entra em momento complicado, o presidente Lula felicitou o novo presidente sem citar o nome dele. “Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos”, escreveu, em uma rede social. Milei já fez críticas a Lula, por ser de esquerda, e ao Mercosul, que pode entrar em crise se um de seus principais integrantes decidir desprezá-lo.  

Mas, na frente do Libertador Hotel a poucos metros do Obelisco e da Casa Rosada, nada disso importa. Os apoiadores de Milei apostaram na mudança e a conseguiram. Agora, resta saber para onde caminhará essa mudança.

Acompanhe tudo sobre:ArgentinaJavier MileiSergio Massa

Mais de Mundo

Putin sugere 'duelo' de mísseis com os EUA e defende direito de usar armas nucleares na Ucrânia

China está aumentando rapidamente seu arsenal nuclear, alerta Pentágono

Primeiro caso grave de gripe aviária em humanos nos EUA acende alerta

Ao menos 100 norte-coreanos morreram na guerra da Ucrânia, afirma deputado sul-coreano